quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"Marcas do que foi, sonhos que vamos ter"

É mais um ano se passou, chegam pra mim aquelas mensagens todas de Feliz Ano Novo, Saúde, Paz e Prosperidade, todo ano é a mesma coisa. É como se todos os nossos pecados fossem ocultados quando chega essa época e nos reprogramamos para novas empreitadas, como se 365 dias pudessem mudar toda a História da humanidade. Nós prometemos fazer dietas, mudar de emprego, arranjar namorado(a) e que seremos pessoas melhores do fomos no ano que se encerra, enfim, viramos a página. 


Não sei se existe destino, mas o fato é que no ano de 2011, aconteceram coisas em minha vida dignas dos melhores textos de Manoel Carlos na novela das oito, juro que teve momentos em que me senti a própria Helena. Me apaixonei, me desapaixonei, me apaixonei novamente, desistir de casar, arranjei um emprego num lugar horroroso e me surpreendi por que levei até o fim do contrato, em outro tempos teria chutado o "pau da barraca". Tive picos e mais picos de orgasmos intelectuais, falei coisas e escrevi o que nem sabia que era capaz de fazer. 


Recebi elogios, cantadas adoráveis, beijei bocas memoráveis, experimentei o sexo bom, o sexo ruim, li como nunca tinha lido antes, seduzir homens que outrora não imagina ser capaz, acho até que seduzir, também, algumas mulheres. Mas isso não é balanço de final de ano, não fiz promessas de 2010 para 2011 (aliás fiz sim, prometi que iria enricar em 2011, não consegui atingir esse objetivo terei que prolongar a promessa para 2012 (risos)) apenas deixei as coisas acontecerem, fiz aquilo levei sete anos pra aprender a fazer, deixei de me cobrar. 


Arrependimentos tenho muitos, mas acumulei mas saberes do que os desperdicei, isso significa que resolvi encarar meus medos e viver, como nos recomendaram os poetas românticos do XVIII, Carpe Diem. Entrei em crise, saí de crises e acho que essas coisas vão continuar acontecendo por que são essas experiências que fazem a vida valer apena.


Com isso, digo que não precisamos fazer um milhão de promessas na virada do ano, por que nunca cumprimos elas mesmos, basta apenas fazer valer apena, é preciso semear o que se busca, encontrei um amigo, que me disse: "posso até me arrepender, mas pelo menos fiz o que gosto", obrigada Marcelo. 


Resta-me então dizer aos amigos(as) que reaprendam a sonhar, tenha mais fé (seja em vocês mesmos, ou em alguma força sobrenatural), tenham esperança e amem, por que amar energiza, nos faz sentir vivos. Amem qualquer pessoa de qualquer jeito, apenas ame, e não se pergunte o por que desse amor. Só ame. 


Por isso só tenho uma promessa para todos os anos que começam e recomendo ela a todos(as): fazer mais amor do que fiz no ano anterior. 


Eita que meu livro de crônicas com certeza vai sair primeiro do que o cientifico. rsrsrsr


Simone dos Santos Borges

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

12 Motivos para casar com um Historiador « I try but you see, it's hard to explain

12 Motivos para casar com um Historiador « I try but you see, it's hard to explain:

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domingo, 20 de novembro de 2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Será que minha crise tem haver com a crise mundial?

Preciso responder essa pergunta com um sim. Não sei se explicaria direito, mas se eu tentasse entender as relações humanas enquanto um organismo vivo, doente, então, sim, minha crise tem haver com a crise global política, social e econômica que o mundo atravessa.

Uma vez em uma das muitas palestras que assisti, ouvi um professor dizer: "eu só percebi que o mundo, o meu mundo pessoal e particular caiu, quando as torres gêmeas o World Trade Center foram atingidas pelo Talibã", dizia ele, foi quando ele de fato percebeu o fim da Guerra-Fria, o fim do sonho socialista, a vitória tosca do capitalismo, e também, quando ele se perguntou o que é a individualidade, a liberdade?

Até parecia um discurso iluminista. Bom, não sou tão velha assim, talvez sensível demais, mas ainda sou dos poucos que nasceram sob o regime militar no Brasil, sob o signo dos movimentos sociais dos finais dos anos 80, da vitória burguesa nos anos 90 do seculo XX. Ou seja, estou dizendo que nasci numa época de transições, rupturas nos discursos e movimentos politico-sociais, de crises econômicas do tipo rápidas.

Na minha primeira infância se falava em subdesenvolvimento e desenvolvimento, na fase final dela isso mudou passamos a dizer: em desenvolvimento, emergente e desenvolvido. Os países deixaram de ter aquela conotação "senso comum" de território e cada vez mais a ideia de bloco econômico, social e político se tornaram uma realidade. Um homogêneo que cada vez mais fica heterogêneo, individual, particular, ou devo dizer, singular. O nacional, passou a ser multinacional, pluricultural e diverso. Complexo, dificílimo de entender, quanto mais escrever.

Em 1994, eu tinha 10 anos. Porra! Vi o Brasil ser Tetra Campeão do Mundo no futebol, até hoje sinto vontade de chorar quando vejo as cenas, confesso que não sei explicar o por que dessa emoção, nunca entendi, só sei que sinto, resolvi não questionar mais. Foi nesse ano que, também, aconteceu o Plano Real, plano econômico que salvaria o Brasil da crise em que estava afundado, nessa época eu não sabia o que era inflação, só sentia o peso dela, quando queria uma sandália da Barbie, mas o máximo que dava era havaianas de, pasmem, 0,50 centavos, isso no tempo que a elite não valoriza o produto nacional, hoje vai ver o preço de uma havaianas, faz tempo que não compro uma original, só as imitações.

Moeda forte, economia forte, era a mania dos "tomagushi", mini-games, poco-ball, das propagandas e brinquedos mirabolantes da "Estrela", e junto com a novidade tecnológica da internet, surgia FMI, MERCOSUL, ALCA, junto com outras coisas que, também, não entendia, AIDS, Camisinha, sexo, anticoncepcional, ouvia tudo isso, mas não sabia direito o que era por que meus pais tentavam esconder, me levavam pra Igreja, mas esta não conseguiu vencer o "power" televisivo, que conseguiu fazer mais barulho na minha cabeça que a doutrina cristã protestante. Eh! Meus esqueceram de desligar a televisão. Isso me faz pensar na geração atual, o que os pais de hoje fazem para manter longe dos: dedos, olhos e ouvidos a INTERNET território livre de fronteiras? Pois é meu povo, ela superou a TV.

No meu caso a Igreja não venceu, a força da televisão e o barulho que ela fazia era maior, daí para chegar aos livros e (ao demônio) Karl Marx foi um tapa, a dialética, a História Cultural, o hibridismo, as relações liquidas de Bauman. Freud, Lacan, pior do que tudo isso, foi Simone de Beauvouir me mandando emancipar o corpo, aí vieram teorias queer, estudos culturais, marginalidade, e a desgraça a quatro. Enfim, meus pais não foram derrotados de tudo, pois segui um ordenamento bíblico: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", foi isso, meu cérebro ferveu, e, ainda ferve, de ideias. Por isso que escrevo esse blog.

Por um tempo essa ideia de libertação me supriu as necessidades, quando descobrir que não existe verdade e sim verdades, comecei a ter crises identitárias, só percebi ser mulher aos 20 anos, antes dessas leituras a única diferença, pra mim, entre homens e mulheres era: meninas tem vagina, meninos tem pênis. Foi nos portões, porões e salas da academia que me fiz "ser", dotada de existência, deixei e vegetar. Mudei muito quanto individuo no mundo. Isso se chama Alteridade.

Quando olho para trás e vejo quem era, percebo que adentrei a um mundo burguês, capitalista, que até hoje não sei direito do que se trata, vejo aí um monte de gente escrever sobre ele, dizem que ele é ruim, de fato na maior parte das vezes ele é perverso. Nesse caminho de mudanças entendi o que é ser heterossexual e homossexual , ai rompi com mais um pré-conceito, mas, admito tudo muda muito rápido, ainda não sei o que será do século XXI e confesso que não consigo acompanhar o raciocínio dos especialistas que especulam sobre o que será deste século. Ele já chegou pra gente com uma guerra no Oriente Médio, uma crise econômica no setor imobiliário norte americano que desgraça ainda mais quem é pobre aqui no Brasil, um vírus novo, H1N1, e as pessoas começam a reivindicar direitos meios estranhos, como a marcha da maconha no Brasil, será que os especialistas sacaram essa no século passado?

Com tudo estou em uma nova crise, por que com a emancipação feminina esqueceram de me avisar que ser mulher periférica não me dá condições reais de pensar a sociedade que vivo, não tenho competência para isso de acordo com os padrões heteronormativos ainda vigentes no seculo XXI, tento todos os dias numa luta, que já não sei mais contra o que é, me afirmar como mulher e me manter competitiva nesse mercado capitalista que todo mundo estudo, fala, escreve, vive, sente... Que parece estar fora, mas que no organismo vivo destas relações, minha crise acaba, também, sendo a crise "identitária da globalização" no mundo. Não sou apenas eu, pobre mortal que ninguém conhece em crise, acho que tudo esta em crise.

E no bojo de tudo isso se meu pensamento estiver errado, fica ao menos o consolo de saber que alguém pode discordar de mim, de "saber que nada sei", que preciso "duvidar para conhecer", ou ao menos que ainda posso pensar com uma certa liberdade, visto que podem me tirar isso também.

Simone dos Santos Borges
Escrito em 03/11/2011 durante a aula de Política II  do curso de Ciências Sociais da UFBA.

 

sábado, 22 de outubro de 2011

E, quando pregamos a (in)tolerância mesmo?


Estou retomando meus estudos de História das Religiões e confesso que fiquei pasmas com alguns posicionamentos, que ouvi, recentemente, a respeito dos integrantes e adeptos aos cultos "neopentecostais", entendo que estes tem em suas bases de vivência religiosa, uma intolerância gritante aos adeptos dos cultos de matriz africana. Mas, isso não é motivo para devolver-lhes o ódio, ao menos por parte daqueles que se denominam cientistas, pesquisadores, das humanidades.


Entendo, também, que o sentimento religioso as vezes é difícil de explicar. Saber o que se passa na cabeça de um indivíduo que acredita ser filho/a de um Deus que veio a Terra e por eles/as morreu e os salvou, ou nos salvou, é complicado. Saber como as verdades reveladas por um livro o qual eles consideram sagrado, portanto inconteste, é algo que ainda demanda estudos. 


Digo que entender o sentimento da fé, por parte desses grupos, ainda demanda muitos estudos - sejam eles antropológicos, históricos, sociológicos, filosóficos - uma vez que, diante das mazelas sociais que permeiam nossa sociedade, a cura dos diversos males de maneira imediata, através da Teologia da Prosperidade, para miseráveis e solitários tem um impacto histórico-social que ainda não compreendemos, conhecemos ou identificamos. 


Exitem muitos estudo sobre religião, mas em sua maioria eles são "devotados" a compreensão das instituições. Então, preciso dizer que do ponto de vista da instituição tenho duras críticas as igrejas neopentecostais, que alienam, disseminam o ódio, agem de má fé com a falta de instrução dos seus adeptos, em alguns casos, ou pregam uma cura imediata ao mal, que pode ser imaginário ou não. Mas aos adeptos, antes de critica-los preciso entender como acontece a construção do seu ideal de fé, e por que, ou de onde surgi, nessa relação, fiel e dogma, a intolerância, e o ódio ao outro.


Se, enquanto estudiosa, não fizer isso, minha opinião vira senso comum, e acabo também disseminando o ódio e a intolerância, me vejo inclusive iniciando uma "Jihad", com exagero e tudo da minha parte. Entender esse movimento de fé dos neopentecostais é o primeiro passo na minha opinião para disseminar a respeitabilidade religiosa, por que a tolerância é aquilo que não se respeita. 


Simone dos Santos Borges  


         

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O que quero ganhar neste Natal?

Uns dias atrás coloquei essa fota no meu facebook e disse que quero um desses no Natal embrulhado pra presente. Várias amigas se mostraram solidárias, mas é difícil conseguir alguém que não se encaixa nos padrões normativos de beleza, imagine um dentro dos padrões, como o Jensen Ackles  (LINDO! ADOGO! RSRSR).

No post anterior a este expus uma situação que venho vivendo por volta de uns quatro meses, e ele bombou, tive a terceira maior quantidade de acessos desde que criei este blog e me ocorreu um insght, como diria Caetano Veloso "todo mundo quer saber com você se deita, nada pode prosperar". Afinal por que esse interesse das pessoas pelo sexo, sobretudo do sexo alheio? É só o prazer de querer saber, ou talvez a ânsia de realizar-se através das realizações dos outros? Ou apenas a curiosidade de algo que é ao mesmo tempo público e privado (ainda tabu)?

Percebo que ao falarmos de sexo, ainda hoje, causa certos constrangimentos, por exemplo, me referir um dia desses, a minha relação sexual com um dado afer, que não vem ao caso dizer quem é, que iria nos encontrarmos pra dar uma "cruzadinha". Causou-se um espanto geral.
- Nossa! Olha como ela fala?
- Menina, você é tão engraçada as vezes.
- Simone, você é uma mocinha. Mocinhas não falam essas coisas (e as vezes não pode nem fazer).

São algumas das coisas que escuto, quando falo que "vou ali cruzar" (rsrsr). O sexo é tão instigante, tão fascinante, tão delicioso que não tem palavras pra descrever a sensação que ele nos causa, principalmente quando estamos apaixonados. Por isso, se tornou proibido, pecaminoso, sujo, vedado sentir, falar e as vezes até escrever, juro que tenho a sensação que é durante o sexo que realmente sentimos a liberdade em sua plenitude. Fui assistir ao filme "todo mundo tem problemas sexuais" e me dei conta do quanto as pessoas são bobas, quando o quesito é felicidade, admitir ser pegador é moda, mas admitir que ama, que gosta, que quer ficar com a pessoa é démodé, inovar no sexo então e se permitir experimentar, conhecer o corpo e deixar que ele se liberte como fazem os animais que vivem sem regras na natureza e apenas seguem seus instintos é quase que uma aberração.

Mas a verdade é que nunca vi tantas pessoas sozinhas como vejo hoje, das minhas amigas somente três tem parceiros/as oficiais e estão naquilo que podemos chamar de união estável. Os outros dizem não querer, que estão bem, mas penso que vivem procurando alguém, sempre me perguntam quando vamos sair para aquela balada, dá uma paquerada, e quem sabe até conseguir arranjar alguém pra uma frívola relação a dois, ou seja, dá aquela "cruzadinha" descompromissada pra amenizar a solidão.

Amemos-nos senhoras e senhores, é um mandamento bíblico.

Simone dos Santos Borges  
     

sábado, 20 de agosto de 2011

"Ocupamos um lugar no espaço e o tempo nos habita" José M. Catharino

Academia Real de História Portuguesa
O texto a seguir é fruto de uma das melhores épocas da minha formação de Historiadora, e deixo ele aqui como uma homenagem aos meus amigos/as historiadores/as pelo seu dia: 19 de Agosto.

"Quando este texto foi pensado, ele visava a eleição do C.A. de História Carlos Marighela, mas hoje com a cabeça calma e as leituras feitas da vida acadêmica na UCSAL este documento serve como um desabafo e um incentivo aos meus colegas de História. Há quatro anos, quando do meu ingresso na universidade, eu vi e vivi, um curso ativo politicamente, com garra e sem medo de tomar posições ou de defendê-las.

Hoje o que vejo são todos reclamando que precisa mudar, que precisa voltar a ser como antes, mas ninguém se mexe ou se mobiliza, a nova onda dos estudantes de História é boicotar e boicotar, literalmente, vê o circo pegando fogo, como se diz no popular. Hoje (15/08/2008) me  fizeram a seguinte pergunta: Para que estudar História? Com que objetivo? Repasso esta pergunta aos meus nobres colegas.

Estudar História para permanecer no campo do discurso é muito fácil, esperar que o colega tome a iniciativa mais ainda. Tomar a dianteira e ser pioneiro é para os corajosos, sei que vocês meus amigos são assim, Corajosos, por isso estudam História. Li um artigo certa vez que falava sobre a motivação do/a historiador/a, de onde ela vem? A  resposta foi o mais simples possível, sem academicismos, CURIOSIDADE, é isso que nos move, inquieta, angustia, nos faz querer saber, conhecer, entender, perceber, representar e o mais importante verbo dessa lista, defender.

Então se é isso que nos faz sonhar sermos historiadores/as, não quero cursar História para ficar nas criticas vãs, infundadas, ou INLUTADAS, quero fazer História para ser uma agente dela, ser uma atriz da memória, alguém pra ser lembrada ainda que como coadjuvante, pois, é isso que significa História para mim:; MEMÓRIA. Memória histórica que registramos nos artigos, nos livros, na oralidade seja ela marxista, estruturalista, culturalista, nova historista, pós-moderna, ou simplesmente pós...

Faço minha as palavras de Antonio Gramisci não quero me fazer de mártir ou de herói. Sou apenas um homem, que vive de acordo com suas próprias convicções e não as renega por nada ao mundo.Por acreditar que devemos ser assim, destemidos, é que escrevo esse manifesto. Vamos esquecer as politicagens existentes no nosso curso e pela primeira vez nos unirmos enquanto futuros historiadores/as. Que se danem as correntes, por que elas nos aprisionam, são correntes. Sejamos sujeitos sociais, agentes transformadores.

É hora de retomar os sonhos de outrora de mudar o mundo e mudar os rumos da apatia, do descaso e da  falacia que o nosso curso tomou, vamos ao debate, ao embate, ao baba dos fins de semana, as calouradas calorosas, a receptividade, as conversas fiadas que resultam nas melhores aulas e discussões historiográficas do Omolú, PHD e Jambeiro.

Amigos/as, convoco vocês a discutirem os rumos que o curso de História UCSAL tomou, pois se ele esta ficando ruim, chato, de péssima qualidade, em parte, foi por que nos deixamos isso acontecer por ficarmos olhando a história passar como meros espectadores ao invés de nos colocarmos enquanto agentes dela. Se queremos aula de qualidade façamos nosso papel de estudantes e vamos para a sala de aula exigi-la. Se nossos professores são "anti-didáticos" vamos ajudá-los: lendo, provocando-os, incitando-os, afinal recorremos a nossa herança burguesa e estamos pagando para obter luz, sejamos iluministas então, e rompamos com os paradigmas pragmáticos que nos foram impostos, façamos a nossa revolução intelectual e Renasçamos.


Recorramos a E. P. Tompsom e A Miséria da Teoria, que pratica sem teoria de nada vale, assim também, como teoria sem pratica é vazio, ambas precisam caminhar juntas, então vamos parar de dizer que somos apolíticos, pois somos políticos em nossa essência, já dizia Aristóteles. Se somos sujeitos políticos então vamos exercer isso e começar a agir, vamos dar os primeiros passos, pois não estamos perdidos. Ao contrário, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender (Rosa de Luxemburgo)"

Simone dos santos Borges
15 de agosto de 2008

Vejo agora o quanto sou / era / fui / tento ser/ sei lá romântica. O curso de História UCSAL, ao que soube recentemente dá seus últimos suspiros, os grandes mestres saíram, não forma mais turmas gigantescas de 70/60 alunos/as como quando eu entrei. Mas enfim as coisas mudam, precisam mudar. Espero que meus amigos/as historiadores/as não deixem esse romantismo tosco morrer.

Feliz dia dos Historiadores e Historiadoras a tod@s.

Beijos.  

sábado, 23 de julho de 2011

Como é difícil tomar decisões importantes.

"Com um grande poder sempre vem uma grande responsabilidade" já dizia o tio do homem aranha, mas quando nos vemos em uma "sinuca de bico", entre a responsabilidade com o outro e a responsabilidade com nós mesmos, nossos limites, nosso discurso, pois, até que ponto minha pratica tem que condizer com meu discurso? Aprendi "que não é a consciência que define o ser, mas o ser quem define a consciência". E é nessa certeza que venho levando a vida. 

Bom, já faz um tempo que pesam sobre mim as responsabilidades da adultez, sustentar a casa e a si, não são tarefas fáceis, as vezes gostaria de ter ou levar a vida de, alguns, amigos/as mais jovens, onde seu dinheiro é apenas pra tomar aquela cervejinha e ir ao cineminha com a pessoa que "esta afim". Esperar as contas chegarem, pagar o cartão de credito, fazer as somas do quanto se deve e quanto se tem pra pagar, quando o orçamento do mês extrapola, você fica com a mão na cabeça, meu Deus o que faço agora? E no meio desse conflito você entra no primeiro emprego (ou esparro) que te oferecem, e vai trabalhar num lugar em que a gestão pensa que a profissão professor/educador é serviço voluntario. 

As dívidas aumentam, seu salário não é pago, dentro daquilo que foi estabelecido no contrato que você leu cada linha, pra saber onde estava se metendo, e as pessoas que deveriam junto com você lutar para mudar, ou melhor, ter a garantia de que seus direitos estarão sendo executados dentro do que fora estabelecido, olham pra você e proferem a famigerada frase: "Minha filha dê "Graças a Deus", é assim mesmo, já ficamos oito meses sem salário, agora tá até bom". Saio de lá me perguntado que porra Deus tem haver com isso tudo? Que raio de conformismo é esse? Mas, o pior de todos os comentários é: " Ah! Eu não tenho esse problema, meu marido me sustenta". 

Quer dizer então que a profissão professor/educador é diletantismo de dondoca que não tem o que fazer? Puta que pariu, aí me perguntam, me dizem, que eu execute projetos mirabolantes de educação, onde o único objetivo perceptível é: "Vocês fingem que aprendem, eu fingo que trabalho e assim mantemos o ciclo vicioso de culpar o/a aluno/a pelo seu fracasso, até por que "eu" professor/a já assinei o meu, quando escolhi uma profissão, por incompetência de minha parte, uma vez que não fui corajosa/o o suficiente pra me arriscar e fazer aquilo que eu deveras queria ter feito". 

Vocês podem não esta entendo, uma vez que esse texto é uma indireta/direta, a pessoas e lugares de foro intimo que por medida de segurança, a minha é claro, não dá pra ficar aqui falando de nomes, datas e lugares como a história factual me exige. Graças a Deus, dialogo com História Social e Cultural e não preciso ficar gravando ou me preocupando com esses heroísmos, uma vez que essas teorias da história se preocupam em dar voz aos marginais. 

Enfim, onde a educação desse país vai parar? Juro a vocês que não sei, eu sei onde quero parar. E sei mais do que qualquer outra pessoa, o quanto meu caminho é difícil, tendo em vista que nasci com alguns "defeitos", são eles: sou mulher, sou preta e pobre, e piorei minha situação quando me letrei, uma vez que como minha colega que se sustenta pelo marido, as mulheres que são letradas, iguais a mim, não tem essa sorte, pois os homens nos temem. Já que nossa sociedade esquizofrênica, ainda tem em mente que a mulher não nasceu para pensar e tomar decisões, isso é coisa de homem. Daí minha nobre colega dondoca, achar que a profissão professora é coisa de quem precisa ter uma ocupação pra não ser ociosa e ficar gorda quem nem uma porca em casa, enquanto o maridinho, burro de carga, trepa e gasta o dinheiro do leite dos meninos, com uma amante gostosa.

É de "pirar o cabeção". Acho que por isso, vou seguir o meu lema, ou melhor, o lema de Karl Marx, "não é consciência quem define o ser, mas, sim, o ser quem define a consciência" e retomar as rédeas da minha vida, me afirmando enquanto agente social transformador, da realidade em que estou inserida, exercendo meu direito a cidadania de maneira plena, por que, preciso, muito mas do que estar viva, me sentir VIVA.  


Simone dos Santos Borges      

terça-feira, 19 de julho de 2011

Afinal, qual é o papel do Professor/a?


Esse discurso bombou na internet um dia desses que rendeu até ibope no programa do Faustão. 
Coloquei ele na abertura desse artigo por que é necessário repensar, analisar e debater essa fala. Também coloco esta fala, de Amanda Gurgel, associada com algumas observações que faço, do meu cotidiano profissional, onde percebo que muito se cobra dessa categoria, onde seus profissionais são tidos, ou se tem, como seres perfeitos, incapazes ao erro ou ao fracasso, uma vez que a frase que mais ouço nos últimos dois meses é: "Esses meninos/as não querem nada".

Me pergunto todos os dias, por que e para que me tornei professora? Qual o meu objetivo nesta profissão? Uma vez que sempre soube que não obteria riquezas com ela. Nesse sentido, passo "a bola" na tentativa de obter uma resposta plausível, a pergunta titulo do artigo, para meu nobres colegas de profissão. 

Sei que as demandas salariais da profissão urgem ser resolvidas, é preciso pensar nos planos de carreira, que ainda não vejo saírem do papel, aliás, é preciso que alguém explique, a mim, e aos jovens professores e professoras desse país, que saem da universidade sem saber o que é isso. Que entram em um sistema já implantado, funcionando a todo vapor e que todos/as que lá estão, acha que você já sabe como funciona.

Lhe cobram preenchimento de cadernetas, aplicação de provas e testes, projetos mirabolantes e inovadores, dizem que construtivistas, mas que Vigotisky, Piaget e Walon, passam muito longe dessa construção. É com conteúdo batido, desinteressante, e na maioria das vezes descartável, para um aluno ou aluna, que vive em condições desumanas de sobrevivência, que vamos para as salas de aula.

Sou professora de história, e na maioria das vezes querem que, eu, e meus colegas, falemos dos problemas dos EUA, que lhes contemos a história da Europa, e como fomos por eles civilizados, até por que é só isso que aparece nos livros didáticos, e quando se trata de Brasil, é a história do Sul e Sudeste em supremacia esmagadora que aparece, enquanto ao Nordeste, ficam apenas alguns boxes e parágrafos, sem comentários as regiões Centro-Oeste e Norte, que não vi nada sobre eles nem na graduação.

Ah! Não posso deixar de falar sobre a lei 11.645/2008 onde a história da África e cultura afro-ameríndia, juntamente, com os demais excluídos da história da humanidade entram, ora como projeto, ora como uma disciplina específica, mas que ninguém sabe como aplicar tais conteúdos. E fica tudo no final das contas folcloresco, onde para uns esta sendo feita a inclusão, mas, sempre me pergunto, inclusão de quê?

Eis algumas falas de Amanda Gurgel, que me ocupam a mente e trazem a ela um turbilhão de pensamentos...

"Em nenhum momento, em nenhum governo a Educação foi prioridade", concordo, e atire a primeira pedra, quem acha que ela e os que assim pensam estão errados. É preciso entender esse discurso, para além da obviedade que ele trás, afinal de contas, que governo, de um país corrupto como nosso, que institucionalizou o patrimonialismo e os laços compulsórios do patriarcado colonial, como diria Raymundo Faoro, em os Donos do Poder, vai querer uma população com capacidade crítica para o exercício de sua cidadania de maneira plena, como roga os PCN's - Parâmetros Curriculares Nacional e PNE - Plano Nacional de Educação, o qual ainda tramita para aprovação no Congresso. Aliás, é bom ficar claro, que a maioria dos brasileiros e brasileiras tem a instituição publica como algo que "é de graça", e se não é "meu" posso avacalhar, então que escola publica queremos? Como diria Henri Walon "a Sociedade que se quer passa pelo projeto de Educação que se forja". 

Então, governos e governantes, encaram "a condição precária da educação como fatalidade". São um bando de coitados, meninos e meninas, descendentes de ex-escravos das senzalas dos engenhos de cana-de-açúcar e fazendas de café, desses senhores, que compõem o publico alvo das escolas mantidas pelo Estado brasileiro, onde uns acreditam que com "pão e circo" controla-se essa massa amorfa da sociedade. Incutem na cabeça da "estupida" emergente classe média brasileira que "sou eu a redentora do país", então é preciso que nós professores/as respondamos a ela: "não posso, não tenho condições". E por favor, "parem de assossiar qualidade de Educação com professor em sala de aula", por que, além das condições precárias de atuação deste profissional, que na maioria das vezes só tem uma mísera televisão, cuspe e giz, como recurso para tentar o milagre do diferencial de mudança do discurso batido e insuficiente, para atender as inquietudes de uma população que de amorfa só tem os recursos financeiros que parecem se estagnar, entra governo e saí governo, entra programa social e saí programa social, e nada saí do lugar. 

Somos nós professores e professoras conscientes, de que temos uma profissão que envolve responsabilidade social, o que muito difere de trabalho voluntario, como algumas prefeituras e coordenadores de equipes de educação entendem, que lhes pedimos: "paciência, não aguentamos mais esse discurso" "pedimos respeito" uma vez que não somos "nós... os responsáveis pelo caos".

É preciso também lembra-los/as que a falta de interesse dos nossos/as aluno/as é por que "não temos recursos" para uma aula dinâmica, interativa, construtiva, onde a sapiência seja prioridade, uma vez que, também, é necessário rever o currículo e repensar a autonomia das escolas e do fazer docente, pois, temos a consciência de que os problemas que envolvem a educação brasileira "são... questões mais complexas" e históricas que não se resolverão, infelizmente, em uma década. 

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social (em formação).
Professora de História da Rede Municipal de Candeias - BA
     

domingo, 3 de julho de 2011

A cidade me encanta, me motiva, me seduz...

Passei tanto tempo me ocupando com as coisas que eu não queria estudar, como diz uma amiga minha, que esqueci de observar aquilo que de fato me seduz. Precisei de uma graduação e meia, associada a pós-graduação, para perceber o quanto a cidade me causa esse efeito de sedução. Confesso que adoro andar de ônibus, por que, nele posso ver a cidade se revelando diante dos meus olhos, nas mais diversas dinâmicas de relações histórico-sociais. É o camelô que merca seus produtos da maneira mais irreverente, é a senhora sentada no banco da praça comendo pão e dando os farelos aos pombos, os vovôs do dominó na esquina, os moleques jogando bola, ou simplesmente falando que pegou aquela menina, a "ninha" que passa em direção a escola, trabalho ou cursinho, o vai e vem dos carros numa sintonia quase que computadorizada pela própria mecanização das ações humanas.

Você deve estar se perguntado: e dá para ver tudo isso do ônibus? Sim, e muito mais. Tenho que admitir, odeio engarrafamento e congestionamento (descobrir nas minhas aulas de direção que são coisas distintas), só hoje sei que não é por conta da sensação de perda de tempo, do estresse dos motoristas, loucos, que ficam buzinando como se a rua fosse só deles, ou daquele cheiro horroroso de combustível queimando. Odeio congestionamento por que eles impendem de ver a cidade se revelar, mostrar-se diante dos olhos da gente viva.


Conheço poucas cidades, assim como, menos ainda de suas histórias, mas adoro ficar horas olhando os prédios que nos mostram e nos escondem em suas alcovas, quando andamos despretensiosamente pelas ruas da cidade. Como moro em cidade histórica, o novo e o velho que se imísquem no vai e vem da "pós-modernidade", com as pessoas gritando, brigando, xingando, em meio a praticas religiosas que atendem a ordem de todos os credos, ou ainda que literalmente se amam nas paredes de uma arquitetura ao mesmo tempo bagunçada, colorida e harmoniosa, possível de perceber apenas da janela do ônibus, se o trânsito estiver livre, quando ele saí de um beco, entra numa avenida ou numa rua de grande movimento.
E não pensem que esse encantamento é só com as cidades grandes, metrópoles e megalópolis, pois, acho lindas as cidades do interior, quando aos finais de tarde e domingos as pessoas se reúnem em frente a praça da Igreja, por que, toda cidade pequena tem uma praça na frente da Igreja, ou vice-versa, para falar mal da vida alheia, informar sobre quem tá grávida, quem casou, quem descasou, quem fugiu com o marido/esposa de quem, enquanto a feira esta sendo montada, os produtores da região estão chegando e a cidade vai ficando naquele alvoroço, isso, sem esquecer do brega, por que tem que ter a "lamparina", lugarzinho pra o "rala cocha", pro furdunço da paquera e dos arranjos amorosos.
Isso tudo me faz perceber o quanto a cidade é viva, e ela nos diz isso o tempo todo em suas singularidades, mais ainda não aprendemos a preservar, e sobretudo entender esse patrimônio, pois, como ela é um bem público só a tratamos bem quando nos convêm. Agora sei por que quero estudar as cidades.


Simone dos Santos Borges        

sábado, 2 de julho de 2011

"Cultura Brasileira: Reconhecimento e Manifestações"

"Esse texto foi apresentado na mesa redonda intitulada acima, no colégio Apoio de Vilas do Atlântico, sob mediação da professora Mari Lima aos alunos do 2º Ano do ensino médio."


Acultura é um fenômeno que se dá através de relações histórico-sociais, que vão muito além dos laços consanguíneos e familiares. Por isso, o meio geográfico e os fatores biológicos, até podem influenciar a cultura, mas não são seus fatores determinantes, como propuseram alguns autores. A cultura é um fenômeno cerebral, uma vez que, é o sentido que a razão dá as nossas ações, que elas passam a integrar o fenômeno cultural.


Dessa maneira, por mais que a cultura seja adquirida por viés mercadológico, ela esta em constante transformação, o que estou tentando dizer, é que o sujeito/indivíduo introjeta um aspecto de determinado movimento cultural e lança para a sociedade de maneira diferente de quando adquirida, é o que Stuart Hall chama de "tradução" da cultura.


Pensar a Cultura através de um espiral circular não estático, passível de transformação, permite entender com mais facilidade que "não há possibilidade de se pensar a cultura de forma unificada num espaço territorial com a extensão do Brasil", uma vez que este território é composto por diversos sujeitos, que se autodefinem, é necessário pensar na multiplicidade de povos e representações sociais que formam e constituem o que se define como brasileiro.


Um exemplo disso, é a ideia de baianidade construída pela mídia e pela indústria cultural. Quando se pensa em Bahia, se pensa única e exclusivamente nas dinâmicas sociais que perpassam Salvador, é o axe music, o candomblé, o carnaval de trio elétrico, o azeite de dendê, a capoeira como se estes fossem elementos culturais cotidianos de todos os soteropolitanos, ou ainda do todos os baianos. Mas, se olharmos as outras dinâmicas sociais do mesmo estado com um pouco mais de cuidado, perceberemos que o que é atribuído como "ser baiano" não se aplica a essas realidades.


A história a pouco tempo passou a se ocupar das relações sociais através do viés cultural, foi somente nos finais dos século XX que os/as historiadores/as passaram a entender as dinâmicas abordadas no parágrafo anterior na tentativa de explicar, refletir e problematizar por que, neste caso específico, Bahia e Brasil possui uma cultura tão diversificada de fenômenos, por vezes no mesmo território. É necessário perceber que a ideia de cultura brasileira foi politicamente construída, nos primeiros anos de república quando se pensava em construir a nação, quando o Estado pergunta a seus intelectuais quem são os brasileiros ou ainda o que é cultura brasileira? Há uma hierarquização da mesma em relação aquilo que é erudito, pertencente a elite, e aquilo que é popular que é tido muitos vezes como ruim ou de baixa de cultura, que não serve para representar o país. Como se elite também não fosse povo!


Um país que tem enquanto matrizes étnicas elementos indígenas variados, africanos variados, europeus variados é preponderante pensar numa cultura múltipla, pois dizer que o Brasil não tem cultura é um equívoco, pra não dizer um erro grave. A compreensão dessas ideias estão presentes nos trabalhos de diversos autores, porém aqui cabe destacar: Marilena Chauí com o livro Cultura e Democracia; Stuart Hall em Identidade Cultural na pós-modernidade; Déa Fenelon em o Historiador e a Cultura Popular: história de classe ou história de do povo; Outro texto muito bom é o de Alfredo Bosi, Cultura como Tradição; Roberto Schuwarz em Nacional por Subtração; dentre vários outros que tratam da Nova História Cultural, tais como: Roger Chartier, Le Goff, Dubby, Michele Perrot, etc.


É importante colocar esses autores, para vocês, pois este é um debate que ainda não esta encerrado, sobretudo por conta da compreensão dessa ideia de cultura circular não estática de (des)hierarquização, assim como, da multiplicidade que a envolve, pois em se tratando de Brasil, é preciso pensar uma cultura plural para além do "S" no fim da palavra.


Simone dos Santos Borges

quinta-feira, 23 de junho de 2011

As mudanças que percebo

Veja o tanto que as coisas vêm se modificando:
mulheres que saíram do campo doméstico para o mundo mercadológico das relações sociais; novas sociedades indígenas que estão sendo descobertas no Brasil; o risco de uma nova crise capitalista de proporções globais; surgimentos de novas potências econômicas mundiais, pautadas numa economia sustentavel; crise política no oriente médio, onde a população busca e luta ansiosamente por democracia, fenômeno antes só visto no ocidente; novas estruturas famíliares que vêm se formando ao longo dos últimos vinte anos, no qual o modelo pai, mãe e filhos já não é mais exclusivo; manifestantes que lutam para garantir seu direito de manifestar nas ruas brasileiras, pela "legalização da maconha", marcha para Jesus e pela família, etc.
Não dá para escrever um texto listando só isso, pois precisaria de muitas páginas na web. Enfim, houve um tempo que dizia: gostaria de ter nascido em outra época, nos anos 30 do século XX, talvez, mas, hoje percebo que não, vivo a melhor época de todas. É provavel que a maioria de vocês não concordem comigo, mas, de fato, vejo o meu país como um epaço muito democrático, não estou falando da Democracia intitucionalizada como forma de governo, também não estou dizendo que todos/as brasileiros/as têm acesso ao exercício pleno de sua cidadania.
Temos espaço para o debate, para o diálogo, para resolução dos conflitos. É claro que esse espaço de democracia tem limites, e o principal deles é: não ultrapasse o debate, o diálogo e os conflitos que não tenham sido antes acordados e estabelecidos pela minoria conservadora, que dominam as estruturas do poder no país, pois você corre o risco de ser um ponto incoveniente na nossa democracia, ou ainda podem desligar seu microfone. Temos que debater, mas temos que ter cuidado com o nosso debate, para que ele não seja perigoso, mal interpretado e até inconveniente.
A união civil (casamento) dos/as homosexuais, juntamente com a proibição do kit contra a homofobia e a marcha para legalização da maconha, ocorreram quase que simultaneamente, porém a sociedade só se lembrou de discutir o quanto era nocivo aos nossos filhos (no masculino mesmo) o kit contra a homofobia. Ninguém falou nada sobre a proibição que o senado fez a "marcha da maconha", se era boa ou ruim a para nossas crianças, nem dos avanços constitucinais que estão por trás do casamento gay. Aliás, também não nos lembramos de debater sobre o aborto, sobre os problemas que permeiam a educação brasileira, sobre a defasagem do sistema unico de saúde, a precariedade do transporte público nas capitais, a falta de saneamento básico, o disperdício de recursos públicos em obras que nunca são concluídas ou em intituições públicas que nunca funcionam a contento, para além das conclusões obvias sobre as quais nós já conhecemos sobre esses assuntos.
Nossa democracia debate as novelas, o que é coisa de menino e de menina, como homens e mulheres devem se comportar, que profissão dá mais dinheiro, que a Igreja A é melhor que a B. Nossa democracia discute os imediatismos, os individualismos, a simplicidade das coisas, ou melhor, a "descomplexização" das coisas.
As relações sociais, políticas, econômicas, religiosas e culturais são cada vez mais complexas e interligadas, numa relação em que o singular e o plural são percebidos e sentidos o tempo todo. Não existe nada fácil, mas o mundo moderno, e pós-moderno, nos trouxe algumas facilidades que permintem as pessoas deixarem de refletir. Afinal, o exercício de reflexão é muito pesado, complicado e difícil, é mais facil perguntar. Não sei se estou conseguindo ser clara, mas o que vejo na nossa democracia das coisas simples é que está tudo tão disponível que as pessoas não precisam mais pensar como se liga uma máquina, basta seguir as setas, e se a setas não indicarem o caminho eu procuro alguém que já tenha feito e ele/a me esnina ou faz no meu lugar.
Ainda temos muito que relfetir sobre a nossa consciência democratica, até eu preciso ler e reler sobre esse assunto, pois sei que ainda tenho muitas dúvidas sobre as questões que envolvem o céu, a terra, a água e o ar, e como essas são questões perenes, tenho a certeza de ter nascido na época certa. De resto, só me "resta" agradecer os mais de 500 acessos, até o próximo texto.


Simone dos Santos Borges

sábado, 30 de abril de 2011

Estação Pirajá! De fato pira-se já

Ontem (29/04/2011), mas uma vez o ciclo vital da água em seu belíssimo processo de evaporação e retorno ao estado liquido em forma de chuva presenteou a bela cidade do Salvador, e como já esperado pela população, tendo em vista, toda a estrutura que a cidade tem para recepcionar os fenômenos da natureza, devido aos investimentos em políticas públicas o qual é digno de primeiro mundo, a cidade virou um caos entre alagamentos, deslizamentos de terra, congestionamentos e mais uma vez a famigerada Estação Pirajá, pirou.


Filas que ultrapassavam a ideia de quilometragem e falta de transporte para levar os trabalhadores para casa, vem se tornando uma constante nesse lugar, mas ontem foi demais, ficar 3 horas de relógio em uma fila esperando um ônibus para os bairros periféricos da cidade, tais como Sete de Abril, Nova Brasilia, Valéria e Cajazeiras enquanto de cinco em cinco minutos saiam carros com destino a Barra, é foda (peço desculpa ao leitor, pelo nível da conversa). O mais revoltante é que ao findar o quilométrico engarrafamento os ônibus com destino a localidades acima referida, começaram a se recolher para garagem, e mais espantoso ainda é que não eram nem 10 horas da noite.


Infelizmente fui testemunha ocular do ocorrido.


O fato é que,  um ano atrás, nessa mesma época de chuvas, a referida estação de ônibus ficou tão superlotada de trabalhadores que aguardaram passivos o momento de ir pra casa, depois de tão longa espera, tiveram que ir a pé. Pois tal ato de "Humanidade" com os trabalhadores da capital baiana, instaurou  a desordem generalizada, e uma onda de quebra-quebra, após um controlador de fila agredir uma transeunte da famigerada estação, levou a população a literalmente invadir e quebrar todo o posto SETPS que fica em cima da lanchonete no centro da referida. Lembro que até tiroteio e pequenos arrastões houve nesse dia. Pois é, fui testemunhar ocular do ocorrido nesse dia também.


O que me preocupa é que nada do que ocorre nesse lugar é lembrado ou divulgado pela mídia. A cada dia aquele lugar se torna a sucursal do inferno, divisão SSA/BA, há uma falta de respeito com o cidadão, que paga, se não me falha a memória o quinto transporte publico mais caro do país, e que tem o pior serviço do mesmo.


Quero crer meus/inhas amigos/as que isso é coisa da minha cabeça, mas sei que não é. Lembro-me das minhas aulas sobre o tráfico de escravos no século XVI, XVII, XVIII e XIX e as condições em que esses trabalhadores eram transportados e vejo que mudou apenas o meio de transporte e se aboliu o chicote, e mesmo assim em alguns casos, por que no Rio de Janeiro, no ano de 2010, um controlador de filas, durante uma greve dos maquinistas de trem, usou um para "domar" os trabalhadores.


Bom, voltando a tratar do dia de ontem na Estação Pirajá, por volta de umas oito horas da noite - esqueci de mencionar este fato aos leitores/as, os dois episódios ocorreram a noite - quando os moradores de Sete de Abril finalmente acreditavam que iriam para as suas casas, em meio aquele transtorno, pois o ônibus da empresa São Cristovão, que faz linha para o bairro, conseguiu chegar na estação, ao invés de encostar no ponto, tendo em vista o atraso no horário da linha, o fiscal da empresa, conversou com o motorista e o cobrador do mesmo e foram fazer um horário que sabe lá Deus quando terminaria.


A população revoltada, inclusive eu, que moro neste bairro, depois de alguns segundos, fomos fazer uns questionamentos aos fiscais da empresa e da SETPS, os mesmos fizeram o ouvido de mercado vazio, afinal, preto, pobre, favelado e sem carro é tudo burro e ignorante e animais mesmo.


Liderei, sem vergonha de admitir a abertura forçada da porta do ônibus, claro que imediatamente a força policial, que passou a fazer parte do cenário da estação desde o episódio narrado do ano de 2010, chegou com a educação de sempre, puxando as pessoas para fora do ônibus e com toda educação aos berros, na defesa do patrimônio privado e não da segurança publica, "ninguém sobe nesse ônibus".


Eu com toda minha educação política gramisciana, olhei para o peito do soldado em busca de sua identificação que estava escondida, e perguntei: "não vou subir por quê?", o policial retruca: "não é com vandalismo que se resolve as coisas", então lhe respondi novamente: "não é vandalismo, e sim reivindicação de direitos, tendo em vista a quantidade exorbitante de impostos que pago e enquanto cidadã, estava exigindo que meus direitos a cidadania de ir e vir fossem respeitados". Automaticamente o aparelho de repressão do Estado que já estava pronto a me agredir, se afastou de minha pessoa e se colocou também enquanto cidadão.


E ai como boa Historiadora e Cientista Social em formação, fiz meu discurso na defesa dos direitos do cidadão e da responsabilidade que o Estado tem de garantir meu acesso livre na cidade, desde que não vá de encontro as regras estabelecidas e acordadas na constituição.


Narro estes fatos senhores/as, por que estou literalmente farta de nunca ver as atrocidades cometidas com os trabalhadores baianos que sustentam os luxos de uma fina camada da sociedade, nunca serem divulgadas pela mídia, pois congestionamento só ocorre na região do Iguatemi, Comércio e Rotula do Abacaxi, lugares que ligam a pereferia e subúrbio ao "centro da cidade", os outros transtornos do trânsito são esquecidos.


Até quando vamos ter a reinvenção do navio negreiro? E até quando o poder público vai se manter cego, assim como, a justiça, diante do caos que se tornou a questão do transporte em Salvador? E até quando a população vai se comportar como cordeiro?


Deixo a todos que lêem as loucuras que escrevo essa reflexão de meu principal teórico: "Os burgueses podem até ser ignorantes na grande maioria: o mundo burguês vai adiante, apesar disso. Ele esta estruturado de tal modo, que basta haver uma minoria de intelectuais, de cientistas, de estudiosos, para que os seus negócios sigam em frente. A ignorância também é um privilegio da burguesia, tal como é o dolce far niente e a preguiça mental... Os burgueses também podem ser igonorantes. Os proletários, não. Para os proletários não ser ignorante, é um dever" Antonio Gramsci


Simone dos Santos Borges

Sócrates Jr.: Projeto #EuSouGay! Eu Aderi!

Sócrates Jr.: Projeto #EuSouGay! Eu Aderi!

domingo, 27 de março de 2011

Mudando o rumo da prosa.

Olá meus queridos e minhas queridas, hoje quero conversar com vocês sobre outras coisas. Primeiro peço que todos leiam esta frase e reflitam sobre ela e sobre sua fonte.

"A exclusão da escola de crianças na idade própria, seja por incúria do poder público, seja por omissão da família e da sociedade, é a forma mais perversa e irremediável de exclusão social, pois nega o direito elementar de cidadania, reproduzindo o círculo de pobreza e da marginalidade e alienando milhões de brasileiros de qualquer perspectiva de futuro."(Plano Nacional de Educação, 2001) 

A primeira vez que tive contato real com as leis de educação foi no segundo semestre de 2010, ao me debruçar sobre essa leitura comecei a refletir a respeito dos problemas que cerca a educação brasileira, vejo a mídia culpar governos, culpar os professores e professoras, dizem que não somos bem qualificados, vejo os pais e mães nos culparem, como se a responsabilidade da educação fossem apenas destes profissionais, me incluo aqui por que também sou professora.
De acordo com a Constituição Nacional "o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo", ou seja, o Estado tem por obrigação oferece-lo, mas não pode obrigar ninguém a educar-se. Com isso, percebo muitos jovens freqüentarem escolas e universidades pedindo "pelo amor de Deus falte aula hoje" ou que "tomara que esse/a professor/a não venha hoje"; "pra que é que tenho que estudar isso"; "ave! Tô cheia dessa escola", etc. Isso também se reflete na participação dos pais na vida escolar, aos responsáveis com filhos matriculados na rede particular já ouvi: "eu tô pagando caro, não quero que meu filho/a perca de ano"; "quem esse/a professor/a pensa que é para falar assim com meu/minha filho/a"; "eu é que não vou perder tempo com reunião de pais e mestres"; "escola boa é a que oferece computador, aula de dança e futebol, e que não reprova", etc. São inúmeros comentários desse tipo, claro que devo ressaltar os bons frutos dessa cesta.
Mas, o que quero discutir aqui é a respeito das políticas publicas de educação que o Brasil vem implementando desde aprovação da nova LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996 onde há garantia de uma educação inclusiva, participativa e democrática, valorização dos profissionais de educação, criação de fundos de investimentos na educação nacional e organiza do ponto de vista estrutural a educação, não podemos nos esquecer da obrigatoriedade dos governantes em formular um PNE - Plano Nacional de Educação decenal, o qual estabelece as metas do Estado para educação nesse período. Um enorme avanço, para um país que ainda possuí uma quantidade de professores leigos alfabetizadores alarmantes.
A Revista Nova Escola em sua edição comemorativa de 25 anos (janeiro/fevereiro) trouxe uma série de reportagens sobre as mudanças na educação nacional neste intervalo de tempo, onde tivemos a universalização do ensino fundamental (antigo primeiro grau - 1ª a 8ª série), o aumento de investimento na formação docente, melhorias de infraestrutura física dos estabelecimentos públicos de ensino, investimentos e legislação na educação rural, de jovens e adultos e educação infantil, obrigatoriedade e inclusão social e tecnológica, gestão escolar participativa e democrática, universalização da merenda escolar e investimento em materiais didáticos, são as principais e significativas mudanças.
Mas, os problemas ainda são enormes em 2010 o Brasil ficou na 53ª colocação na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos de um total de 65 nações, segundo fontes da revista, o que significa que apesar de todo o investimento e de todos planejamentos elaborados e metas estabelecidas algo esta saindo errado, então precisamos achar o culpado?
Acredito que não, digo isso, por que percebo na conversa do dia-a-dia com meus alunos/as, colegas de profissão, amigos/as, pais e mães de estudantes o quanto eles sentem a necessidade de uma educação contextualizada e de boa qualidade. Mas, ainda consigo perceber também uma desvalorização sobre essa necessidade, afinal ela é uma atividade que não gera lucros imediatos e que necessita de altos investimentos, o que fazer?
Sinceramente, acredito que quem conseguir responder a essa pergunta morre, pois vai descobrir um dos segredos da condição humana (risos), quando se fala em ser professor/a a primeira coisa que vem na cabeça das pessoas é um bando de coitados pobrezinhos e que não tiveram competência pra ser medico/as, advogados/as, engenheiros, etc. A pergunta que faço é: será que existira algum desses profissionais sem professor/a? Na minha humilde opinião falta reconhecimento social desta profissão, por que no ranke dos salários estamos em 8º lugar - segundo uma das edições do jornal a tarde, não lembro qual o número, faz tempo que li sobre isso, mas sei que foi em 2010 - junto a isso, precisamos parar de dizer, sobretudo alguns colegas meus de profissão, que a escola pública é local de "marginal", de indisciplina e "incivilidade".
Ainda não são todas, mas muitas escolas publicas são muito bem equipadas, agora o material não é utilizado com o desculpa de que "é pro aluno não quebrar", mas também tem muito professor/a que vai para sala de aula sem um planejamento, pois em sua formação (estágio) ele ouve o tempo todo "esses alunos não querem nada",
Além da conscientização individual dos profissionais de educação, falta uma grande reformulação nesse modelo de escola tradicional linear progressiva, pois os recursos didáticos por mais avançados tecnologicamente que sejam ainda são usados a maneira antiga, sabatinada "decoreba" e por vezes mercadológica, pois boa escola é aquela que aprova no vestibular das universidades federais, bom professor/a é aquele que ensina o macete para passar na prova e não o que media conhecimento para a vida.
Em suma: quero dizer que a Educação é o maior de todos os bens, "se um médico erra assassina apenas um, mas se a Escola erra assina gerações inteiras", quando critico o modelo posto, o faço na tentativa de chamar a atenção a complexidade das relações sociais que envolvem a contemporaneidade, a transdiciplinariedade e interdisciplinariedade que envolvem os saberes e que o currículo escolar não acompanha, pois este a ainda é pensado de maneira estanque e individual, os AC's que não ocorrem a contento, e a participação efetiva da família e sociedade que ainda insiste em se dissociar do ambiente escolar, finalizando esse texto quero chamar atenção para a importância do decreto 6.094/2007 Compromisso Todos pela Educação e sua 28 diretriz que convoca a todos para participarem dessa instância da sociedade, para que não cometamos o pecado de excluir milhares de jovens à seu direito básico do exercício da cidadania de maneira plena.

Simone dos Santos Borges

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ave! Como sofro.

Chegou a hora de escrever dinovo. Vamos lá a mais um momento cotidiano e discussão de gênero.
Bom, 8 de março como todos vocês já sabem é o dia Internacional da Mulher, pra variar recebi aquela enormidade de poesias, textos, slides e outras coisinhas me desejando felicitações, me dizendo o quanto as mulheres são fortes para vencer os mais variados obstáculos, e que a vida é assim mesmo, mulher nasceu para sofrer e superar, mostrar sua força e valor.
Cabe-nos duas perguntas: o que é essa força ou de onde ela emana? E qual é o valor das mulheres?
Acredito que, se ser forte é passar o tempo todo apanhando, no sentido abstrato, e as vezes até físico da palavra, puta que pariu, ser mulher então é sinônimo de saco de pancada. Se mostrar o valor, é ser a esposa dedicada de cama, mesa, fogão e mãe, ser mulher se reduz apenas ao ato da obediência bíblica do "crescei e multiplicai-vos" e esquecei-vos de pensar.
De todas as celebrações e homenagens às mulheres a que mais gostei e chamou atenção foi a entrevista feita pela apresentadora Ana Maria Braga a, nossa grande militante do combate a violência contra a mulher, Srª Maria da Penha.
A qual vale apena conhecer sua trajetória, ex-esposa de um agressor de mulheres que se tornou paraplégica ao levar um tiro do seu ex-companheiro, se é que assim podemos chama-lo, esta que bateu em varias portas em busca de ajuda para denunciar seu agressor, mas que não a obteve, tendo em vista que até o ano de 1996 o Brasil tinha em sua Constituição a vergonhosa Lei do Crime de Honra, em que os maridos "ofendidos" podiam assassinar suas esposas e sair ilesos de tal ato. Ela sempre lutou para combater e coibir as agressões as ditas senhoras do sexo "frágil".
Na entrevista apresentadora e entrevistada discorriam sobre os avanços da Lei 11.340/2006 a qual recebe o nome desta senhora, devo confessar que até escrever esse artigo e assistir essa entrevista não sabia bem do que a mesma tratava, agora sei que a mesma prevê a prisão dos maridos, companheiros, irmãos, pais ou qualquer ente familiar que venha agredir mulheres, além de garantir proteção e manutenção ao direito da vida.


"Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências"(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm)




São considerados pelo Estado brasileiro como violência contra mulher: as agressões físicas, psicológicas, sexuais e morais. Esta previsto nesta lei desde as políticas publicas de combate a violência contra a mulher até os modos de atendimento das autoridades policiais, assim como as ações emergênciais àquelas que se encontram com seu direito a vida ameaçado. 
No papel um grande avanço, na pratica um enorme atraso, pois a demora nos julgamentos, a falta de divulgação de como funciona esta lei e a quem ela atende, o machismo ainda arraigado a nossa sociedade, e a impunidade aos agressores de mulheres, fazem com que depois de quase cinco anos, tenhamos o quadro de estatísticas de violência contra as mulheres tão alto.
Durante a entrevista a Maria da Penha falava na demora em prender os agressores, no descumprimento do flagrante, tendo em vista que para ser autuado o agressor precisa ser pego em flagrante, na demora em certos juízes e juízas em determinar o veredito prisional o que ainda leva muitas mulheres a morte e na  necessidade que temos, enquanto cidadãos, de denunciar os agressores. 
Vale retomarmos as duas perguntas iniciais, o que é a força e o valor feminino? Ao tentar me responder essa pergunta lembro-me de Simone de Beauvoir quando li "A Mulher Independente", a autora diz que as mulheres só serão realmente livres quando emanciparem o corpo, ou seja, que é necessário as mulheres tratarem o sexo da mesma forma que os homens. Ainda somos violentadas pelo fato de que possuímos um valor feminino ou de feminilidade que não foi por nós elaborado, a distinção mulher pra casar e mulher pra trepar e apanhar é muito cruel. 
Os padrões de essência feminina que beiram a futilidade também são de uma crudelidade imensuravel, então vamos parar de fingir e dizer-nos uma as outras que somos fortes por que superamos nosso sofrimento, as opressões do cotidiano e libertemos nosso corpo, para que não venha outrem e dele queira se tornar dono. 
Digamos em conjunto: meu útero é meu não pertence ao Estado ou Igrejas para que essas instituições decidam o que deve ou não dele nascer, minha vagina é minha para fazer o que dela eu bem entender, assim como meu coração é meu para dá-lo e amar a quem eu quiser. Concordo com minha chara em muitos aspectos e a libertação e propriedade do individuo sobre o corpo, assim como o sentimento de pertença, são os primeiros passos, na minha opinião para se acabar com a violência contra as mulheres.              

Escrito por: BORGES, S. S. 
  

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Aos amigos e amigas (texto escrito após finalização das urnas na eleição presidencial de 2010)

www.ailtonmedeiros.com.br


Hoje dia 31 de outubro de 2010 vivemos um momento importantíssimo na História do Brasil, elegemos a primeira MULHER para o comando máximo do país e olha que por alguns instantes dessa campanha cheguei a acreditar que isso era apenas um sonho.
Vale dizer que essa foi à eleição das mulheres, dei meu voto no primeiro turno a Marina Silva, sua ética e postura profissional, me levaram a querer e concordar com seu discurso de igualdade de oportunidades, e que mandássemos duas mulheres para o segundo turno das eleições nacionais. E quase deu certo, foi por muito pouco.
Devo admitir que nos últimos oito anos passamos por transformações incríveis e marcantes no mundo da política. São situações que por vezes nem imaginávamos, por exemplo, vimos o primeiro homem nordestino, sem formação universitária, retirante da seca e líder sindical chegar a presidência da república no Brasil, um índio assumiu a presidência da Bolívia, num país em que a maioria indígena nunca teve voz e para ficar boquiaberto, um homem negro passou a ocupar o espaço físico, social e econômico mais importante nos EUA, feito que dispensa qualquer tipo de comentário.
E qual o impacto disso para a sociedade¿ Será que as minorias e os marginalizados sociais finalmente estão assumindo as rédeas na tão sonhada ditadura do proletariado preconizada por Marx e Engles¿
Bom, Milton Santos disse que esta na mão dos “pobres” o caminho para a mudança das relações sociais capitalistas e a construção de uma nova globalização, na qual não exista mais dominantes e dominados, pois, somente eles conhecem as suas mais profundas necessidades e os mecanismos para supri-las. Mas, não sei se é isso que ocorre, acredito que não se trata da ditadura do proletariado sonhada pelo marxismo escatológico de que no “final do mundo” teremos o paraíso na forma do socialismo.
Vejo a vitória de Dilma Roussef como mais um avanço, ou seja, mais um passo na luta contra o preconceito, a discriminação racial e sexual e o apartheid racial, sexual, social e econômico no qual vivemos de maneira velada. A marginalização das minorias se tornou algo tão sutil que em nosso cotidiano nos legamos ainda ao luxo de fechar os olhos diante dos catadores de lixo, dos homens, mulheres e crianças que vivem da mendicância nas ruas das cidades brasileira, dos flagelados e flageladas da seca, que pude testemunhar, vendendo voto, por um carro pipa de água para garantir sua sobrevivência, as mulheres que são violentadas, torturadas psicológica e fisicamente, além de ser assassinadas com requintes das mais pura e racional crueldade, como foi o caso da ex-namorada do goleiro Bruno. E ainda sim temos o habito de dizer: - racista, preconceituoso/a, eu¿ Não, o racismo esta acabando e a discriminação de gênero também.
Posso afirmar que a vitória de Dilma vem na baila de um grito desesperado que uma parcela consciente da sociedade solta para que a destruição da condição humana não se perpetue. Para nós, mulheres, do ponto de vista ideológico e político dessa condição é mais um grito na nossa emancipação, além de equiparação salarial, dissemos nas urnas da nossa democracia obrigatória que queremos equiparação e reparação social, necessitamos de Igualdade de Gênero com urgência.
Temos uma de nós no comando do país. Uma mulher que demonstra em suas características faciais força, uma força que emana de todas as mulheres militantes das causas femininas, sua consultora ou consultor de moda que a torna sensual sem vulgarizá-la ou masculinizá-la e ressalta sua beleza feminina na qual a faz demonstrar a sensibilidade sem fragilidade e frescuras esquizofrênicas que nos foram impostas ao longo dos séculos.
Não estou escrevendo esse texto para defender partidos, minha intenção é chamar atenção aos leitores que os papéis não estão se invertendo, muito ao contrário eles estão se afirmando. Foi-se o tempo em que felicidade feminina era sinônimo de casamento e procriação. Hoje as mulheres querem a mesma liberdade sexual masculina, sem precisar dar explicações do tipo: olha, não sou puta. As mulheres querem ganhar dinheiro, viajar, querem sapiência, por que o saber sempre nos foi negado, e sobretudo aquilo que na tradição Greco-Romana, a qual nós ocidentais vivemos, sempre foi masculino muito desejado e disputado chamado PODER e aos poucos estamos conseguindo.
Com isso, quero dizer, que não devemos pensar numa inversão da dominação masculina pela feminina, a sociedade vem mudando seus ideais de moral social enraizadas no senso comum, vivemos um momento de transição das relações sócio-culturais violento, em que novas ideologias e modos comportamentais tendem a se afirmar ou já se afirmam de maneira que ter uma mulher no comando de um país de tradição patriarcal e patrimonial é um soco no estomago da própria sociedade, que tem seu modelo de chefe viril e virtuoso, no qual a mulher sempre coube a realização no âmbito doméstico questionado e colocado em cheque.
Não sei se Dilma fará um bom governo, temos quatro anos pela frente para descobrir, mas e quem diria que Lula, uma semi-analfabeto, como fora tachado, ia conseguir fazer o Brasil dá o salto econômico que deu, ou seja, nosso poder aquisitivo aumentou, compramos coisas de que nem precisamos, se o “bolsa família” é política publica social para erradicar a pobreza ou de “tapa buraco” não sei, devemos perguntar isso a quem só tem essa renda para sobreviver, se o PROUNI é política de reparação social ou de humilhação para os/as jovens brasileiros/as que adentraram a universidade graças a ele, devemos perguntar aos jovens de classe média alta que se utilizaram dessa política para concluir seus estudos, como vimos nos últimos tempos, e o mais impressionante dos feitos de Lula, ele acabou com o G-8 e criou o G-20, quer dizer, o semi-analfabeto se atreveu a fazer mudanças até na política mundial.
Mas, nem tudo são flores e tivemos oito anos recheados de denuncias de corrupção, “mensalões” e CPI’s que não ocorreram, pois, poderiam prejudicar a imagem e a sucessão presidencial, porém, vale ressaltar que foi a primeira vez que vi magnata ser algemado de cueca dentro de casa e levado para cadéia, até então, só tinha visto isso acontecer com preto, pobre e favelado.
Se Dilma conseguir dar continuidade a metade dos feitos de seu mentor será maravilhoso, então quer dizer que até o “mensalão” vai continuar¿ Talvez sim, talvez não, só vamos saber essa resposta daqui a quatro anos. Mas, voltemos um pouco em nossa história política local, lembram-se do “cabecinha branca” na Bahia, Antonio Carlos Magalhães, roubou mais fez durante mais de trinta anos, e foi legitimado por muitos de nós em sua política que ainda apóia o mandonismo de sua família.
Não quero com isso ser conformista, e muito menos legitimar a corrupção desse país que cria abismos entre as diversas categorias sociais, porém, se este for o único caminho para que o muro das desigualdades social, racial e de gênero reduza-se, então resta dizer, que desejo a ideologia das esquerdas muitos anos de vida e saúde.

Simone dos Santos Borges
Licenciada e Bacharel em História e graduanda em Ciências Sociais

sábado, 29 de janeiro de 2011

O Brasil do século XXI ainda pensa o casamento e a mulher como no século XIX.

Bom, finalmente consegui ter o insight para escrever meu primeiro texto, depois de quase um mês pensando no que escrever, eis que me surge diante dos olhos observações, reflexões e indignações relacionadas a situações do cotidiano que me levam a este desabafo. Digo que este texto é um desabafo por que como mulher, consciente da minha condição política, percebo que o trato dado pela sociedade a instituição do casamento ainda possui um pé, ou talvez os dois, no século XIX.


Há duas situações voltadas para o tema do casamento, que me ocorreram de maneira, muito próximas que vão servir de base para esta analise. A primeira trata-se de uma obra de ficção, na verdade uma novela vinculada pela Rede Globo de Televisão, que por medida de segurança, afinal não quero ser inquirida por plágio, ou outra forma de crime autoral, não irei mencioná-la, apenas narrarei a estória. 


A dada personagem do sexo feminino, órfã, se apaixona pelo "mocinho", rico finge-se de pobre, para angariar o coração da donzela, pois o mesmo já havia sido vitima do golpe do baú, a "mocinha" então fica grávida e cheia de sonhos, vai contar ao namoradinho a novidade. E qual não é sua surpresa, aquele bom rapaz, se transforma num calhorda e abandona grávida, sob a acusação, pobre donzela, de "golpista". Esta é acolhida pela família de seu melhor amigo e refaz sua vida social e sentimental, mas quando o “felizes para sempre” parecia ser o grand finalle, eis que ressurge o "mocinho" o qual passa a exigir da donzela seus direitos de pai (nada contra até ai) e de marido, uma vez que este homem "sensível" obriga através de uma ardilosa trama a "mocinha" a se casar com ele.


Na outra situação não se trata de ficção, mas “qualquer semelhança é mera coincidência”, tive a oportunidade de ir a São Paulo, e conferir de perto o que alguns membros, ainda que ínfimos, do ponto de vista quantitativo, dessa cidade pensam a respeito dessa instituição. Bom, durante um comentário inocente, não sei, até que ponto, a esposa “A” diz: "As mulheres tem mais poder que os homens", o marido “A” responde um tanto enojado: "Deus é mais", então é dado inicio ao seguinte debate: as mulheres desvirtuaram o homem, por que Eva comeu do fruto proibido, e quando casados homem e mulher se tornam uma única carne, Adão foi obrigado a pecar por conta de sua companheira, Sansão pobre coitado foi seduzido pela "chaninha" (grifo meu) de Dalila e por isso obrigado a pecar (diriam alguns amigos meus: - eh pecado bom!). Como se o debate já não estivesse interessante, a esposa “B” diz: "Amor, vamos para a casa de sua irmã¿", o esposo “B” responde: "não", a esposa “B” insiste: "Posso ir¿", o esposo “B” responde de maneira incisiva: "Não", assim a esposa “B” abaixa a cabeça e acata a ordem do marido.

Temos duas situações ou a emancipação feminina não ocorreu, o que creio não ser verdade, tendo em vista as inúmeras mulheres que romperam e rompem com o paradigma da submissão e enfrentam as situações postas pela sociedade patriarcal como normal e coisa do cotidiano, em cheque, e nos faz perceber que um tapinha dói e pode levar ao “feminicídio”.

E a outra é: como no inicio da segunda década do século XXI, onde as relações afetivas e sociais se tornam cada vez mais complexas, e a mesma mídia que difundi “não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”, transmite com suas mensagens subliminares que o papel da mulher é ao lado do macho dominante, e na maioria das vezes opressor¿

Entendo que vivemos um momento de transição das relações sócio-culturais, a cultura em seu interessante e incessante processo de espiral não estático, vem modificando e mudando concepções, afirmando e reafirmando ideologias e ideais, mas ainda não consigo conceber como os homens e mulheres que compõem este cenário social tem dificuldade em se livrar desses estigmas: mulher namoradeira é puta, mulher recatada é otária, mulher que não casa é encalhada e mal sucedida, mulher que não tem filho, ou melhor, que nunca pariu, não é realizada, mulher dedicada ao trabalho ou é lésbica ou ruim de cama.

Ai! Essa dualidade às vezes me cansa e não pára, as mulheres que são santas, são falsas, se ela não trabalha não presta, por que só quer o dinheiro do cara, se ela gosta de rosa e frufrus é por que não tem conteúdo é Barbie, se é bonita não pode ser inteligente, se é inteligente é chata...

E ainda fizeram uma série de TV intitulada “o que querem as mulheres¿”, na minha opinião deveria ser "o que querem de nós¿"

Entendo que o casamento sempre foi um negócio, ou seja, no século XIX esta instituição foi mantida por famílias ricas e abastadas para somarem e engrandecerem seus bens materiais, nessa instituição o amor sempre ficou na vontade. Também entendo que essa reivindicação pelo amor no casamento é uma invenção do romantismo, mas a que se dizer que este sentimento tão sublime não pode ser deixado de lado.

O casamento não é de todo ruim, ele não precisa ser um véu da opressão feminina e muito menos um martírio para os pobres homens que teoricamente vão ser obrigados a “comer” a mesma mulher todos os dias, isso se ele agüentar fazer sexo todos os dias.

A vida a dois como diriam os românticos, serve para nos trazer aquela sensação de que não estamos mais sozinhos, temos alguém pra cuidar e alguém para cuidar de nós é uma vida de troca, e não se iludam, os românticos não previram as contas de fim de mês, as brigas pela tampa do vaso sanitário abaixada, a pasta de dente amassada pelo meio, a calcinha pendurada na torneira do chuveiro, a TPM, a andropausa, o futebolzinho do fim de semana, a cachaça com os amigos, o peido embaixo do cobertor...

Enfim o amor é um sentimento lindo, mas não resiste a fome, pense nisso antes de casar, principalmente as moças de plantão que acham que vão encontrar pela frente o “Happy And”.

A aos homens que pensam em ter uma moça prendada de cama, mesa e fogão, não se iludam os tempos são outros, como diria minha chara Simone d’Boauvir, o homem que oprime, deprime e reprime uma mulher é por que dúvida de sua própria virilidade, então seja macho e respeite a mulher que esta ao seu lado.


Escrito por: BORGES, S. S.