sábado, 2 de julho de 2011

"Cultura Brasileira: Reconhecimento e Manifestações"

"Esse texto foi apresentado na mesa redonda intitulada acima, no colégio Apoio de Vilas do Atlântico, sob mediação da professora Mari Lima aos alunos do 2º Ano do ensino médio."


Acultura é um fenômeno que se dá através de relações histórico-sociais, que vão muito além dos laços consanguíneos e familiares. Por isso, o meio geográfico e os fatores biológicos, até podem influenciar a cultura, mas não são seus fatores determinantes, como propuseram alguns autores. A cultura é um fenômeno cerebral, uma vez que, é o sentido que a razão dá as nossas ações, que elas passam a integrar o fenômeno cultural.


Dessa maneira, por mais que a cultura seja adquirida por viés mercadológico, ela esta em constante transformação, o que estou tentando dizer, é que o sujeito/indivíduo introjeta um aspecto de determinado movimento cultural e lança para a sociedade de maneira diferente de quando adquirida, é o que Stuart Hall chama de "tradução" da cultura.


Pensar a Cultura através de um espiral circular não estático, passível de transformação, permite entender com mais facilidade que "não há possibilidade de se pensar a cultura de forma unificada num espaço territorial com a extensão do Brasil", uma vez que este território é composto por diversos sujeitos, que se autodefinem, é necessário pensar na multiplicidade de povos e representações sociais que formam e constituem o que se define como brasileiro.


Um exemplo disso, é a ideia de baianidade construída pela mídia e pela indústria cultural. Quando se pensa em Bahia, se pensa única e exclusivamente nas dinâmicas sociais que perpassam Salvador, é o axe music, o candomblé, o carnaval de trio elétrico, o azeite de dendê, a capoeira como se estes fossem elementos culturais cotidianos de todos os soteropolitanos, ou ainda do todos os baianos. Mas, se olharmos as outras dinâmicas sociais do mesmo estado com um pouco mais de cuidado, perceberemos que o que é atribuído como "ser baiano" não se aplica a essas realidades.


A história a pouco tempo passou a se ocupar das relações sociais através do viés cultural, foi somente nos finais dos século XX que os/as historiadores/as passaram a entender as dinâmicas abordadas no parágrafo anterior na tentativa de explicar, refletir e problematizar por que, neste caso específico, Bahia e Brasil possui uma cultura tão diversificada de fenômenos, por vezes no mesmo território. É necessário perceber que a ideia de cultura brasileira foi politicamente construída, nos primeiros anos de república quando se pensava em construir a nação, quando o Estado pergunta a seus intelectuais quem são os brasileiros ou ainda o que é cultura brasileira? Há uma hierarquização da mesma em relação aquilo que é erudito, pertencente a elite, e aquilo que é popular que é tido muitos vezes como ruim ou de baixa de cultura, que não serve para representar o país. Como se elite também não fosse povo!


Um país que tem enquanto matrizes étnicas elementos indígenas variados, africanos variados, europeus variados é preponderante pensar numa cultura múltipla, pois dizer que o Brasil não tem cultura é um equívoco, pra não dizer um erro grave. A compreensão dessas ideias estão presentes nos trabalhos de diversos autores, porém aqui cabe destacar: Marilena Chauí com o livro Cultura e Democracia; Stuart Hall em Identidade Cultural na pós-modernidade; Déa Fenelon em o Historiador e a Cultura Popular: história de classe ou história de do povo; Outro texto muito bom é o de Alfredo Bosi, Cultura como Tradição; Roberto Schuwarz em Nacional por Subtração; dentre vários outros que tratam da Nova História Cultural, tais como: Roger Chartier, Le Goff, Dubby, Michele Perrot, etc.


É importante colocar esses autores, para vocês, pois este é um debate que ainda não esta encerrado, sobretudo por conta da compreensão dessa ideia de cultura circular não estática de (des)hierarquização, assim como, da multiplicidade que a envolve, pois em se tratando de Brasil, é preciso pensar uma cultura plural para além do "S" no fim da palavra.


Simone dos Santos Borges

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