domingo, 1 de novembro de 2015

Uma sociedade de ignorantes

Todas as vezes que entro em uma sala de aula, me pergunto, o que leva os jovens a um comportamento repulsivo e odioso de desobediência das normas e regras sociais, estabelecidas desde que a sociedade tornou-se civilização, e que ao longo dos anos a reinventa diante das novas demandas de construção dos laços sociais de coesão, este último como diria Durkheim.

Não quero x alunx inerte, ou cataclizado, paralisado diante das informações que o levam a aprender, afinal compreendo que a sociedade atual é dinâmica e que o ato de aprender e ensinar deve acompanhar as novidades do saber tecnologizado da fração dos segundo, portanto o ato de ensinar deve ser rápido e não estanque, não adianta mais regurgitar o conhecimento acadêmico nas jovens cabecinhas cybertrônicas, antenadas a velocidade do gigabyte.

Mas, a perpetuação de algumas práticas sociais, as quais concebo em transição, como o machismo, sobretudo nx adolescente é um dos enfrentamentos que não gostaria mais de ter em sala de aula, afinal, o que há com elxs diante da autoridade feminina, uma vez que são jovens que nasceram sobre a égide das conquistas femininas dos últimos cinquenta anos, muitos delxs reforçam um machismo assustador dentro das salas de aula e boa parte do desacato que sofro como professora, vem dessa relação, onde elxs como futuros pretensos homens ou mulheres não concebem as hierarquias sociais elevadas, sobretudo na esfera do conhecimento, a partir da representação do feminino.

Diante da dimensão raça/classe/gênero como professora, já precisei enfrentar agressões verbais de ameaças de estupro, no sentido punitivo, o aluno queria me colocar no "meu lugar de mulher", já precisei respirar fundo ao, ouvir de "uma garoto", que professores homens são diferentes merecem, mais respeitos, e a última e não menos aviltante, vamos ouvir o professor "fulano", pois ele é homem e esta falando.

E ainda as pessoas se perguntam se é mesmo necessário estudar gênero nas escolas, um dia desses não aguentei e larguei para o guri, seu problema comigo é uma questão de gênero, e disse a ele que mesmo não concordando com o que ia dizer, que ele guardasse o machismo dele para dentro do espaço doméstico, mas ele disse que isso para ele não quer dizer nada, que ele não obedece a mãe dele mesmo. Então me deu a chave para dizer, "você só faz confirmar o que digo", seu problema é uma questão de gênero, e é claro fiz todo um discurso feminista na sala, da qual ele saiu bem calado.

Nas minhas reflexões me pergunto, até quando a sociedade brasileira, vai permanecer fomentando preconceitos sociais dessa natureza? Ora a profissão professora de educação básica é hegemonicamente feminina desde o início da república, e ainda as professoras desse nível de ensino, vivem na marginalidade profissional, baixos salários, desprestígio social, violência, e para mim a pior de todas a descredibilidade do saber cientifico, uma vez que muitas de nós somos pesquisadoras, estamos no espaço acadêmico produzido e fomentando conhecimento, momento em que até nossos colegas "homens" chegam a nós na sala dos professores "eu vim corrigir você", ou ainda "eu uso essa estratégia e você deve fazer o mesmo".

Tô cansada disso e só me resta dizer a esse machismo tosco, que nem mais fundamentado no cientificismo é, somente no senso comum, de uma sociedade hipócrita, que deixa de evoluir por que o "jeitinho" é melhor que refletir e promover mudanças sociais efetivas é maior que tudo, VÁ TOMAR NO CÚ.  

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

domingo, 18 de outubro de 2015

15 de Outubro

São sempre os mesmos dizeres, as mesmas felicitações "professores tem em suas mãos o poder de mudar o mundo". Hoje, me questiono sobre a veracidade dessa afirmação, pois se o(a) professor(a) não é mais o detentor do saber, como este profissional inserido em um dado contexto social, pode ser o precursor da mudança global? Para mim, esse discurso cai em um tradicionalismo viciado do "eu mando você aprende".

Ora, como historiadora e cientista social, sempre que analiso a sociedade, em suas diferentes épocas e contextos, identifico como agentes sócio-históricos  os diversos indivíduos, imbuídos de suas tradições e culturas, então por que devo pensar/acreditar que somente os professores tem o poder de mudar o mundo? Foi no campo das artes que a humanidade enfrentou e passou os principais momentos de rupturas sociais e de pensamento, que o diga o Renascimento Cultural ocidental do seculo XVI para universalização da escola e da profissão professor, antes disso, só haviam filósofos, em se tratando do mundo greco-romano, e mestres de ofício, pensando na Europa medieval.

Numa sociedade com base no pensamento de Platão, talvez sim, os(as)  professores(as), se os consideramos os(as) filósofos(as), sim, pode ser que tenham a capacidade de mudar o mundo, isso pensando na teoria platônica que toda a sociedade deve ser morta, deixar apenas as crianças de cinco anos, e os filósofos responsáveis por educar e organizar a sociedade. Responsabilidade demais para essa profissão, claro que não nego a capacidade visionária da profissão professor(a) em relação a outras, mas penso os diversos elementos sociais que permeia a formação do individuo, o professor é um individuo como outro qualquer.

Das outras frases que li ou vi felicitando os(as) professores(as) estava presente a ideia de que somos em maioria homens, mas não somos em maioria homens.

      

Somos maioria de mulheres e negras, por isso a (des)valorização social, que impacta na financeira. Com isso não quero dizer que a Educação não viva uma crise, uma vez que as sociedades se questionam "o que é educar", muitos confundem com didática, mas esta última é método e não educação. 

Pensando sobre o que escrever aos colegas professores(as) em nosso dia, penso que desejo e concordo com a frase "que um dia nosso salário seja compatível ao de um deputado", pois nesse dia a demanda de gênero haverá sido superada, não apenas na educação, mas em todos os campos profissionais. 

Portanto, PROFESSORAS, o dia  de outubro, deve servir para o fortalecimento da classe, é preciso deitar fora a ideia da "tia", daquela que é quase uma mãe, ou ainda que é obrigação da professora ser a psicologa, ou aquela que ensina tratos domésticos. É preciso pensar a profissão em suas diretrizes e bases legais, precisamos também refletir sobre a ciência educar e não no ato. 

Foram essas reflexões que me fizeram abandonar o uso do termo "educadora" ao me referir a minha profissão, pois é isso que tenho, uma profissão que nada tem haver com missão ou vocação, foram entre cinco e dez anos de formação acadêmica e prática, para hoje abandonar a ciência e assumir uma exegese vocacional irracional, pautada em amadorismos e achismos sobre o que "ensinar", função do(a) professor(a).

O dia 15 de outubro deve ser pensado do ponto de vista da classe, sim pois falta aos professores(as) essa conscientização, o olhar da profissão em sua dimensão política, sairmos da inércia dos projetos carnavalescos imputados por coordenadoras pedagógicas que nem sabe o que estão fazendo na escola, por que nunca sentaram-se no banco das universidades, isso em se tratando de escolas privadas de médio e pequeno porte, para agradar o cliente, e sim saliento que é preciso tomar atitudes politicas, no sentido etimológico da palavra politica. 

Agora vão pesquisar! 


Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social. 





Preciso escrever para (des)enlouquecer!!!!!




Vejam só as histórias de hoje:

Me preocupo com as coisas, os rumos e as ações que se aviltam nesse país. Hoje me deu um ódio tremendo, desse maldito imaginário coronelista, paternalista, patrimonial e colonial que "os brasileiros" possuem.

Na nossa "tosca" democracia, o que temos é uma liberdade cerceada em que o "grande capital" é quem manda, e gente como eu que tenta sonhar "a casa própria", "o carro", "as viagens" e outros sonhos "burgueses" precisam continuar sonhando, ou quem sabe na ignorância, que devo admitir se eu vivesse nela, estaria feliz e menos preocupada com a "crise" do Brasil, a qual acredito que ela, agora, real.

Os anúncios feitos ontem (15\09 - cortes de verbas nas instituições e setores estratégicos da economia) me deixaram muitíssimo preocupada com os rumos do país, o qual ao longo de sua história nunca se mostrou tão conservador e intransigente.

Uma elite maldita, que não gosta de pagar impostos desde os tempos áureos da colonização, e que fica sobrecarregando a população de baixa de renda nesse quesito, e ainda insufla, os que não tem a menor noção do funcionamento da burocracia brasileira, a se rebelarem quanto a legitimidade do nosso sistema democrático.

Agora vamos raciocinar rebanho de peste, em bom "nordestinês", se esta zorra não fosse uma democracia, será que a oposição ao governo estaria tão claramente arquitetando um golpe de Estado, o qual o maior dos leigos em ciências politicas, consegue identificar, assim tão clara e descaradamente?

Enfim, enquanto a mídia nacional ressalta o drama dos refugiados na Síria, vamos revivendo nosso 1962/63, em que as nossas elites, mas uma vez querem o fim do "governo do povo", afinal nossa elite não é, nunca foi e nunca será "povo", como diria Cazuza: "enquanto houver burguesia, não pode haver poesia".

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Esquizofrenia



A esquizofrenia é um transtorno mental complexo que dificulta na distinção entre as experiências reais e imaginárias, interfere no pensamento lógico, nas respostas emocionais normais e comportamento esperado em situações sociais.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, a esquizofrenia não é um distúrbio de múltiplas personalidades. É uma doença crônica, complexa e que exige tratamento por toda a vida. (disponível em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/esquizofrenia> Acesso 13/072015)
Nos últimos meses acho que tenho vivido essa dificuldade em diferir o que real ou imaginário nas coisas que tenho lido, assistido e escutado. 
Esquizofrenia 1: A pessoa sabe que você esta de recesso, e que portanto é um período de descanso, mas mesmo assim ela quer que você trabalhe, até aí tudo bem, trabalhar é um ato saudável, mas por que essa pessoa então não revoga o seu recesso, uma vez que este é um período em que suas atividades profissionais devem ser paralisadas para descanso? Seria algo lógico. Mas, se o patrão quer que você trabalhe nas "férias", então ele(a) não deveria remunerar o(a) trabalhador(a), mas nessa loucura, eles(as) querem que trabalhemos de graça.
Esquizofrenia 2: A pessoa diz que família deve ser representada por apenas pai, mãe e filhos (as), por que esse é o certo, ou seja, nessa lógica família é um conglomerado de pessoas, sentimentos como amor, cumplicidade, respeito e até a própria construção da sociabilidade n'existe pas (não existe). Olhei no dicionário o significado da palavra, e apareceu que esta é formada por pessoas vivendo sob o mesmo teto, ou que possuem ancestralidade em comum. Mas, tem gente ainda pensando no que é certo ou errado para ser família. A tradição cristã ensina que família é lugar de amor, mas acho que maioria dos cristãos ainda não chegou nessa parte da leitura bíblica. 
Esquizofrenia 3: Me preocupa o país, que se ocupa em marginalizar a juventude, trancafiá-la atrás das grades de presídios, ao invés de ensiná-la (já expliquei em outro momento por que deixei de acreditar em educar). A juventude se mostra também amorfa, por que ela diz ser a favor da redução da maioridade penal, enfiada na nossa goela, mas essa mesma juventude a favor será a principal vítima desse sistema carcerário, recheado de revanchismos e vinganças pessoais. Ele roubou, "e daí se foi para matar a fome", que nos ensina o cristianismo não é só de pão, "tem mais é que morrer". Enquanto isso, a cada hora no Brasil, possivelmente uma menina/mulher pode estar sendo vítima de estupro, mas e daí, quem se importa com a violação do corpo de uma mulher? Os novos cristão preferem ser os fiscais dos cús homossexuais, que entendem a construção do corpo como objeto de prazer e não somente uma construção biológica, ou seja, não se veem como animais irracionais dos quais o corpo só possui função biológica de existência, como esses ditos cristãos. 
Esquizofrenia 4: O terror midiático querendo comparar a crise do Brasil, forjada pelas elites agroexportadoras e industriais, com a dá Grécia. Nossa elite (de capitães donatários, senhores de engenho, barões de café, e coronéis) acostumada com o mando, ou seja, com o poder pelo poder, agora precisa conviver forçosamente com a justiça social empreendida nos últimos vinte anos pelo partido dos trabalhadores, não sei se os caminhos foram os corretos, mas a politica de distribuição de renda incomodou a essa elite, ver preto, pobre e favelado empoderado de discurso e posses frequentando os mesmos espaços públicos e privados, e que descortinou o nosso racismo à tropical baseado na miscigenação cultural pacificadora, poderia ser retomado? Somente através da invenção de um golpe, um golpe nas estruturas políticas do país, na máquina, que de acordo com Faoro em "os donos do poder" institucionalizou o patriarcalismo, e as elites atuais já até elegeram um novo representante do coronelato, impossível de ser empreendido como no inicio da república, ele precisa de uma roupagem "moderna", mas sem deixar as relações sociais conservadoras e censitárias de lado.
Esquizofrenia 5: No mundo do trabalho a falácia da qualificação. "Tem vaga no mercado, falta é profissional qualificado". "Tem que fazer curso", "aprender inglês", e mais uma caralhada de mentiras. Da minha geração, colegas, amigos e conhecidos, com nível superior, em várias áreas do conhecimento, são poucos os bem empregados, a maioria vive de "fazer bico". E quando vamos ao mercado a busca da tal da vaga para qualificados nos deparamos é com a falta de posto de trabalho, que é bem diferente de faltar qualificação e com a tática do golpe da esquizofrenia 4, o que os empresários fizeram fecharam ainda mais postos de trabalhos e a tal da crise atinge quem, os profissionais qualificados, que precisam desses poucos postos que foram fechados. 
Enfim, ENLOUCRESCENDO!!!!!!!!!!!!  

Simone dos Santos BorgesHistoriadora e Cientista Social. 

  

sábado, 6 de junho de 2015

Gritando diante de tanta loucura

É! A cada dia venho descobrindo o que me "desencantou" tanto com ensino na Educação Básica. 

Esta semana, me vi trabalhando num espaço educacional o qual comecei a pensar sobre tudo que aprendi a respeito de avaliação, os muitos textos de Luckesi,  abordando a avaliação como processo de aprendizagem, e não como mecanismo de meritocracia ou ainda como simples quantificação da aprendizagem. O que vi foi um retorno ao medievalismo em que avaliar é punir. 

Será que os novos (ou velhos) educadores nunca vão deixar de lado a arrogância de achar que o jovem precisa obedecer cegamente e nunca questionar os modelos de avaliação que lhes são imputados, e que ao burlar esses mecanismos os jovens colocam para esses "educadores" que os mesmos foram superados, e que eles, jovens, tem ciência disso. 

Como professora sempre me pergunto antes de entrar numa sala de aula o que é educar, bem como, o que é ensinar. Hoje, penso que ensino, apenas, e não que isso seja pouco, até por que ensinar, também é aprender, e aí senhores "educadores" que usam a avaliação para punir, saibam que ao ensinar se aprende e com isso devo dizer que não há nada de errado em não ser o detentor do saber. 

Há coisas que meus alunos compreendem, mas do que eu, e a coisas que eu compreendo mais do que eles, e assim nós trocamos informações, e com isso produzimos conhecimento. 

Mas, ao mesmo tempo, penso nos alunos que não querem participar de um processo de troca, e são aqueles que a escola tem como "perdidos", e em nenhum momento faz nada para ensiná-los, pois a escola quer "educa-los". Para mim, educar hoje é sinônimo de adestramento, então se eu "professor" não adestro esse aluno ao padrão do modelo de escola ultrapassado do século, sei lá, XIX, eu o "suspendo", ou "expulso", ou vou puni-lo com um prova a qual eu preparei com a intenção de lhe dar zero e provar para ele o quanto ele fracassou. 

Sobre a famosa "cola", na minha opinião, é um ato que questiona os modelos de avaliar, em certo e errado. Como cientista social, entendo que há relatividade em certas opiniões, e que por isso o certo de um, pode ser o errado de outros. 

A "indisciplina" muitas vezes questiona o modelo de "disciplina", mas, também, essa juventude está tão acostumada a repetir os padrões e modelos arcaicos de pensamento do iluminismo ultrapassado, de modelos empiricistas, que não reconhecem novas formas de aprender e ensinar, esta quer professores arcaicos por que ela também é arcaica. E são poucos os jovens que se abrem as experiências novas de aprender e ensinar.

Quanto mais tempo passo dentro das salas de aula da educação básica, me vejo desencantada, como Bourdieu, escreveu sobre "o desencantamento do mundo". A educação básica, frustra uma quantidade enorme de professores com novas propostas de ensino, que vão além do iluminismo ultrapassado, e, por isso, esses jovens professores inovadores estão abandonando as salas de aula, por que nos sentimos como o escravo fugitivo do mito da caverna Platão e que quando retornarmos a essa sociedade de cegos das sombras, nos sufocam, nos oprimem, nos matam. 

Desencantei, e acho que nesse caminho, de desencantamento o único capaz de compreender o que sinto é Bourdieu, por que foi através da leitura do seu texto, que descobrir que o que sinto sobre minha profissão é desencantamento, mas não qualquer desencantamento, por que é preciso compreender, é preciso ler, é preciso refletir, e com todas as dificuldades propor mudanças. Ainda que a sociedade não queira ouvir.

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social     

quinta-feira, 9 de abril de 2015

“Liberdade religiosa: legislação e vivências”

Hoje realizamos mais um Trilhas Culturais, evento que abre nosso calendário em 2013, e que pudemos contar com a participação do Professor/Historiador Willian de Paula e do, também, Professor/Historiador Eduardo Abbud. Ambos convidados a participar do debate sobre “Liberdade Religiosa: Legislação e Vivências” promovido pelo Núcleo de Pesquisas em Estudos Culturais – NPEC. Evento que contou com a participação de um grupo variado de pessoas entre acadêmicos, estudantes, e interessados no tema.
Abri o debate com uma breve fala sobre as diversas legislações do Brasil que mantiveram a liberdade de culto e manifestação da fé de maneira pública, desde que não ofenda os demais direitos garantido pela Carta à União, e o fato da mesma nesses 124 anos de República ter sido promulgada em de Deus, algo que no imaginário acaba por suscitar privilégios a uma determinada religião em detrimentos de outra.
Ao tempo em que devido ao caráter peculiar de nossa sociedade, que no dizer de Laura de Melo e Sousa aceitou e tolerou a diversidade religiosa aqui existente de acordo com os interesses do Estado desde os tempos coloniais, trouxemos o debate para os problemas gerados com a posse do deputado “Pr. Feliciano” a pasta dos Direitos Humanos no senado brasileiro.
Devido ao caráter homofóbico, racista, sexista e misógino das declarações que o mesmo proferiu sobre a comunidade negra, GLBTT e mulheres, os participantes questionaram-se juntamente com os apresentadores, sobre os problemas gerados por tal posicionamento, tanto a comunidade evangélica como para com os sujeitos que se sentem agredidos pelas declarações desse deputado, o qual nega a renuncia ao cargo, mesmo diante da rejeição popular a sua presença como presidente desta pasta.
Assim, o Professor/Historiador Willian de Paula, trouxe a cena do debate o significado etimológico da palavra religião, do latim Re-Ligare, ou seja, estar ligado a deus, ou conectar-se a Deus. Em sua fala, nosso convidado deixou para nos a reflexão de que esse é o fim ultimo das religiões independente de suas profissões, é a paz interior, o bem estar individual e coletivo que está presente nos discursos religiosos.
Ao mesmo tempo em que, nosso convidado, explanou sobre o caráter preconceituoso de alguns indivíduos religiosos, sobretudo os cristão neopentencostais, pois tal prática esta relacionada à: práticas sociais historicamente construídas, e não a princípios religiosos.
Ainda no âmbito das vivências religiosas, trouxe-nos a cena a aproximação entre natureza e religião, no qual na maioria das religiões essa é uma das principais premissas, pois quando se recorre ao banho de folha, nos casos das religiões de matriz afro, ou ao óleo ungido da praticas neopentencostais, ou ainda ao chás do xamanismo, estamos na verdade reivindicado os “poderes” ocultos nas forças da natureza, os quais acabam sendo cultuados em quase todas as práticas religiosas, destacando o caráter multifacetado dos adeptos das diversas religiões no Brasil.
Sem é claro, esquecer de mencionar aqueles sujeitos que escolhem por conta própria, optar por não ter religião ou mesmo não aderir a nenhum tipo de crença a deidades.   
Dessa, maneira finalizamos nossa reunião trazendo aos presentes um exemplo prático de vivencia religiosa multifacetado, como a “Festa do 2 de Fevereiro”, muito bem apresentada pelo, também, professor/historiador Eduardo Abbbud. Morador do bairro do Rio Vermelho, sempre conviveu e participou da festa, percebendo mudanças nas práticas litúrgicas que acompanham o festejo.
Em seu trabalho, ele nos apresenta essas mudanças como fruto de uma “tradição inventada” seguindo a lógica do trabalho de Eric Hobsbawn, em que tradições podem ser criadas e recriadas, ele coloca que as mudanças pela qual passou e passam essa festa está relacionada com a criação de novas invenções a partir dos interesses dos grupos que ocupam e participam do festejo.
 Assim a “Festa do 2 de Fevereiro” que começou em Louvor a Srª Sant’Ana pelos pescadores, moradores do bairro, a qual possuía elementos de um catolicismo abrasileirado, onde um desses moradores se sente na obrigação de fiel de mandar rezar missa para a orixá Iemanjá ao mesmo tempo que louva a Santa.
Os pescadores são destituídos de suas obrigações religiosas após a chegada de uma nova categoria social ao bairro, uma elite branca e católica, a qual será responsável então por organizar a festa tão popular do bairro e fruto da devoção de homens simples e de cor.
Tal episódio gera tensões sociais, uma vez que o mesmo se dá nos primeiros anos da república, em que apesar da garantia da liberdade de culto promulgada na constituição, as casas de axé e terreiros de candomblé precisam notificar as forças policiais sobre suas festas. As tensões ficam ao cargo dessa dicotomia religiosa que imiscui praticas católicas e não católicas no cotidiano da devoção dos baianos. Com medo da “morte da festa” os pescadores se unem em torno do presente a Iemanjá perpetuando a tradição que se reinventa a cada geração. 
Com isso acreditamos ter alcançado o objetivo desse encontro, o qual consistiu em fomentar o debate sobre a respeitabilidade religiosa, buscando identificar nas leis brasileiras, e no conhecimento deixado a nós pelos adeptos dos diversos cultos religiosos o diálogo entre as múltiplas formas de expressão do sagrado.


Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social 

Esse texto foi escrito em  06/04/2013, no encontro do Núcleo de Pesquisas em Estudos Culturais. Durante encontro da linha de pesquisa Patrimônio Cultural, Memória e Religiosidade.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ideologias, elas ainda não morreram, mas em se tratando de Brasil sofrem na UTI do SUS.

Venho só observando e ouvido, ao tempo em que me coloco bem atenta aos rumos que essa crise social e político-econômica vem provocando no país.

Ontem ao assistir a final do BBB ouvi Cazuza, e não conseguir parar de pensar o quanto isso é atual e explica todo essa "droga"

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

Link: http://www.vagalume.com.br/vale-tudo/brasil.html#ixzz3Wj05y9pN


A novidade da semana é a tentativa de nossos amados deputados de aprovarem a lei que permite a terceirização em todas as áreas da cadeia produtiva (confesso que fiquei surpresa quando ouvi a repórter da globo ontem utilizando uma expressão assim, tão marxista). Enquanto trabalhadora e consciente das consequências para minha categoria e dos riscos que uma crise econômica oferece, com essa novidade legislativa, e ontem me acendeu uma "luzinha". 

Se repararmos bem, o congresso vem desengavetando propostas que havia ido para a gaveta, justamente por ser polêmicas e demandar um debate amplo com a sociedade, em alguns casos inclusive que necessitavam de plebiscito, haja visto que vivemos em uma democracia, e nos metendo goela abaixo. 

A primeira das leis desengavetadas foram as mudanças para obtenção e recebimento do seguro desemprego, pensão, e pis. É claro que o país precisa de uma reforma previdenciária, mas será que tirando da parcela de trabalhadores assalariados e que são vitimas da precarização desordenada das relações de trabalho que o rombo da previdência será solucionado? 

Por que que essas reformas não atingem as pensões vitalicias das esposas (algumas já não restam nem mais os ossos), filhos e netos dos que lutaram na Segunda Guerra Mundial, ou ainda dos nossos governadores que se aposentam logo após o seu mandato, ou da aposentadoria dos juízes e magistrados que são altíssimas? Não, a elite empregadora que resolver isso aplicando novas regras ao trabalhador assalariado que é quem paga a conta dos outros. 

Numa alusão aos antecedentes da Revolução Francesa do século XVIII, no Brasil a classe trabalhadora assalariada mas parece o 3º Estado francês, responsável por sustentar o 1º e 2º Estados, que nosso caso não é o clero católico e a nobreza, mas sim a bancada evangélica e as elites empregadoras, que por vezes se confundem

Outra lei desengavetada foi a redução da maioridade penal, algo que demandava de um plebiscito para ser aprovada, assim como foi feito com a questão do desarmamento, mas não "os justiceiros" de plantão foram bastante proativos na aprovação da lei, nunca vi nossa câmera e nossa senado tão dinâmicos e proativos assim! 

Vocês até podem querer saber minha opinião sobre a redução da maioridade penal, mas o que sei é, que, um país que prefere investir mais em construção de presídios do que na promoção da educação básica, o futuro que se forma não pode ser tão cor de rosa como o Walt Disney sempre nos ensinou. 

Vejo nisso a legitimação, em seu sentido lato, da exclusão social e racial, já que todo presídio no Brasil, tem um pouco de senzala. Mas, também não nego que muitos jovens se aproveitam do abrandamento da lei para comentem crimes hediondos. É preciso ter cautela antes de aprovar uma lei dessas num país como o nosso, há questões sociais e históricas que precisam ser reparadas antes do endurecimento legal.

E nessa leva de trabalho exaustivo da câmara e do senado nacional, que em menos de seis meses esta vindo com o golpe de morte nas classes populares a legalização da terceirização em todas as etapas da cadeia produtiva. Se, falei de brincadeira, que se houvesse uma nova Ditadura Militar me mudava para o Uruguai, já começo a pensar na possibilidade real de mudança. Pois, como trabalhadora assalariada em tempo de crise econômica e arrocho salarial, tenho consciência do empobrecimento que a terceirização pode gerar num país como o nosso.

A pior parte disso tudo é a sutileza do negócio, descubro um escândalo de corrupção deixo ele vazar na mídia, faço a classe média que me serve de "massa de manobra", nessa hora, marchar pelas ruas das cidades brasileiras propondo coisas estapafúrdias como o retorno da ditadura militar, impeachment, privatização da Petrobrás e o fim da corrupção, tudo com o aval da grande mídia, enquanto sorrateiramente venho e dou um golpe de morte nos direitos trabalhistas, adquiridos em meio a ditadura varguista, que nessa hora começo a pensá-la mais democrática do que nossa atual democracia, com todo exagero dessa minha fala. E aí a sociedade fica distraída e não se manifesta diante das reais intenções das elites empregadoras representadas no senado e na câmara.

Com o executivo enfraquecido, pois diante dos "escândalos" mencionados acima, este poder perdeu sua força de aprovação de agendas, me parece que "as leis" serão sancionadas para desespero de todos os trabalhadores brasileiros, sejam eles especializados ou não, por que a classe média que marchou as ruas pelo fim do atual governo também será atingida, aí me lembro de outro compositor para encerra esse texto.

"E agora, José!"  

 Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social. 



quarta-feira, 18 de março de 2015

"É proibido proibir" já dizia Caetano!!!

Graças aos céus, ou a luta de muitos cidadãos e cidadãs do passado vivemos em um Democracia.

Impossível não falar dos últimos acontecimentos do país, manifestações contra a Democracia e ao mesmo tempo a favor dela foram realizadas no ultimo dia 15/03/2015, afinal o ato de protestar só é possível num Estado Democrático de Direito.

Vi e li muitas declarações, na dita cuja manifestação, que só são possíveis de ser proferidas dentro dessa concepção política, afinal aqueles que pedem a volta da ditadura, talvez não saibam ou fingem não saber, que era proibido aglomerações, organizações sociais de qualquer natureza, quanto mais protestar fosse a favor ou contra. O lema do "Brasil, ame-o ou deixe" era máxima com o endurecimento do Regime.

Então vamos analisar algumas imagens das passeatas em favor da Democracia Ditatorial e contra a "Cúrrupção".

Vejamos a primeira:

  Algumas pessoas na manifestação parece não saber que feminicídio é a compreensão de que o assassinato de mulheres em situação de risco familiar é um crescente no país, e que por isso deve ter a penalidade endurecida devido ao ódio manifestado as mulheres nesses atos. Dados de 2014, segundo organizações do combate a violência contra a mulher, é de que a cada 15 segundos uma mulher é agredida em nosso país, e que 7 em cada 10 serão agredidas de alguma forma ao longo da vida. E a fome no Brasil vem sendo superada, programas como o bolsa família servem para isso, claro que no nosso país ainda temos muita fome, sobretudo aquela que não é de pão, tendo em vista que Jesus há mais de dois mil anos atrás pregou que "nem só de pão viverá o homem". A sociedade brasileira, creio eu, ainda tem muita fome, mas dessa vez não é de pão, o relatório da ONU publicado recentemente, retirou o Brasil das cabeças dos índices de país com números expressivos de famintos, deu até no "Jornal Nacional".

 Quando vi essa placa me perguntei: Se o Supremo Federal Tribunal sumir, quem vai julgar os atos advindos de investigações do Ministério Público e da Polícia Federal? É só para ser investigado, e dar notícias sobre os criminosos? Afinal, nessa hora não tem como não lembrar de Montesquieu, pois ele quem inventou a teoria dos poderes, ao que me lembro das aulas de Política II, o Judiciário é um poder neutro, ou pelo menos deveria ser, para que possa julgar, com justiça, os atos considerados criminosos a conduta cidadã previstos pela e na Constituição. Nesse bojo veio uma outra pergunta, a quem dos envolvidos no "lava jato", por exemplo, interessaria o fim do Supremo? Acho que não vou ter resposta! A única coisa que ficou clara para mim nessa faixa, foi a mensagem subliminar pedindo a renuncia da presidenta, uma vez que na atual conjuntura o impeachment é inconstitucional e o Supremo sabe disso.

 Tô até agora pensando por que diabos a Anistia Internacional fez essa denuncia? Não analisou os fatos direitos quando publicou essa campanha? https://www.youtube.com/watch?v=Urzj5tfrdB0


Essa imagem vai ter que ficar maiorzinha, pois se o Brasil é de todos, onde estão os negros e indígenas pelo fim da "cúrrupção"?

E para finalizar as análises das imagens da manifestação, as exigências de uma educação de qualidade 
 O TRIÂNGULO da corrupção representado por um LOSÂNGULO. E aí os camaradinhas não contentes pediram
   É preciso então terminar com um ensinamento do mestre patrono da educação que antes mesmo de morrer, já respondia a essa acusação dizendo: "Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitissem às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica".

Escrevo essas análises em decorrência dos questionamentos do meus alunos do 7º ano do ensino fundamental, que diante de tais declarações precisavam saber se a pró de História não é mais uma dessas comunistas que defendem a corrupção e quer doutriná-los. 

Não sou comunista, pois na minha prática social só conheci o capitalismo como sistema sociocultural, político e econômico, não posso doutrinar ninguém por que senão estaria indo de encontro as palavras de Freire e suas reflexões sobre educação as quais sempre li de maneira reflexiva. 

Mas, defendo as ideias de Marx sobre o capitalismo, afinal se o que ele escreveu é sem sentido ou valor que as elites nos mostrem outros autores que explique tão bem, inclusive para eles, o sucesso e os problemas do capitalismo para com os menos favorecidos. Se ser de esquerda nesse país é combater injustiças sociais, por meio dá critica, atuação política e reflexão continua, então eu sou a maior de todas as marxistas e freirianas. 

Ficar omisso diante de mazelas sociais, ou ainda esquecer-se de olhar além das janelas dos vidros dos carros não é ensinamento cristão, não viver democraticamente, muito menos exercitar a capacidade humana inerente a todos os indivíduos, nesse sentido a omissão é a reprodução de opressão, injustiça social, e anti-democracia, lutas que meus antepassados combatem a muito tempo. 


Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social 



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Exorcizando meus fantasmas.

Os fantasmas me assombram desde que sou criança, mas esses fantasmas não são qualquer assombração. Sempre li muitas coisas e acredito que, por isso, tem épocas que os fantasmas às vezes rondam. 

Em 2015 tô exorcizando alguns deles, os mais cruéis creio eu, por que são fantasmas que sei que estão lá, combato-os diariamente, e eles insistem em se fazer presente. 

Meus fantasmas são pessoas comuns, que vivem em seu mundo particular da alienação social. Elas não "nasceram" com a capacidade de refletir sobre seus atos individuais como sendo reprodução de uma demanda coletiva dominante a qual se mantém assim, por que precisa de poucos intelectuais que reflitam sobre a sociedade capitalista em que vivemos, como bem nos lembra Gramisc em seus "cadernos do carcere". 

Essas pessoas comuns repetem o show de barbaridades que nossa impressa viciada exibe todos os dias em jornais sensacionalistas, na qual a pobreza, a violência, a sujeira e os atos mais babares da nossa sociedade sempre tem a mesma cor. É como diz a canção "a carne mais barata do mercado é a NEGRA". 

Uma vez, disse numa roda de conversa em minha família o quanto é difícil se manter honesto, fui bombardeada com o discurso do: passei fome, tive que ir trabalhar aos oito anos de idade, fui assediada pela meu patrão, morei de favor na casa de A, sofri muito e mesmo assim não me prostitui e "nem dei para coisa ruim". Discurso que a pessoa comum, mesmo sem perceber, concordava com minha reflexão das dificuldades em se manter honesto. Afinal a TV vende nas novelas, filmes, jornais e todo e qualquer programa de entretenimento um mundo que pessoas comuns, na maioria das vezes, não tem como manter, a não ser pela reprodução de injustiças sociais.

Padrões, Padrões e mais Padrões, eita coisa difícil de romper, são nossos micro-poderes, nossas prisões individuais coletivizadas, que me assombram, são meus fantasmas. Dos quais cada vez mais que leio, vejo o quanto me libertei deles, mas como não sou individuo solto no mundo, vejo, também, o peso e a pressão que eles exercem sobre mim e os que me cercam. 

Por que será que é tão difícil para essas pessoas comuns romper com o velho paradigma, ainda iluminista, racional, e "meritocrático", para não dizer destinado aos privilegiados,  e se debruçar sobre as novidades? Por que é tão difícil as pessoas comuns aceitarem o diverso? Por que é tão difícil as pessoas comuns se perceberem num mundo de maneira que a alteridade esteja presente em qualquer relação? Afinal "eu sou os outros" em qualquer contexto social que me deseje inserir. 

Acho que como Luther King tenho um sonho, em que um dia, eu mulher e negra deixe de "ser a carne mais barata do mercado". Pois, estudei e me dediquei tanto quanto qualquer filho de branco, e mereço ser reconhecida pelos valores morais que carrego os quais a sociedade em que vivo só não aceita por que não se vê como "eu"  e sim como "o outro".  

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social