domingo, 3 de maio de 2020

Identidade

O que essa pandemia tem me ensinado, é que em se tratando de Brasil, são tantas lutas diárias que temos que travar que me sinto cansada.
Hoje entendo quando alguns teóricos dizem para que nos foquemos apenas em uma luta, por que ela já é árdua demais, nesse caminho de isolamento social forçado, tenho percebido que os brasileiros e brasileiras não irão melhorar, a extrema direita será sempre esse lixo que ela é, o centrão será sempre um bolsão de troca de favores, a esquerda permanecerá perdida por muitos anos. Ah! E a sociedade civil continuará apática e amorfa defendendo interesses personalistas e costumeiros, privilegiando-se da opressão daqueles que os carregam nas costas, ou seja, dos trabalhadores.
A pandemia me faz pensar que devo continuar em uma única luta, que é pela educação básica escolar pública mantida sim pelo Estado, e pelo que venho lendo, federalizada. Ou seja, sobre a responsabilidade da União. Essa será minha única luta, com isso estou abandonando as outras, mas vou continuar sendo mulher, pobre, trabalhadora e da periferia, porém essa luta vou deixar para outras e outros.
Vou focar na educação fazendo a única coisa que sei fazer, pesquisar, escrever, publicar e apresentar (divulgação cientifica), seja na sala de aula onde atuo com minhas crianças, adolescentes, jovens e adultos ou em revistas, blogs, redes sociais, dentro dos ônibus ou em outros meios de informação quaisquer.
Por que sou Professora, e como professora não tenho missão ou vocação, tenho compromisso social de transformar qualquer espaço em sala de aula, pois a sala de aula é o espaço por excelência do exercício da dialética, da troca e da produção do saber, e para isso não é preciso estar dentro dos muros de uma escola.
Diante da atualidade brasileira, precisamos de professores e professoras que defendam a escola pública sim, mas para isso será preciso educar para a escola e isso não se faz de dentro do muro. É preciso ensinar a nova geração de professores e professoras sobre o papel social e político que eles tem, sair do lugar de terra arrasada, em que nos encontramos dos baixos salários e do desrespeito social da profissão, também, não sei como fazer isso ainda, mais é preciso fazer.
A história da educação tem me mostrado isso, sempre enquanto profissão estivemos na vanguarda do desenvolvimento desse país, mas temos sido constantemente silenciados, temos os meios de acesso ao conhecimento, não do conhecimento em si, mas como chegar a ele de como produzi-lo, no entanto, hoje estamos submetidos a meros reprodutores de livros didáticos competindo com sites de pesquisas variadas,vamos sair disso, é difícil eu sei, mas pega essas ferramentas tecnológicas todas que estamos usando para continuar reproduzindo, por que estamos sendo forçados e isso, e façamos uma revolução na forma de ensinar, quebremos a internet.
Vamos nos unir para repensar a profissão professor e professora nessa pandemia, e não simplesmente ficar reproduzindo uma sala de aula a nossas custas e sob o julgamento de pessoas que na maioria dos casos só querem o status de dizer "pago escola particular para meu filho e ele esta tendo aulas pelo computador", paremos de nos torturar e torturar essas crianças, isso não é ensinar e muitos menos aprender. Isso é tortura e faz de conta.
A escola não pode ser apenas um status, ela tem que ser mais, a educação tem que ir além da preparação para vitória do dinheiro, é preciso usar esse ciência para preparar pessoas para serem pessoas, e não apenas indivíduos egocentrados.
Enfim, ainda há muito sobre o que quero falar e escrever, mas vou deixar para outros dia.

Simone dos Santos Borges
Professora, Historiadora e Cientista Social.