sexta-feira, 30 de agosto de 2013

NO SUS OU NA REDE PRIVADA AINDA PEGO FILA

Olá senhoras e senhores, faz tempo que não venho aqui deixar meu recado. A culpa é dessa correria desenfreada de nossa vida agitada, desse capitalismo selvagem que faz com queiramos ficar ricos antes dos 30 anos.

Bom se eu vou ficar rica eu não sei, mas percebo o quanto as coisas estão agitadas nesse "Brasilzão" de meu Deus, de "o gigante acordou" a importação de mão de obra médica, o país anda fazendo a comunidade mundial refletir. No auge de todas essas loucuras de manifestações de reivindicações dos direitos individuais, é claro que tive vontade de opinar, pensei em escrever um milhão de coisas. Mas, resolvi me calar e observar, ler, também.

Nesse processo conheci uma das obras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, "tempos liquidos". Nessa obra o autor escreve sobre o "medo", aliás em várias outras ele faz isso também, e como ele é socio-politicamente construído e a que propósitos sociais ele serve na pós-modernidade, fazendo uma reflexão sobre esse movimento pós 11 de Setembro, Bauman me chamou atenção sobre sua leitura a respeito da "alienação".

Como marxista, ele faz uma leitura bem diferenciada desse conceito, que sai do âmbito do trabalho e entra na esfera da psique, ou de como diria Durkheim, dos laços sociais de coesão. O que isso tem haver com os acontecimentos mencionados nos primeiros paragrafos é que vejo exatamente o Brasil vivendo esse contexto descrito pelo autor no capitulo 3 intitulado " Estado, democracia e a administração dos medos".

Para o Estado foi comodo se fazer, até determinado momento desse surto de consciência coletiva, de desentendido, enquanto a impressa criava o clima de estéria coletiva chamando os cidadãos que reivindicam pelo exercício do seu poder politico de "vândalos". Após isso os gestores desse Estado diante do clamor popular resolve, também ter um surto, dessa vez de combate a corrupção e criação de uma norma ética deixando cair pec's e mp's que comprometeriam a autonomia dos órgãos que zelam pelo exercício do poder do povo. Além é claro de reavaliar noções morais de um cristianismo inquisidor que invadiu a politica e a sociedade brasileira.

Façamos um lista das coisas que aconteceram de junho até o presente mês de agosto, copa das confederações com uma vitória espetacular, para acalmar as "massas", da seleção brasileira em cima da fúria espanhola. Concomitantemente o movimento passe livre ganha as ruas de Porto Alegre e São Paulo, movimento que na verdade se iniciou em Salvador com a Revolta do BUZU em 2000, mas enfim para história oficial e de memória curta, a gota d'água se iniciou com  a classe média paulistana ocupando as ruas por causa de R$ 0,20 centavos no aumento da tarifa de lá; Em seguida papa Francisco vem ao Brasil orientar os jovens católicos na jornada mundial da juventude cristã, reforçando o conservadorismo modernizador tão caro a sociedade brasileira desde que a democracia surgiu com o advento da república. E pra fechar o trimestre, estamos agora importando médicos.


O que me preocupa de tudo isso é que de acordo com Bauman (2007, p. 67)

"A demanda por direitos políticos, ou seja, por desempenhar um papel significativo na elaboração das leis, foi,  [...], o passo lógico a ser dado quando os direitos pessoais já tinham sido obtidos e era preciso defendê-los. No entanto, pode se concluir, [...], que os dois conjuntos de direitos, [...], só puderam ser transformados em objetos de luta, obtidos e tornados seguros simultaneamente. Dificilmente seriam alcançados e usufruídos em separado."

Apesar de não se especialista em história politica do Brasil, no caso do nosso país eu não me recordo desses direitos terem sido alcançados juntos, principalmente em se tratando da população negra e de baixa renda que ainda é majoritária nos "campos de refugiados", numa alusão aos conflitos do oriente médio refletido pelo autor, os quais ocupam em nosso país os hiperguetos, são donos de lugar sem lugar. Afastados dos seus direitos políticos e pessoais, não podem cursar faculdades de medicina, e então nosso país precisa importar um médico negro de fora, nada contra isso, mas é preciso refletir sobre.

Na nossa famigerada "democracia racial" a repórter diz: "não sei se é preconceito, mas a médica negra cubana parece empregada doméstica", as estudantes de medicina brancas que sempre ocuparam os lugares sociais privilegiados vaiaram o cubano por que ele é cubano ou por que ele é negro? E a população esta realmente cansada da corrupção, o "gigante" realmente acordou? Ou só saberemos disso na copa do mundo de 2014? Em que os filhos dos pedreiros que construíram o estadio nem passarão na porta dele, já que a FIFA mandou criar cordão de isolamento.

Nesse caminho sigo pagando por uma assistência médica, que ao ter uma simples dor de ouvido a médica clinica Camila Porto, examinou seu computador, uma vez que não se dignou nem a olhar meu ouvido para ver se tinha cera entupindo, e que nos 5 min que me atendeu apenas digitou no computador. Bom, se os médicos importados ao menos conferirem a pressão arterial já vai ter valido apena o meu imposto e as cinco horas em média que ficamos na fila, tanto no médico público quanto no privado. Por que os que se formam aqui não tem conhecimento em duas disciplinas básicas Antropologia do negro no Brasil e Formação da Sociedade Brasileira.

Vou continuar as minhas leituras.

Simone dos Santos Borges.