segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Segunda década do século XXI, e uma conjuntura sufocante

Gostaria de escrever coisas positivas, pensando um futuro promissor, para a terceira década do século XXI que se aproxima, onde sonhar e tecer mais sonhos fosse uma realidade possível de ser vivida, mas infelizmente o prognóstico não é dos melhores. Às vezes me sinto como se estivesse nas primeiras décadas do século XX, se puder datar temporalmente no período entre guerras, onde uma "onda" conservadora tomou conta do sufrágio. Naquela época o perigo eminente era o socialismo real, mas hoje ao mesmo tempo que não há este perigo, começo a pensar que há outro tão "nefasto" quanto, o principio democrático. 

Um dia desses me peguei a pensar nas aulas de política I, do curso de ciências sociais, em que os gregos (Platão e Aristóteles) já alertavam para o fato de que a democracia degenera em tirania, e olhando o que acontece, nas Américas em 2016/17, parece que este principio é verdadeiro, sobretudo se pensarmos nos Estados Unidos, tida até ontem como a maior democracia do planeta.

Bom, a palavra democracia, pressupõe a participação, direta ou não, do povo nas tomadas de decisões de uma determinada sociedade, mas com a evolução desse conceito, a ideia de povo e participação na tomada de decisões ampliou-se, democracia não diz apenas respeito as decisões na esfera do político, mas também ao direito de exercer, a igualdade e liberdade. O termo povo ampliou-se para além do sujeito homem, em que tudo começou. E é bem verdade que nesse processo algumas categorias sociais, assustaram o sujeito homem de direitos em que a democracia, sobretudo a moderna, foi desenhada. 
  
Mulheres, gays, negros, muçulmanos, latinos e todos os representantes dessa inúmera diversidade social que compõe a raça humana passou a ter voz, e uma voz que ecoa cada vez mais alto, apesar dessa "onda" conservadora tentar calar. Os meios para esse silenciamento é de extrema perversidade, os quais eu não preciso relatá-los, basta ler e assistir as noticias de jornais.

Uma "onda" que compele aos jovens, uma vida em que literalmente se vegeta, pois não existe poesia, não há arte, não há livre expressão do amor, e da essência humana, nessa nova "onda", só há espaço para o ódio, e a exploração do homem pelo homem, manutenção de estruturas sociais desiguais, e mais ódio, talvez até, pela condição de humanos. 

Devo confessar que diante de tanto ódio que se estabelece nas mais pequenas das relações sociais, me sinto numa conjuntura de pré-guerra, onde literalmente, só falta um estopim, como a "invasão da Ausácia-Lorena", o "assassinato de um arqueduque", ou "invasão da Polônia". Até por que as alianças militares já estão formadas, as bases políticas orquestradas, e as bandeiras religiosas levantadas. 

Assim, devo confessar que a conjuntura sufocante é de medo. De um medo que espero não se concretizar, por que dessa vez, não serão os judeus os ocupantes das campos de concentração e câmaras de gás. 


Com muito pesar, 
Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social