domingo, 27 de março de 2011

Mudando o rumo da prosa.

Olá meus queridos e minhas queridas, hoje quero conversar com vocês sobre outras coisas. Primeiro peço que todos leiam esta frase e reflitam sobre ela e sobre sua fonte.

"A exclusão da escola de crianças na idade própria, seja por incúria do poder público, seja por omissão da família e da sociedade, é a forma mais perversa e irremediável de exclusão social, pois nega o direito elementar de cidadania, reproduzindo o círculo de pobreza e da marginalidade e alienando milhões de brasileiros de qualquer perspectiva de futuro."(Plano Nacional de Educação, 2001) 

A primeira vez que tive contato real com as leis de educação foi no segundo semestre de 2010, ao me debruçar sobre essa leitura comecei a refletir a respeito dos problemas que cerca a educação brasileira, vejo a mídia culpar governos, culpar os professores e professoras, dizem que não somos bem qualificados, vejo os pais e mães nos culparem, como se a responsabilidade da educação fossem apenas destes profissionais, me incluo aqui por que também sou professora.
De acordo com a Constituição Nacional "o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo", ou seja, o Estado tem por obrigação oferece-lo, mas não pode obrigar ninguém a educar-se. Com isso, percebo muitos jovens freqüentarem escolas e universidades pedindo "pelo amor de Deus falte aula hoje" ou que "tomara que esse/a professor/a não venha hoje"; "pra que é que tenho que estudar isso"; "ave! Tô cheia dessa escola", etc. Isso também se reflete na participação dos pais na vida escolar, aos responsáveis com filhos matriculados na rede particular já ouvi: "eu tô pagando caro, não quero que meu filho/a perca de ano"; "quem esse/a professor/a pensa que é para falar assim com meu/minha filho/a"; "eu é que não vou perder tempo com reunião de pais e mestres"; "escola boa é a que oferece computador, aula de dança e futebol, e que não reprova", etc. São inúmeros comentários desse tipo, claro que devo ressaltar os bons frutos dessa cesta.
Mas, o que quero discutir aqui é a respeito das políticas publicas de educação que o Brasil vem implementando desde aprovação da nova LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996 onde há garantia de uma educação inclusiva, participativa e democrática, valorização dos profissionais de educação, criação de fundos de investimentos na educação nacional e organiza do ponto de vista estrutural a educação, não podemos nos esquecer da obrigatoriedade dos governantes em formular um PNE - Plano Nacional de Educação decenal, o qual estabelece as metas do Estado para educação nesse período. Um enorme avanço, para um país que ainda possuí uma quantidade de professores leigos alfabetizadores alarmantes.
A Revista Nova Escola em sua edição comemorativa de 25 anos (janeiro/fevereiro) trouxe uma série de reportagens sobre as mudanças na educação nacional neste intervalo de tempo, onde tivemos a universalização do ensino fundamental (antigo primeiro grau - 1ª a 8ª série), o aumento de investimento na formação docente, melhorias de infraestrutura física dos estabelecimentos públicos de ensino, investimentos e legislação na educação rural, de jovens e adultos e educação infantil, obrigatoriedade e inclusão social e tecnológica, gestão escolar participativa e democrática, universalização da merenda escolar e investimento em materiais didáticos, são as principais e significativas mudanças.
Mas, os problemas ainda são enormes em 2010 o Brasil ficou na 53ª colocação na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos de um total de 65 nações, segundo fontes da revista, o que significa que apesar de todo o investimento e de todos planejamentos elaborados e metas estabelecidas algo esta saindo errado, então precisamos achar o culpado?
Acredito que não, digo isso, por que percebo na conversa do dia-a-dia com meus alunos/as, colegas de profissão, amigos/as, pais e mães de estudantes o quanto eles sentem a necessidade de uma educação contextualizada e de boa qualidade. Mas, ainda consigo perceber também uma desvalorização sobre essa necessidade, afinal ela é uma atividade que não gera lucros imediatos e que necessita de altos investimentos, o que fazer?
Sinceramente, acredito que quem conseguir responder a essa pergunta morre, pois vai descobrir um dos segredos da condição humana (risos), quando se fala em ser professor/a a primeira coisa que vem na cabeça das pessoas é um bando de coitados pobrezinhos e que não tiveram competência pra ser medico/as, advogados/as, engenheiros, etc. A pergunta que faço é: será que existira algum desses profissionais sem professor/a? Na minha humilde opinião falta reconhecimento social desta profissão, por que no ranke dos salários estamos em 8º lugar - segundo uma das edições do jornal a tarde, não lembro qual o número, faz tempo que li sobre isso, mas sei que foi em 2010 - junto a isso, precisamos parar de dizer, sobretudo alguns colegas meus de profissão, que a escola pública é local de "marginal", de indisciplina e "incivilidade".
Ainda não são todas, mas muitas escolas publicas são muito bem equipadas, agora o material não é utilizado com o desculpa de que "é pro aluno não quebrar", mas também tem muito professor/a que vai para sala de aula sem um planejamento, pois em sua formação (estágio) ele ouve o tempo todo "esses alunos não querem nada",
Além da conscientização individual dos profissionais de educação, falta uma grande reformulação nesse modelo de escola tradicional linear progressiva, pois os recursos didáticos por mais avançados tecnologicamente que sejam ainda são usados a maneira antiga, sabatinada "decoreba" e por vezes mercadológica, pois boa escola é aquela que aprova no vestibular das universidades federais, bom professor/a é aquele que ensina o macete para passar na prova e não o que media conhecimento para a vida.
Em suma: quero dizer que a Educação é o maior de todos os bens, "se um médico erra assassina apenas um, mas se a Escola erra assina gerações inteiras", quando critico o modelo posto, o faço na tentativa de chamar a atenção a complexidade das relações sociais que envolvem a contemporaneidade, a transdiciplinariedade e interdisciplinariedade que envolvem os saberes e que o currículo escolar não acompanha, pois este a ainda é pensado de maneira estanque e individual, os AC's que não ocorrem a contento, e a participação efetiva da família e sociedade que ainda insiste em se dissociar do ambiente escolar, finalizando esse texto quero chamar atenção para a importância do decreto 6.094/2007 Compromisso Todos pela Educação e sua 28 diretriz que convoca a todos para participarem dessa instância da sociedade, para que não cometamos o pecado de excluir milhares de jovens à seu direito básico do exercício da cidadania de maneira plena.

Simone dos Santos Borges

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ave! Como sofro.

Chegou a hora de escrever dinovo. Vamos lá a mais um momento cotidiano e discussão de gênero.
Bom, 8 de março como todos vocês já sabem é o dia Internacional da Mulher, pra variar recebi aquela enormidade de poesias, textos, slides e outras coisinhas me desejando felicitações, me dizendo o quanto as mulheres são fortes para vencer os mais variados obstáculos, e que a vida é assim mesmo, mulher nasceu para sofrer e superar, mostrar sua força e valor.
Cabe-nos duas perguntas: o que é essa força ou de onde ela emana? E qual é o valor das mulheres?
Acredito que, se ser forte é passar o tempo todo apanhando, no sentido abstrato, e as vezes até físico da palavra, puta que pariu, ser mulher então é sinônimo de saco de pancada. Se mostrar o valor, é ser a esposa dedicada de cama, mesa, fogão e mãe, ser mulher se reduz apenas ao ato da obediência bíblica do "crescei e multiplicai-vos" e esquecei-vos de pensar.
De todas as celebrações e homenagens às mulheres a que mais gostei e chamou atenção foi a entrevista feita pela apresentadora Ana Maria Braga a, nossa grande militante do combate a violência contra a mulher, Srª Maria da Penha.
A qual vale apena conhecer sua trajetória, ex-esposa de um agressor de mulheres que se tornou paraplégica ao levar um tiro do seu ex-companheiro, se é que assim podemos chama-lo, esta que bateu em varias portas em busca de ajuda para denunciar seu agressor, mas que não a obteve, tendo em vista que até o ano de 1996 o Brasil tinha em sua Constituição a vergonhosa Lei do Crime de Honra, em que os maridos "ofendidos" podiam assassinar suas esposas e sair ilesos de tal ato. Ela sempre lutou para combater e coibir as agressões as ditas senhoras do sexo "frágil".
Na entrevista apresentadora e entrevistada discorriam sobre os avanços da Lei 11.340/2006 a qual recebe o nome desta senhora, devo confessar que até escrever esse artigo e assistir essa entrevista não sabia bem do que a mesma tratava, agora sei que a mesma prevê a prisão dos maridos, companheiros, irmãos, pais ou qualquer ente familiar que venha agredir mulheres, além de garantir proteção e manutenção ao direito da vida.


"Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências"(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm)




São considerados pelo Estado brasileiro como violência contra mulher: as agressões físicas, psicológicas, sexuais e morais. Esta previsto nesta lei desde as políticas publicas de combate a violência contra a mulher até os modos de atendimento das autoridades policiais, assim como as ações emergênciais àquelas que se encontram com seu direito a vida ameaçado. 
No papel um grande avanço, na pratica um enorme atraso, pois a demora nos julgamentos, a falta de divulgação de como funciona esta lei e a quem ela atende, o machismo ainda arraigado a nossa sociedade, e a impunidade aos agressores de mulheres, fazem com que depois de quase cinco anos, tenhamos o quadro de estatísticas de violência contra as mulheres tão alto.
Durante a entrevista a Maria da Penha falava na demora em prender os agressores, no descumprimento do flagrante, tendo em vista que para ser autuado o agressor precisa ser pego em flagrante, na demora em certos juízes e juízas em determinar o veredito prisional o que ainda leva muitas mulheres a morte e na  necessidade que temos, enquanto cidadãos, de denunciar os agressores. 
Vale retomarmos as duas perguntas iniciais, o que é a força e o valor feminino? Ao tentar me responder essa pergunta lembro-me de Simone de Beauvoir quando li "A Mulher Independente", a autora diz que as mulheres só serão realmente livres quando emanciparem o corpo, ou seja, que é necessário as mulheres tratarem o sexo da mesma forma que os homens. Ainda somos violentadas pelo fato de que possuímos um valor feminino ou de feminilidade que não foi por nós elaborado, a distinção mulher pra casar e mulher pra trepar e apanhar é muito cruel. 
Os padrões de essência feminina que beiram a futilidade também são de uma crudelidade imensuravel, então vamos parar de fingir e dizer-nos uma as outras que somos fortes por que superamos nosso sofrimento, as opressões do cotidiano e libertemos nosso corpo, para que não venha outrem e dele queira se tornar dono. 
Digamos em conjunto: meu útero é meu não pertence ao Estado ou Igrejas para que essas instituições decidam o que deve ou não dele nascer, minha vagina é minha para fazer o que dela eu bem entender, assim como meu coração é meu para dá-lo e amar a quem eu quiser. Concordo com minha chara em muitos aspectos e a libertação e propriedade do individuo sobre o corpo, assim como o sentimento de pertença, são os primeiros passos, na minha opinião para se acabar com a violência contra as mulheres.              

Escrito por: BORGES, S. S.