domingo, 26 de outubro de 2014

A ditadura ideológica que vivemos é: conservadorismo.

Penso nos últimos meses e em todo o bombardeio que minhas redes sociais, sejam elas concretas ou virtuais, vem sofrendo com as nossas eleições, contudo não é possível deixar esse momento que se encerra hoje (26/10/2014) passe sem uma reflexão.

Das campanhas direcionadas nas redes sociais estavam:


  • Vote em políticos não homofóbicos, mas não quero na família e nem aceita na sociedade pessoas que assumem publicamente relações homo afetivas, afinal elxs devem se dar ao respeito;
  • Votem pelo direito das classes sociais, mas nem pensar em garantir políticas sociais como o bolsa família ou minha casa minha vida, por que isso é assistencialismo;
  • É hora da mudança, mas vamos devolver o poder executivo a um homem heterossexual, branco e latifundiário.


Enfim, as campanhas se resumiam, na minha opinião em:


  • Votem pelas elites, pois elas sabem o que é melhor para o Brasil. Numa leitura, bem simplória da teoria das elites de Mosca e Pareto, a elite brasileira ainda reivindica para si o "direito natural" de governar, afinal as classes populares, na cabeça da nossa elite, nunca entenderam nada de politica mesmo. 


Talvez o que a elite brasileira ainda, não tenha percebido, por que como diria Gramisc, ela necessita de poucos intelectuais que pensem as estruturas do sistema de maneira que mantenham-no. Ou não queira mesmo admitir, é que as classes populares tem plena consciência do seu voto, não é por dentadura, cesta básica ou uma cisterna d'água que simplesmente votam no atual partido no poder. Acredito que esse é o momento de barganha das classes populares, ela sabe que não esta bom, mas sabe que esse grupo que esta no poder é mais fácil conquistar direitos e acessar cidadania, de maneira legitima e eficaz, diferente de ter um líder das elites no comando, pois aí não haverá barganha.

As camadas populares da sociedade brasileira sempre utilizou momentos históricos como o que vivemos atualmente, para barganhar direitos fundamentais, foi assim como a população de escravizados quando começaram a utilizar a via da negociação para resolução dos conflitos com seus senhores, recorrendo inclusive ao caminho jurídico, quando necessário (vide Wlamira Albuquerque, João José Reis, Walter Fraga, Katia Mattoso, etc.).

Já na republica tivemos o tenentismo, os movimentos anarquistas, as greves, um outro tipo de consciência política, que em 1945/46 (não lembro bem) levou a população ao "queremismo" varguista, uma vez que foi sobre a chancela desse presidente que a classe trabalhadora conquistou direitos fundamentais consolidados em lei - CLT. (vide Edgar Decca, José Murilho de Carvalho, Lucila Ferreira, etc).

E a nossa história política recente é recheada de momentos de barganha, inclusive da elite e classe média, a qual bem se beneficiou do "50 anos em 5" propostos por JK, assim como o boom do desenvolvimentismo durante a ditadura militar que a deixou numa zona de conforto, e assim ela (a elite e a classe média) preferiu fechar os olhos diante do que acontecia nos porões do DOPS, afinal nos anos 70 o Brasil era tricampeão mundial de futebol para que melhor, quem não estava gostando que o deixasse!

Ai veio a abertura política e Collor surrupiou a poupança da classe média, presidente maldito. Itamar Franco, então vai preparar a subida da elite mais uma vez e entra em cena o PSDB, na figura de Fernando Henrique Cardoso, e durante 4 anos a classe média mais uma vez barganhou, tirando ondinha, de moeda forte, e viajando para Europa e América do Sul, por isso FHC foi re-eleito por mais 4 anos.

Eis que surgi uma força maldita para classe média, as classes populares, que insufladas pela força eminente de barganhar como havia feito na década de 1930 elege como representante do executivo um operário.

E no inicio do século XXI, a classe C virou B, e as Classes C, D e E passaram a fazer parte da população economicamente ativa do país, ou seja, tornaram-se potenciais consumidores na nossa sociedade capitalista.

Fato que desagradou e desagrada a nossa elite, afinal essa "pobralhada" passou a frequentar os mesmos espaços, enfim, na minha humilde leitura, finalmente as fronteiras entre a "senzala e a casa grande" começaram a ser transpostas. As classes populares, enfim, acessaram a "casa grande" de maneira legitima, e obrigou os que lá estavam em sua área de conforto a conviver com as mazelas sociais que antes eles negavam existir, e confrontar-se com essa realidade é cruel, então por isso, ela reivindicou sua força midiática para promover essa mudança conservadora e retomar as fronteiras entre senzala e casa grande, a qual espero não tenha exito ao final desse dia, uma vez que as classes populares ainda tem muito a barganhar, e nisso concordo com Marx, quando o mesmo afirma que a própria burguesia cria a força que irá destitui-la dos postos de comando, e não vejo ai o proletário puro e simples como querem os marxistas ortodoxos, mas essa força destrutiva que a burguesia criou foi o "princípio da universalidade", o qual vem sendo requerido desde que os "direitos do homem e do cidadão" fora criado na Europa e se espalhou por todo o ocidente.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social.