sábado, 16 de fevereiro de 2013

Por que escrevo 3

Sinto uma necessidade louca de escrever, por que tenho visto e escutado muitas coisas que me deixam chocadas, diante da situação esdrúxula de um "conservadorismo moral" que invade a juventude soteropolitana, ao menos a pequena parcela de adolescentes e jovens com quem tenho contato.

Fico ouvindo as conversas de corredores das escolas e universidades, filas dos bancos, restaurantes, e até das pessoas que estão ao meu redor no ônibus. Para ficar mais claro o que quero dizer, vou dar um exemplo, outro dia indo pra faculdade, já super atrasada, peguei um ônibus até o Iguatemi, tinha duas meninas de no máximo 16 anos falando sobre moda, uma dizia para outra o quanto usar salto alto é vulgar, por que torneia demais as pernas, que as mulheres que usam cinta, sutiã de bojo, ou qualquer outro artifício que modela o corpo, são falsas, estão enganando os homens, e que por esse motivo não conseguem relações estáveis e duradouras. Que odiavam as pessoas que tomam informações com o cobrador do ônibus, por que na cabecinha delas esta não é uma questão digna de resposta.

E me peguei refletindo sobre essa conversa e as coisas que tem se apresentado pra mim nas relações cotidianas, vejo homens e mulheres cada vez mais conservadores, não sei por que me choco, afinal a Bahia, melhor Salvador, sempre foi uma cidade que enalteceu seu "conservadorismo progressista". Tem horas que, mas parece que estou vivendo numa provincia do século XIX, em que mesmo com toda a novidade tecnológica trazida com o advento revolução industrial, não apagou as tentativas monarquicas de restauração do absolutismo (vide Congresso de Viena em 1885), e da recolonização, no caso da então América Portuguesa.

Esse "conservadorismo moral" me assusta, pois me pego pensando nos homens heterosexuais que se transvestem de mulher no carnaval, e quando termina a folia momesca, saem por aí dando chutes, socos e pontapés nas cabeças de homens assumidamente homosexuais ou ainda, amigos e pais e filhos que andam de mãos dadas nas ruas, ou que se abraçam em público. Como se dois homens se abraçando ou se beijando fossem algum tipo de aberração. Isso sem falar desses programas de televisão sensacionalistas exibidos nos horários das três principais refeições, que mostram ao povo da nossa, "burra", classe média, uma periferia, que eu como moradora dela a 29 anos nunca vi.

Tais programas mostram nossa juventude negra como sendo drogados, arruaceiros, ladrões, estrupadores, e o que é pior anencefalos. Me desculpe a dureza das palavras, anencefala é a classe média, para não generalizar, algumas das pessoas dessa categoria social, que não se dão ao trabalho de olhar além das aparências, que não conseguem fazer uma única reflexão se quer mais profunda da sociedade em que vivem.

Exibem suas conquistam materiais, mas esquecem-se de dizer "eu te amo", pior esquecem-se de sentir o amor. Afinal, é o carro que é mais importante, a viagem ao suburbio da América Latina em crise financeira, por que não conseguem administrar a cotação das suas finanças, devido ao alto grau de corrupção que assola os países de tradição colonial ibérica, a máquina nova de fotografar, o restaurante caro que posso pagar e exibir a nota fiscal no album do facebook, ou de qualquer outra rede social, o local pomposo onde trabalho, para manter um padrão de vida, enquanto se como arroz com ovo, para não descer ao nível da "negrada" que faz aquele penelaço de feijão, samba e bebe para esquecer a dureza da semana de trabalho, que é mais importante.

Nossa conservadora Salvador, "terra de encanto e magia", receberá no prazo de 1 ano, um dos principais eventos do calendário esportivo mundial, mas a cidade está se preparando. Os ônibus adaptavéis ao transporte dos cidadãos cadeirantes mau funcionam, perdemos em média 40 min. para que este cidadão tenha seu direito de ir e vir assegurados, ouvir uma vez, o fiscal de uma das muitas empresas de ônibus que rodam na cidade dizer que: na garagem os mecanicos são vetados de dar a estes equipamentos a devido atenção, para evitar custos altos. O metrô que não sai do papel, e as vias públicas de transpote ficam cada vez mais caóticas, porém os "cidadãos soteropolitanos" só lembram de fazer essa denuncia do transtorno que é a volta para casa no canarval, como se fosse novidade aos usuários de ônibus a longa espera nos pontos da cidade. E não quero entrar, no merito do acesso a Saúde, pois no caso dos idosos é que esse sistema se mostra cruel, pois parece que a ordem do dia nos hospitais é que o atendimento prestado a estes cidadãos devem ser os piores possíveis, afinal nossa sociedade capitalista e conservadora é para/do jovens, e de preferencia brancos de classe média B.

Lembro-me de Emile Zola, quando li Germinal a primeira vez, é um exército de homens e mulheres que brotam da terra, e são condicionados e recondicionados a situação de miséria e pobreza em que vive. E a "Revolução"? Ah! Ela esta longe de acontecer, pois no individualismo da sociedade capitalista e utilitarista, não entra o conselho de Ernesto "Che" Guevara, "pero hay que luchar, sim jamas peder la ternura".