quarta-feira, 7 de abril de 2021

Eu preciso desopilar minha mente.

Ontem eu paralisei. Não consegui finalizar o trabalho.

Não consigo entender esse espectro de normalidade que alguns tentam me imputar a seguir. 

Nesse mesmo período de 2020, resolvi não ver mais jornais televisivos, por que, era pesado para mim, ouvir no café da manhã, almoço e janta, quantas pessoas estavam morrendo, naquela época, os números eram de 400 mortes diárias, para mim, era tão pesado ouvir que esse tanto de gente morria em uma dia, que não conseguia mais tomar o café da manhã. 

Aquilo me angustiava de tal forma, que um sentimento de medo e desespero tomaram conta. Na minha individualidade, estava no meu melhor momento pessoal, havia alugado um apartamento aconchegante, estava iniciando uma vida em outra cidade, estava Feliz. A pandemia fez meu castelo desmoronar, e por diversas vezes achei que não conseguiria chegar até a presente data, mas cheguei, e me considero uma sobrevivente. 

Mas, ontem foi demais! Demais saber que 4 mil pessoas, e para cima, morreram de covid-19. 

Não, cara pálida! Não foi de covid, foi de negligência, de falta de uma política pública eficaz, do egoísmo, da ideia de "pirão pouco, o meu quinhão primeiro", da estupidez de um fanatismo religioso, que faz campanha para reabrir igrejas, de um projeto de Estado que deturpa o conceito de liberdade civil. Da ignorância da falta de educação escolar e instrumentalização científica.

Da falta de consciência de classe, de entender que os mais vitimados da FALTA, são pobres e trabalhadores, mulheres, pretos e pretas. Favelados!!

Sim, somos vitimados da FALTA, de compaixão, de amor ao próximo, na acepção cristã da palavra. FALTA de HUMANIDADE. 

Como a morte de mais de 4000 (quatro mil) pessoas não comove? Não provoca repulsa? E não mobiliza, aos vivos quererem mudar, querem lutar pela vida? Qual conceito de vida, para os que seguem - sabendo que esse tanto de gente morreu - as suas igrejas, aos seus trabalhos, as suas casas para ver novela? Por que lhes faltou paciência para confrontar o luto coletivo dos que mesmo, não sendo uma vítima direta dessa tragédia, sofre junto?  

Não aguento mais sobreviver!! Mas, continuarei sobrevivendo a todo essa dor e luto. E se tiver alguém aí, sentido essa dor de perdas, somem-se comigo para orar, pelos sobreviventes como nós, por aqueles que perderam, e, por aqueles que estão lutando para sobreviver. 

Em luto pelas famílias brasileiras vitimadas pela estupidez. 


Simone dos Santos Borges 

Historiadora e Cientista Social