domingo, 5 de janeiro de 2014

Individualidade coletiva? Ou coletivo individual?

Sempre me pergunto por que escrevo, o que me angustia ao ponto de ter uma necessidade incessante de colocar nas teclas do computador as dores e alegrias que carrego. Confesso que na maioria das vezes tenho quase a certeza de que não encontrarei essa resposta, mas enfim, preciso escrever, então escrevo. 
Pode ser que escrevo por conta da minha situação de sujeito individualista, que as vezes dentro da própria individualidade se preocupa com o coletivo, ou que talvez pense que "minha" coletividade seja individualista. Sei que é complexo demais, mas é isso que observo nos últimos meses, e é isso que vem me inquietando. Nunca vi uma sociedade tão individualista como a nossa, sei que estou pensando de forma generalista, mas é isso que venho sentido. Parece até que a alteridade morreu.
Tenho exemplos dessa individualidade dentro de casa, na escola que trabalho, na faculdade que estudo e até entre meus amigos. Devo admitir que a experiência individualista que mais me chocou foi a com os amigos, de uns tempos quando ligo para saber como eles estão (e ligo pouco para saber disso, por que não gosto muito desse contato virtual) percebo que eles(as) estão muito ocupados em me dizer quanto dinheiro ganham, qual o valor de seus gastos pessoais como sinônimo de status, as aquisições superfulas do dia a dia, o quanto seu emprego é mais importante que o meu, ou quanto são melhores do que eu por ter adquirido uma condição financeira para deixar o bairro periférico de onde nasceram. E que na única vez que você ligou para pedir ajuda foi de um desdem. 
Situações como conviver diariamente com aquela pessoa que não consegue desvencilhar o olhar do próprio umbigo, e que um dia você pensou que ela(e) fazia isso por que não parava para pensar no que estava dizendo/fazendo, mas que hoje você sabe que ela(e) faz por pura maldade. Crianças que cercam você por que não sabem dividir e acham que o mundo gira em torno dos seus pés, uma vez que os pais delas as deixaram acreditar que é assim mesmo, que são incapazes de pensar em outro que não seja si próprio, pois mesmo sendo crianças são más.
É, falsos moralistas que se indignaram com minha ultima frase, existem crianças que também são más. 
Ainda sobre o individualismo, tem também aquela pessoa em que você confiava que te excluiu aos poucos dos seu circulo de amizade por que você assumiu um tipo de relacionamento, que não era o que ela queria para você, e que sua felicidade passou a incomodar demais para que ela continue vivendo do seu lado. 
Em fim, poderia enumerar muitas situações em que a individualidade, as vezes disfarçada de inveja, vão aparecer, mas o que preocupa mesmo é essa nova onda das fotos self as pessoas deixam de curtir um momento a dois, a três, a quatro sei lá, que poderia ser mais interessante, para postar foto de si mesma na rede social. Eu acho que isso é loucura, mas os críticos vão chamar de onda narcisista. 
Coitado de Narciso, que em tempos de vida virtual, perde e feio para os adeptos de seu culto. Não consigo entender alguém querer viver sozinho com sua máquina fotográfica, camuflada de celular, do que ter e dar um abraço, um beijo, ou simplesmente um oi ou um sorriso. O olhar nos olhos morreu junto com a alteridade. 
Outro dia meu companheiro me acusou de ser racional demais, talvez eu seja mesmo. Penso demais antes de tomar qualquer decisão, rara são as vezes que ajo por impulso. Mas, como ele diria, tem uma explicação racional para isso, não quero magoar quem está perto de mim com uma palavra lançada sem retorno, ou com um gesto do qual possa me arrepender e não ter tempo para pedir desculpas. 
Prefiro pensar que todas as pessoas são boas, ainda que tenha a consciência de que não são, para que quando uma criança chegar a mim com um gesto nobre, pela nobreza de sua infância, eu não especule a hipocrisia dos políticos, ou minha mesmo, afirmando categoricamente que esta criança vai ser político quando crescer, talvez ela só queira ser alguém gentil.
Como não sei como finalizar esse texto, sigo o dia pensando, refletindo sobre o que fazer para continuar olhando as pessoas a minha volta nos olhos e não deixar a alteridade morrer, fazer como minha professora de etnografia disse: "estar em Roma como os romanos". 

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social