sábado, 29 de janeiro de 2011

O Brasil do século XXI ainda pensa o casamento e a mulher como no século XIX.

Bom, finalmente consegui ter o insight para escrever meu primeiro texto, depois de quase um mês pensando no que escrever, eis que me surge diante dos olhos observações, reflexões e indignações relacionadas a situações do cotidiano que me levam a este desabafo. Digo que este texto é um desabafo por que como mulher, consciente da minha condição política, percebo que o trato dado pela sociedade a instituição do casamento ainda possui um pé, ou talvez os dois, no século XIX.


Há duas situações voltadas para o tema do casamento, que me ocorreram de maneira, muito próximas que vão servir de base para esta analise. A primeira trata-se de uma obra de ficção, na verdade uma novela vinculada pela Rede Globo de Televisão, que por medida de segurança, afinal não quero ser inquirida por plágio, ou outra forma de crime autoral, não irei mencioná-la, apenas narrarei a estória. 


A dada personagem do sexo feminino, órfã, se apaixona pelo "mocinho", rico finge-se de pobre, para angariar o coração da donzela, pois o mesmo já havia sido vitima do golpe do baú, a "mocinha" então fica grávida e cheia de sonhos, vai contar ao namoradinho a novidade. E qual não é sua surpresa, aquele bom rapaz, se transforma num calhorda e abandona grávida, sob a acusação, pobre donzela, de "golpista". Esta é acolhida pela família de seu melhor amigo e refaz sua vida social e sentimental, mas quando o “felizes para sempre” parecia ser o grand finalle, eis que ressurge o "mocinho" o qual passa a exigir da donzela seus direitos de pai (nada contra até ai) e de marido, uma vez que este homem "sensível" obriga através de uma ardilosa trama a "mocinha" a se casar com ele.


Na outra situação não se trata de ficção, mas “qualquer semelhança é mera coincidência”, tive a oportunidade de ir a São Paulo, e conferir de perto o que alguns membros, ainda que ínfimos, do ponto de vista quantitativo, dessa cidade pensam a respeito dessa instituição. Bom, durante um comentário inocente, não sei, até que ponto, a esposa “A” diz: "As mulheres tem mais poder que os homens", o marido “A” responde um tanto enojado: "Deus é mais", então é dado inicio ao seguinte debate: as mulheres desvirtuaram o homem, por que Eva comeu do fruto proibido, e quando casados homem e mulher se tornam uma única carne, Adão foi obrigado a pecar por conta de sua companheira, Sansão pobre coitado foi seduzido pela "chaninha" (grifo meu) de Dalila e por isso obrigado a pecar (diriam alguns amigos meus: - eh pecado bom!). Como se o debate já não estivesse interessante, a esposa “B” diz: "Amor, vamos para a casa de sua irmã¿", o esposo “B” responde: "não", a esposa “B” insiste: "Posso ir¿", o esposo “B” responde de maneira incisiva: "Não", assim a esposa “B” abaixa a cabeça e acata a ordem do marido.

Temos duas situações ou a emancipação feminina não ocorreu, o que creio não ser verdade, tendo em vista as inúmeras mulheres que romperam e rompem com o paradigma da submissão e enfrentam as situações postas pela sociedade patriarcal como normal e coisa do cotidiano, em cheque, e nos faz perceber que um tapinha dói e pode levar ao “feminicídio”.

E a outra é: como no inicio da segunda década do século XXI, onde as relações afetivas e sociais se tornam cada vez mais complexas, e a mesma mídia que difundi “não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”, transmite com suas mensagens subliminares que o papel da mulher é ao lado do macho dominante, e na maioria das vezes opressor¿

Entendo que vivemos um momento de transição das relações sócio-culturais, a cultura em seu interessante e incessante processo de espiral não estático, vem modificando e mudando concepções, afirmando e reafirmando ideologias e ideais, mas ainda não consigo conceber como os homens e mulheres que compõem este cenário social tem dificuldade em se livrar desses estigmas: mulher namoradeira é puta, mulher recatada é otária, mulher que não casa é encalhada e mal sucedida, mulher que não tem filho, ou melhor, que nunca pariu, não é realizada, mulher dedicada ao trabalho ou é lésbica ou ruim de cama.

Ai! Essa dualidade às vezes me cansa e não pára, as mulheres que são santas, são falsas, se ela não trabalha não presta, por que só quer o dinheiro do cara, se ela gosta de rosa e frufrus é por que não tem conteúdo é Barbie, se é bonita não pode ser inteligente, se é inteligente é chata...

E ainda fizeram uma série de TV intitulada “o que querem as mulheres¿”, na minha opinião deveria ser "o que querem de nós¿"

Entendo que o casamento sempre foi um negócio, ou seja, no século XIX esta instituição foi mantida por famílias ricas e abastadas para somarem e engrandecerem seus bens materiais, nessa instituição o amor sempre ficou na vontade. Também entendo que essa reivindicação pelo amor no casamento é uma invenção do romantismo, mas a que se dizer que este sentimento tão sublime não pode ser deixado de lado.

O casamento não é de todo ruim, ele não precisa ser um véu da opressão feminina e muito menos um martírio para os pobres homens que teoricamente vão ser obrigados a “comer” a mesma mulher todos os dias, isso se ele agüentar fazer sexo todos os dias.

A vida a dois como diriam os românticos, serve para nos trazer aquela sensação de que não estamos mais sozinhos, temos alguém pra cuidar e alguém para cuidar de nós é uma vida de troca, e não se iludam, os românticos não previram as contas de fim de mês, as brigas pela tampa do vaso sanitário abaixada, a pasta de dente amassada pelo meio, a calcinha pendurada na torneira do chuveiro, a TPM, a andropausa, o futebolzinho do fim de semana, a cachaça com os amigos, o peido embaixo do cobertor...

Enfim o amor é um sentimento lindo, mas não resiste a fome, pense nisso antes de casar, principalmente as moças de plantão que acham que vão encontrar pela frente o “Happy And”.

A aos homens que pensam em ter uma moça prendada de cama, mesa e fogão, não se iludam os tempos são outros, como diria minha chara Simone d’Boauvir, o homem que oprime, deprime e reprime uma mulher é por que dúvida de sua própria virilidade, então seja macho e respeite a mulher que esta ao seu lado.


Escrito por: BORGES, S. S.