domingo, 20 de fevereiro de 2011

Aos amigos e amigas (texto escrito após finalização das urnas na eleição presidencial de 2010)

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Hoje dia 31 de outubro de 2010 vivemos um momento importantíssimo na História do Brasil, elegemos a primeira MULHER para o comando máximo do país e olha que por alguns instantes dessa campanha cheguei a acreditar que isso era apenas um sonho.
Vale dizer que essa foi à eleição das mulheres, dei meu voto no primeiro turno a Marina Silva, sua ética e postura profissional, me levaram a querer e concordar com seu discurso de igualdade de oportunidades, e que mandássemos duas mulheres para o segundo turno das eleições nacionais. E quase deu certo, foi por muito pouco.
Devo admitir que nos últimos oito anos passamos por transformações incríveis e marcantes no mundo da política. São situações que por vezes nem imaginávamos, por exemplo, vimos o primeiro homem nordestino, sem formação universitária, retirante da seca e líder sindical chegar a presidência da república no Brasil, um índio assumiu a presidência da Bolívia, num país em que a maioria indígena nunca teve voz e para ficar boquiaberto, um homem negro passou a ocupar o espaço físico, social e econômico mais importante nos EUA, feito que dispensa qualquer tipo de comentário.
E qual o impacto disso para a sociedade¿ Será que as minorias e os marginalizados sociais finalmente estão assumindo as rédeas na tão sonhada ditadura do proletariado preconizada por Marx e Engles¿
Bom, Milton Santos disse que esta na mão dos “pobres” o caminho para a mudança das relações sociais capitalistas e a construção de uma nova globalização, na qual não exista mais dominantes e dominados, pois, somente eles conhecem as suas mais profundas necessidades e os mecanismos para supri-las. Mas, não sei se é isso que ocorre, acredito que não se trata da ditadura do proletariado sonhada pelo marxismo escatológico de que no “final do mundo” teremos o paraíso na forma do socialismo.
Vejo a vitória de Dilma Roussef como mais um avanço, ou seja, mais um passo na luta contra o preconceito, a discriminação racial e sexual e o apartheid racial, sexual, social e econômico no qual vivemos de maneira velada. A marginalização das minorias se tornou algo tão sutil que em nosso cotidiano nos legamos ainda ao luxo de fechar os olhos diante dos catadores de lixo, dos homens, mulheres e crianças que vivem da mendicância nas ruas das cidades brasileira, dos flagelados e flageladas da seca, que pude testemunhar, vendendo voto, por um carro pipa de água para garantir sua sobrevivência, as mulheres que são violentadas, torturadas psicológica e fisicamente, além de ser assassinadas com requintes das mais pura e racional crueldade, como foi o caso da ex-namorada do goleiro Bruno. E ainda sim temos o habito de dizer: - racista, preconceituoso/a, eu¿ Não, o racismo esta acabando e a discriminação de gênero também.
Posso afirmar que a vitória de Dilma vem na baila de um grito desesperado que uma parcela consciente da sociedade solta para que a destruição da condição humana não se perpetue. Para nós, mulheres, do ponto de vista ideológico e político dessa condição é mais um grito na nossa emancipação, além de equiparação salarial, dissemos nas urnas da nossa democracia obrigatória que queremos equiparação e reparação social, necessitamos de Igualdade de Gênero com urgência.
Temos uma de nós no comando do país. Uma mulher que demonstra em suas características faciais força, uma força que emana de todas as mulheres militantes das causas femininas, sua consultora ou consultor de moda que a torna sensual sem vulgarizá-la ou masculinizá-la e ressalta sua beleza feminina na qual a faz demonstrar a sensibilidade sem fragilidade e frescuras esquizofrênicas que nos foram impostas ao longo dos séculos.
Não estou escrevendo esse texto para defender partidos, minha intenção é chamar atenção aos leitores que os papéis não estão se invertendo, muito ao contrário eles estão se afirmando. Foi-se o tempo em que felicidade feminina era sinônimo de casamento e procriação. Hoje as mulheres querem a mesma liberdade sexual masculina, sem precisar dar explicações do tipo: olha, não sou puta. As mulheres querem ganhar dinheiro, viajar, querem sapiência, por que o saber sempre nos foi negado, e sobretudo aquilo que na tradição Greco-Romana, a qual nós ocidentais vivemos, sempre foi masculino muito desejado e disputado chamado PODER e aos poucos estamos conseguindo.
Com isso, quero dizer, que não devemos pensar numa inversão da dominação masculina pela feminina, a sociedade vem mudando seus ideais de moral social enraizadas no senso comum, vivemos um momento de transição das relações sócio-culturais violento, em que novas ideologias e modos comportamentais tendem a se afirmar ou já se afirmam de maneira que ter uma mulher no comando de um país de tradição patriarcal e patrimonial é um soco no estomago da própria sociedade, que tem seu modelo de chefe viril e virtuoso, no qual a mulher sempre coube a realização no âmbito doméstico questionado e colocado em cheque.
Não sei se Dilma fará um bom governo, temos quatro anos pela frente para descobrir, mas e quem diria que Lula, uma semi-analfabeto, como fora tachado, ia conseguir fazer o Brasil dá o salto econômico que deu, ou seja, nosso poder aquisitivo aumentou, compramos coisas de que nem precisamos, se o “bolsa família” é política publica social para erradicar a pobreza ou de “tapa buraco” não sei, devemos perguntar isso a quem só tem essa renda para sobreviver, se o PROUNI é política de reparação social ou de humilhação para os/as jovens brasileiros/as que adentraram a universidade graças a ele, devemos perguntar aos jovens de classe média alta que se utilizaram dessa política para concluir seus estudos, como vimos nos últimos tempos, e o mais impressionante dos feitos de Lula, ele acabou com o G-8 e criou o G-20, quer dizer, o semi-analfabeto se atreveu a fazer mudanças até na política mundial.
Mas, nem tudo são flores e tivemos oito anos recheados de denuncias de corrupção, “mensalões” e CPI’s que não ocorreram, pois, poderiam prejudicar a imagem e a sucessão presidencial, porém, vale ressaltar que foi a primeira vez que vi magnata ser algemado de cueca dentro de casa e levado para cadéia, até então, só tinha visto isso acontecer com preto, pobre e favelado.
Se Dilma conseguir dar continuidade a metade dos feitos de seu mentor será maravilhoso, então quer dizer que até o “mensalão” vai continuar¿ Talvez sim, talvez não, só vamos saber essa resposta daqui a quatro anos. Mas, voltemos um pouco em nossa história política local, lembram-se do “cabecinha branca” na Bahia, Antonio Carlos Magalhães, roubou mais fez durante mais de trinta anos, e foi legitimado por muitos de nós em sua política que ainda apóia o mandonismo de sua família.
Não quero com isso ser conformista, e muito menos legitimar a corrupção desse país que cria abismos entre as diversas categorias sociais, porém, se este for o único caminho para que o muro das desigualdades social, racial e de gênero reduza-se, então resta dizer, que desejo a ideologia das esquerdas muitos anos de vida e saúde.

Simone dos Santos Borges
Licenciada e Bacharel em História e graduanda em Ciências Sociais