sábado, 6 de junho de 2015

Gritando diante de tanta loucura

É! A cada dia venho descobrindo o que me "desencantou" tanto com ensino na Educação Básica. 

Esta semana, me vi trabalhando num espaço educacional o qual comecei a pensar sobre tudo que aprendi a respeito de avaliação, os muitos textos de Luckesi,  abordando a avaliação como processo de aprendizagem, e não como mecanismo de meritocracia ou ainda como simples quantificação da aprendizagem. O que vi foi um retorno ao medievalismo em que avaliar é punir. 

Será que os novos (ou velhos) educadores nunca vão deixar de lado a arrogância de achar que o jovem precisa obedecer cegamente e nunca questionar os modelos de avaliação que lhes são imputados, e que ao burlar esses mecanismos os jovens colocam para esses "educadores" que os mesmos foram superados, e que eles, jovens, tem ciência disso. 

Como professora sempre me pergunto antes de entrar numa sala de aula o que é educar, bem como, o que é ensinar. Hoje, penso que ensino, apenas, e não que isso seja pouco, até por que ensinar, também é aprender, e aí senhores "educadores" que usam a avaliação para punir, saibam que ao ensinar se aprende e com isso devo dizer que não há nada de errado em não ser o detentor do saber. 

Há coisas que meus alunos compreendem, mas do que eu, e a coisas que eu compreendo mais do que eles, e assim nós trocamos informações, e com isso produzimos conhecimento. 

Mas, ao mesmo tempo, penso nos alunos que não querem participar de um processo de troca, e são aqueles que a escola tem como "perdidos", e em nenhum momento faz nada para ensiná-los, pois a escola quer "educa-los". Para mim, educar hoje é sinônimo de adestramento, então se eu "professor" não adestro esse aluno ao padrão do modelo de escola ultrapassado do século, sei lá, XIX, eu o "suspendo", ou "expulso", ou vou puni-lo com um prova a qual eu preparei com a intenção de lhe dar zero e provar para ele o quanto ele fracassou. 

Sobre a famosa "cola", na minha opinião, é um ato que questiona os modelos de avaliar, em certo e errado. Como cientista social, entendo que há relatividade em certas opiniões, e que por isso o certo de um, pode ser o errado de outros. 

A "indisciplina" muitas vezes questiona o modelo de "disciplina", mas, também, essa juventude está tão acostumada a repetir os padrões e modelos arcaicos de pensamento do iluminismo ultrapassado, de modelos empiricistas, que não reconhecem novas formas de aprender e ensinar, esta quer professores arcaicos por que ela também é arcaica. E são poucos os jovens que se abrem as experiências novas de aprender e ensinar.

Quanto mais tempo passo dentro das salas de aula da educação básica, me vejo desencantada, como Bourdieu, escreveu sobre "o desencantamento do mundo". A educação básica, frustra uma quantidade enorme de professores com novas propostas de ensino, que vão além do iluminismo ultrapassado, e, por isso, esses jovens professores inovadores estão abandonando as salas de aula, por que nos sentimos como o escravo fugitivo do mito da caverna Platão e que quando retornarmos a essa sociedade de cegos das sombras, nos sufocam, nos oprimem, nos matam. 

Desencantei, e acho que nesse caminho, de desencantamento o único capaz de compreender o que sinto é Bourdieu, por que foi através da leitura do seu texto, que descobrir que o que sinto sobre minha profissão é desencantamento, mas não qualquer desencantamento, por que é preciso compreender, é preciso ler, é preciso refletir, e com todas as dificuldades propor mudanças. Ainda que a sociedade não queira ouvir.

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social