terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Exorcizando meus fantasmas.

Os fantasmas me assombram desde que sou criança, mas esses fantasmas não são qualquer assombração. Sempre li muitas coisas e acredito que, por isso, tem épocas que os fantasmas às vezes rondam. 

Em 2015 tô exorcizando alguns deles, os mais cruéis creio eu, por que são fantasmas que sei que estão lá, combato-os diariamente, e eles insistem em se fazer presente. 

Meus fantasmas são pessoas comuns, que vivem em seu mundo particular da alienação social. Elas não "nasceram" com a capacidade de refletir sobre seus atos individuais como sendo reprodução de uma demanda coletiva dominante a qual se mantém assim, por que precisa de poucos intelectuais que reflitam sobre a sociedade capitalista em que vivemos, como bem nos lembra Gramisc em seus "cadernos do carcere". 

Essas pessoas comuns repetem o show de barbaridades que nossa impressa viciada exibe todos os dias em jornais sensacionalistas, na qual a pobreza, a violência, a sujeira e os atos mais babares da nossa sociedade sempre tem a mesma cor. É como diz a canção "a carne mais barata do mercado é a NEGRA". 

Uma vez, disse numa roda de conversa em minha família o quanto é difícil se manter honesto, fui bombardeada com o discurso do: passei fome, tive que ir trabalhar aos oito anos de idade, fui assediada pela meu patrão, morei de favor na casa de A, sofri muito e mesmo assim não me prostitui e "nem dei para coisa ruim". Discurso que a pessoa comum, mesmo sem perceber, concordava com minha reflexão das dificuldades em se manter honesto. Afinal a TV vende nas novelas, filmes, jornais e todo e qualquer programa de entretenimento um mundo que pessoas comuns, na maioria das vezes, não tem como manter, a não ser pela reprodução de injustiças sociais.

Padrões, Padrões e mais Padrões, eita coisa difícil de romper, são nossos micro-poderes, nossas prisões individuais coletivizadas, que me assombram, são meus fantasmas. Dos quais cada vez mais que leio, vejo o quanto me libertei deles, mas como não sou individuo solto no mundo, vejo, também, o peso e a pressão que eles exercem sobre mim e os que me cercam. 

Por que será que é tão difícil para essas pessoas comuns romper com o velho paradigma, ainda iluminista, racional, e "meritocrático", para não dizer destinado aos privilegiados,  e se debruçar sobre as novidades? Por que é tão difícil as pessoas comuns aceitarem o diverso? Por que é tão difícil as pessoas comuns se perceberem num mundo de maneira que a alteridade esteja presente em qualquer relação? Afinal "eu sou os outros" em qualquer contexto social que me deseje inserir. 

Acho que como Luther King tenho um sonho, em que um dia, eu mulher e negra deixe de "ser a carne mais barata do mercado". Pois, estudei e me dediquei tanto quanto qualquer filho de branco, e mereço ser reconhecida pelos valores morais que carrego os quais a sociedade em que vivo só não aceita por que não se vê como "eu"  e sim como "o outro".  

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social