quinta-feira, 12 de maio de 2016

Hoje meu texto é sem titulo, por que não sei que nome dá ao retrocesso cognitivo da política brasileira. Ao levantar para ir ao meu trabalho (que não sei quanto tempo vai durar), mandei uma mensagem aos amigos nas redes sociais, a qual compartilho com os loucos e loucas que tem coragem de ler as coisas que escrevo.

"oficialmente somos um ditadura disfarçada de democracia"

Sinto-me consternada com tudo que acontece, mas quero ser solidária a presidente que elegi, por que sim votei nela nas eleições de 2010 (por acreditar que já era o momento dessa nação ter na liderança um mulher, uma forma de levante da autoestima de todas) e em 2014 novamente, por que já vislumbrava um golpe em curso. 

Do ponto de vista simbólico, rememoro Bourdieu e ao conceito de violência simbólica, por que o que nós mulheres politizadas e empoderadas desse discurso sofremos com o impeachemant de Dilma nesse momento é isso. Não foi só a democracia quem perdeu, as lutas de combate a violência contra a mulher perderam muito mais, perdemos voz, representatividade, identidade. 

Os discursos da câmara dos deputados em 17/04/2016 legitimavam a violência e usurpação do nosso corpo pelos homens velhos e brancos, até agora sinto repulsa ao lembrar do discurso de Bolsanaro (graças a Deus não sei como se escreve o nome dele), ao elogiar um estuprador e torturador de mulheres. Além da usurpação do corpo feminino, naqueles discursos estava o nosso silenciamento forçado. A nossa expulsão dos locais de tomadas de decisão, do local que nos torna cidadã de fato e de direito.

Dilma Rousseff foi colocada para fora da presidência, dentre um dos muitos motivos, por causa do conservadorismo misogeno da casa legislativa brasileira, pelo erro de ter nascido mulher e distante do padrão de feminilidade posto por essa sociedade patriarcal na qual nos estamos inseridas. 

Quem de nós mulheres nunca teve uma fala deslegitimada sobre o conhecimento em política? A famigerada frase "mulher não entende de política" ou "política não é coisa para mulher". Ah! Tem aquela maldita citação bíblica de que "o homem é quem dever ser cabeça da casa". E nos mulheres devemos ficar só vendo a história por que ela deve ser feita por homens. 

Pois, venho te agradecer Dilma Rousseff pelos 6 anos de representatividade, em muitas coisas discordei do seu partido, e ainda discordo, depois que assumiram a presidência da república. Mas, como mulher você hoje empoderou muitas a seguir em frente de cabeça erguida, sem o mi mi mi da fragilidade que nos foi enfiado goela abaixo desde quando nascemos. Como mulher nos ensinou a ser fortes destemidas "impávidas, colossais", e como diz no hino do estado da Bahia a ter a certeza de que "nunca mais, nunca mais o despotismo, regerá nossas nações, com tiranos não combinam, brasileiros corações". 

A senhora entrou no Palácio do Planalto pela porta da frente, enquanto muitos acostumados a desistir frente ao menor problema por diversas vezes a incentivaram a desistir pelo caminho da renuncia, permaneceu firme e forte nos seu posto onde legitimamente fora colocada, e que em seu último ato não teve medo em denunciar as injustiças que sofre, como nos mulheres sofremos todos os dias, pelo fato de termos rompido com os laços do patriarcado. 

Hoje, se estivesse próxima a senhora aí em Brasília te daria um abraço e flores. E empunharia os punhos fechados ao ar, como os panteras negras faziam, pois empoderastes muitas mulheres com sua dignidade e força política na história do Brasil, sem um minuto sequer abandonar sua trajetória política de luta pela democracia neste país. 

Muito obrigada, em nome de todas nós mulheres empoderadas, ou que ainda não sabem que são vitimadas pelo machismo do patriarcado presente nas leis consuetudinárias brasileiras. 

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social