terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O que esconde um sorriso (2.ª Parte)

No dia 6 de setembro do ano corrente, escrevi sobre sorrisos e dores que nunca cessam e das dificuldades que tenho (temos) de conviver com elas e admiti-las em nossa vida.  E principalmente de que não sei (sabemos) como superá-la.

Não mudo minha opinião daquele dia, tem coisas que nunca saberemos como resolver, mas hoje aprendi a como conviver com essas coisas com mais leveza e beleza, ao ler um livro depoimento lindo de autoria de Flavia Flores.

Ela escreve seu "quimioterapia e beleza" com foco para mulheres em tratamento do câncer, e ela poderia fazer isso contando suas dores e magoas o quanto sofreu e sofre mas que lutou venceu e por isso é uma guerreira e todas deveriam se mirar em seu exemplo. Mas, ela não faz isso.

Ela sofre, se desespera, e resolve VIVER como qualquer pessoa, que obvio tem um problemão pela frente. Digo que ela resolve viver, pois ao que entendi do seu relato, não é simplesmente lutar contra o câncer, mas contra a sentença de morte que fatalmente a sociedade, nós mesmos e alguns médicos dão as pessoas portadoras dessa e de outras doenças.

Ninguém nos ensina a como conviver com isso, simplesmente lhes dizem, como foi o caso dela, olha você tem câncer e vai ter que fazer uma mastectomia (cirurgia de retirada das mamas). É como se mulheres fossem vacas para terem os úteros e mamas retirados e dados de comer aos abutres, pois são partes podres e não servem, é isso ou então morrer.

Tenho uma irmã portadora de endometriose, por isso, não sei ao certo, desenvolveu miomas, também não sei como foi seu tratamento, nunca tive coragem de perguntar e ela mesma, às vezes, me parecia constrangida em falar sobre o assunto, mas na terceira cirurgia e mais arriscada, fiquei com ela em seu pós-operatório, e lembro-me o quanto ela chorou e me disse que se arrependia de não ter aproveitado mais a vida e de ter namorado e que agora ela não tinha mais útero e não poderia mais ter filhos, e aí minha ficha e minhas leituras de gênero caíram, pois até na hora da doença, nós mulheres somos tratadas como pedaços de carne.

O que isso tem haver com o livro da Flavia Flores? Minha irmã não teve câncer, mais o pouco que entendo dessas coisas, sei que seu quadro poderia ter evoluído a esse ponto, e que pena eu não achei esse livro antes, pois ela teria sofrido menos sabendo que ainda assim continuaria sendo mulher, independente dos órgãos que carrega.

Gosto e não me canso de ler o objetivo da Flávia Flores sobre seu trabalho "quimioterapia e beleza", ela diz: "a realidade que quero tratar aqui é aquela que, em meio a luta do tratamento, às repostas do corpo e a todas as outras preocupações da vida de uma mulher, pode ser esquecida e sublimada pela falta de autoestima, medo de rejeição, ou pela simples e dura doença. Portanto, se a mensagem desse livro é enfrentar o tratamento com otimismo e qualidade de vida, prazer é o que não pode faltar".

Seus depoimentos são simplesmente femininos, quando ela fala da sua vida, dos seus ex-parceiros e das coisas que fez com e por eles por que os amava, tal como um aborto, mas o quanto eles a julgaram por ter atitudes que revelavam a discordância de conviver com esses atos que lhes foram impostos. E quantas de nós não nos sacrificamos em nossa essência de mulher em nome do "amor". Achei triste quando ela relata o abandono covarde de um de seus companheiros durante o tratamento da doença, ao tempo em que revela a nobreza de sua pessoa ao tratar desse assunto.

E o melhor do livro, é (re)transformar as mulheres em tratamento do câncer, ou não, em mulheres novamente, lições que servem a toda e qualquer pessoa, como "a vida não pode parar! Nossos filhos precisam de nós, a família precisa, o trabalho precisa, a horta, o gato, as contas ..." enfim a VIDA.

É preciso fazer sacrifícios para fazer a vida valer a pena, tais como trocar de emprego, ainda que seja só uma aventura profissional, namorar, fazer um almoço ou jantar mesmo que o arroz queime e convidar aos amigos, ir aquele show mesmo sem o dinheiro para comprar o ingresso, parcela de um milhão de vezes no cartão. Mas, façamos a vida valer a pena, afinal: "a questão é que tudo no mundo é relativo" e cada um potencializa suas dores como julga melhor, já disse uma vez, somos antes de qualquer coisa egoístas.

"Não tem jeito, o ser humano é completamente adaptável às condições mais adversas e consegue tirar prazer de momentos dramáticos e dores de momentos singelos. mude a maneira como vai encarar os problemas daqui por diante e não pense que tudo vai sumir num passe de mágica" ... (FLORES 2013. p. 103)

É como diz Piaf, ao final do filme "um hino ao amor", quando questionada sobre que concelho dar aos jovens, "aimer, aimer quelquer choise" (ame, ame qualquer coisa).

Acho que essa resenha serve para desejar a todos um ano novo que promete ressignificados.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social


     
 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Quem disse?

Que é preciso estudar para melhorar sua condição financeira de vida?
Que é preciso casar-se para ser feliz?
Que uma mulher realizada é aquela que se tornou mãe?
Que bom pai é aquele que consegue sustentar financeiramente a casa?
Que ser homossexual é coisa do nefasto mundo demoníaco?
Que o politicamente correto é ideal?
E que a escola é lugar de aprender e ensinar?
Que desigualdades sociais nas cidades é um fenômeno exclusivo das cidades latinas, africanas e asiáticas?
Enfim, que "não existe pecado do lado de baixo do Equador?"


Não consigo não refletir!!!!!

Somos todos palhaços nessa louca realidade de "Alice".

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social