terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O que esconde um sorriso (2.ª Parte)

No dia 6 de setembro do ano corrente, escrevi sobre sorrisos e dores que nunca cessam e das dificuldades que tenho (temos) de conviver com elas e admiti-las em nossa vida.  E principalmente de que não sei (sabemos) como superá-la.

Não mudo minha opinião daquele dia, tem coisas que nunca saberemos como resolver, mas hoje aprendi a como conviver com essas coisas com mais leveza e beleza, ao ler um livro depoimento lindo de autoria de Flavia Flores.

Ela escreve seu "quimioterapia e beleza" com foco para mulheres em tratamento do câncer, e ela poderia fazer isso contando suas dores e magoas o quanto sofreu e sofre mas que lutou venceu e por isso é uma guerreira e todas deveriam se mirar em seu exemplo. Mas, ela não faz isso.

Ela sofre, se desespera, e resolve VIVER como qualquer pessoa, que obvio tem um problemão pela frente. Digo que ela resolve viver, pois ao que entendi do seu relato, não é simplesmente lutar contra o câncer, mas contra a sentença de morte que fatalmente a sociedade, nós mesmos e alguns médicos dão as pessoas portadoras dessa e de outras doenças.

Ninguém nos ensina a como conviver com isso, simplesmente lhes dizem, como foi o caso dela, olha você tem câncer e vai ter que fazer uma mastectomia (cirurgia de retirada das mamas). É como se mulheres fossem vacas para terem os úteros e mamas retirados e dados de comer aos abutres, pois são partes podres e não servem, é isso ou então morrer.

Tenho uma irmã portadora de endometriose, por isso, não sei ao certo, desenvolveu miomas, também não sei como foi seu tratamento, nunca tive coragem de perguntar e ela mesma, às vezes, me parecia constrangida em falar sobre o assunto, mas na terceira cirurgia e mais arriscada, fiquei com ela em seu pós-operatório, e lembro-me o quanto ela chorou e me disse que se arrependia de não ter aproveitado mais a vida e de ter namorado e que agora ela não tinha mais útero e não poderia mais ter filhos, e aí minha ficha e minhas leituras de gênero caíram, pois até na hora da doença, nós mulheres somos tratadas como pedaços de carne.

O que isso tem haver com o livro da Flavia Flores? Minha irmã não teve câncer, mais o pouco que entendo dessas coisas, sei que seu quadro poderia ter evoluído a esse ponto, e que pena eu não achei esse livro antes, pois ela teria sofrido menos sabendo que ainda assim continuaria sendo mulher, independente dos órgãos que carrega.

Gosto e não me canso de ler o objetivo da Flávia Flores sobre seu trabalho "quimioterapia e beleza", ela diz: "a realidade que quero tratar aqui é aquela que, em meio a luta do tratamento, às repostas do corpo e a todas as outras preocupações da vida de uma mulher, pode ser esquecida e sublimada pela falta de autoestima, medo de rejeição, ou pela simples e dura doença. Portanto, se a mensagem desse livro é enfrentar o tratamento com otimismo e qualidade de vida, prazer é o que não pode faltar".

Seus depoimentos são simplesmente femininos, quando ela fala da sua vida, dos seus ex-parceiros e das coisas que fez com e por eles por que os amava, tal como um aborto, mas o quanto eles a julgaram por ter atitudes que revelavam a discordância de conviver com esses atos que lhes foram impostos. E quantas de nós não nos sacrificamos em nossa essência de mulher em nome do "amor". Achei triste quando ela relata o abandono covarde de um de seus companheiros durante o tratamento da doença, ao tempo em que revela a nobreza de sua pessoa ao tratar desse assunto.

E o melhor do livro, é (re)transformar as mulheres em tratamento do câncer, ou não, em mulheres novamente, lições que servem a toda e qualquer pessoa, como "a vida não pode parar! Nossos filhos precisam de nós, a família precisa, o trabalho precisa, a horta, o gato, as contas ..." enfim a VIDA.

É preciso fazer sacrifícios para fazer a vida valer a pena, tais como trocar de emprego, ainda que seja só uma aventura profissional, namorar, fazer um almoço ou jantar mesmo que o arroz queime e convidar aos amigos, ir aquele show mesmo sem o dinheiro para comprar o ingresso, parcela de um milhão de vezes no cartão. Mas, façamos a vida valer a pena, afinal: "a questão é que tudo no mundo é relativo" e cada um potencializa suas dores como julga melhor, já disse uma vez, somos antes de qualquer coisa egoístas.

"Não tem jeito, o ser humano é completamente adaptável às condições mais adversas e consegue tirar prazer de momentos dramáticos e dores de momentos singelos. mude a maneira como vai encarar os problemas daqui por diante e não pense que tudo vai sumir num passe de mágica" ... (FLORES 2013. p. 103)

É como diz Piaf, ao final do filme "um hino ao amor", quando questionada sobre que concelho dar aos jovens, "aimer, aimer quelquer choise" (ame, ame qualquer coisa).

Acho que essa resenha serve para desejar a todos um ano novo que promete ressignificados.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social


     
 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Quem disse?

Que é preciso estudar para melhorar sua condição financeira de vida?
Que é preciso casar-se para ser feliz?
Que uma mulher realizada é aquela que se tornou mãe?
Que bom pai é aquele que consegue sustentar financeiramente a casa?
Que ser homossexual é coisa do nefasto mundo demoníaco?
Que o politicamente correto é ideal?
E que a escola é lugar de aprender e ensinar?
Que desigualdades sociais nas cidades é um fenômeno exclusivo das cidades latinas, africanas e asiáticas?
Enfim, que "não existe pecado do lado de baixo do Equador?"


Não consigo não refletir!!!!!

Somos todos palhaços nessa louca realidade de "Alice".

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

domingo, 26 de outubro de 2014

A ditadura ideológica que vivemos é: conservadorismo.

Penso nos últimos meses e em todo o bombardeio que minhas redes sociais, sejam elas concretas ou virtuais, vem sofrendo com as nossas eleições, contudo não é possível deixar esse momento que se encerra hoje (26/10/2014) passe sem uma reflexão.

Das campanhas direcionadas nas redes sociais estavam:


  • Vote em políticos não homofóbicos, mas não quero na família e nem aceita na sociedade pessoas que assumem publicamente relações homo afetivas, afinal elxs devem se dar ao respeito;
  • Votem pelo direito das classes sociais, mas nem pensar em garantir políticas sociais como o bolsa família ou minha casa minha vida, por que isso é assistencialismo;
  • É hora da mudança, mas vamos devolver o poder executivo a um homem heterossexual, branco e latifundiário.


Enfim, as campanhas se resumiam, na minha opinião em:


  • Votem pelas elites, pois elas sabem o que é melhor para o Brasil. Numa leitura, bem simplória da teoria das elites de Mosca e Pareto, a elite brasileira ainda reivindica para si o "direito natural" de governar, afinal as classes populares, na cabeça da nossa elite, nunca entenderam nada de politica mesmo. 


Talvez o que a elite brasileira ainda, não tenha percebido, por que como diria Gramisc, ela necessita de poucos intelectuais que pensem as estruturas do sistema de maneira que mantenham-no. Ou não queira mesmo admitir, é que as classes populares tem plena consciência do seu voto, não é por dentadura, cesta básica ou uma cisterna d'água que simplesmente votam no atual partido no poder. Acredito que esse é o momento de barganha das classes populares, ela sabe que não esta bom, mas sabe que esse grupo que esta no poder é mais fácil conquistar direitos e acessar cidadania, de maneira legitima e eficaz, diferente de ter um líder das elites no comando, pois aí não haverá barganha.

As camadas populares da sociedade brasileira sempre utilizou momentos históricos como o que vivemos atualmente, para barganhar direitos fundamentais, foi assim como a população de escravizados quando começaram a utilizar a via da negociação para resolução dos conflitos com seus senhores, recorrendo inclusive ao caminho jurídico, quando necessário (vide Wlamira Albuquerque, João José Reis, Walter Fraga, Katia Mattoso, etc.).

Já na republica tivemos o tenentismo, os movimentos anarquistas, as greves, um outro tipo de consciência política, que em 1945/46 (não lembro bem) levou a população ao "queremismo" varguista, uma vez que foi sobre a chancela desse presidente que a classe trabalhadora conquistou direitos fundamentais consolidados em lei - CLT. (vide Edgar Decca, José Murilho de Carvalho, Lucila Ferreira, etc).

E a nossa história política recente é recheada de momentos de barganha, inclusive da elite e classe média, a qual bem se beneficiou do "50 anos em 5" propostos por JK, assim como o boom do desenvolvimentismo durante a ditadura militar que a deixou numa zona de conforto, e assim ela (a elite e a classe média) preferiu fechar os olhos diante do que acontecia nos porões do DOPS, afinal nos anos 70 o Brasil era tricampeão mundial de futebol para que melhor, quem não estava gostando que o deixasse!

Ai veio a abertura política e Collor surrupiou a poupança da classe média, presidente maldito. Itamar Franco, então vai preparar a subida da elite mais uma vez e entra em cena o PSDB, na figura de Fernando Henrique Cardoso, e durante 4 anos a classe média mais uma vez barganhou, tirando ondinha, de moeda forte, e viajando para Europa e América do Sul, por isso FHC foi re-eleito por mais 4 anos.

Eis que surgi uma força maldita para classe média, as classes populares, que insufladas pela força eminente de barganhar como havia feito na década de 1930 elege como representante do executivo um operário.

E no inicio do século XXI, a classe C virou B, e as Classes C, D e E passaram a fazer parte da população economicamente ativa do país, ou seja, tornaram-se potenciais consumidores na nossa sociedade capitalista.

Fato que desagradou e desagrada a nossa elite, afinal essa "pobralhada" passou a frequentar os mesmos espaços, enfim, na minha humilde leitura, finalmente as fronteiras entre a "senzala e a casa grande" começaram a ser transpostas. As classes populares, enfim, acessaram a "casa grande" de maneira legitima, e obrigou os que lá estavam em sua área de conforto a conviver com as mazelas sociais que antes eles negavam existir, e confrontar-se com essa realidade é cruel, então por isso, ela reivindicou sua força midiática para promover essa mudança conservadora e retomar as fronteiras entre senzala e casa grande, a qual espero não tenha exito ao final desse dia, uma vez que as classes populares ainda tem muito a barganhar, e nisso concordo com Marx, quando o mesmo afirma que a própria burguesia cria a força que irá destitui-la dos postos de comando, e não vejo ai o proletário puro e simples como querem os marxistas ortodoxos, mas essa força destrutiva que a burguesia criou foi o "princípio da universalidade", o qual vem sendo requerido desde que os "direitos do homem e do cidadão" fora criado na Europa e se espalhou por todo o ocidente.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social.

sábado, 13 de setembro de 2014

Aprendendo e Emburrecendo ao mesmo tempo.

Ontem (12/09/2014) fui acusada de achismo na minha fala. Saí do lugar reflexiva sobre tal argumentação, e hoje pela manhã tentando me reequilibrar do cotidiano difícil que tenho enfrentado, terminei de assistir um belo filme, Coco avant Chanel (Coco antes de Chanel) e percebi o quanto Gabrielle Chanel (Coco Chanel) foi uma mulher de força, dona de si, num tempo em que poucas mulheres ousariam sê-lo.

Então comecei a pensar nas amarguras, confusões e desilusões que estou enfrentando em meu inferno particular, e pensei: Preciso seguir o exemplo de Coco Chanel que decide ir a Paris em busca de fortuna. Um leigo pode pensar que ela só queria ser rica "une femme de beaucoup dargent" (uma mulher de muito dinheiro), mas não se trata disso.

A fortuna que Gabrielle Chanel necessita é a de ser o centro de sua existência, sem viver a sombra dos homens, ou de uma sociedade masculina que diz a mulher como ser, vestir, comer ou comportar-se, uma mulher que inicia suas leituras com romances chulos de banca de jornal e amadurece-as até encontrar-se com Nietzsche, une femme puissante, beaucoup puissante! (uma mulher poderosa, muito poderosa!)

É esta centralidade feminina que busco, que um dia já possuir, e por isso me sinto tão conflitante, uma vez que imagino ter perdido a força e coragem de "ir a Paris fazer fortuna".

Necessito sair dessa inercia em que me encontro, e dizer as pessoas que não faço ciência de achismo, que sou capaz de sintetizar minhas leituras, e formular teorias, conceitos e ideias inovadoras ou simplistas quando necessário, que possuo o arcabouço teórico reflexivo do qual não preciso rememorar o nome de todos os autores e autoras os quais já li para legitimar minha fala ou existência.
É a minha existência que esta em jogo, e que hoje (re)aprendi com Grabielle Chanel que não posso desistir, me entregar aquilo que essa sociedade machista e misógena vem me dizendo a dez anos, que o meu lugar é na periferia do conhecimento e da vida, desde que resolvi romper com as estruturas desse laço patriarcal que me aprisionava. Preciso me reeguer e "ir a Paris fazer fortuna".

A fortuna que sempre busquei é o lugar dos homens, do público, das esferas de poder, de ser vista e ouvida como "ser", um agente transformador dessa realidade, para que outras mulheres como eu sintam-se a vontade para romper com essas estruturas que nos recolhe e nos encerra dentro de nós mesmas nos dizendo o tempo todo que não conseguiremos "ir a Paris fazer fortuna" por que nascemos mulheres, e com medo.

Sejamos todas como Coco Chanel, e vistamos as roupas dos homens se essas forem as únicas formas de nos fazermos notar. Hoje eu posso dizer renasceu em mim a vontade de fazer fortuna, que havia morrido, quero ser como Coco Chanel mulher e livre, sobretudo livre de mim mesma.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

sábado, 6 de setembro de 2014

O que esconde um sorriso.



Sempre ouço das pessoas próximas a mim que meu sorriso é bonito. De fato, concordo com essas pessoas, pode parecer meio narcisista, mas acho que tenho um sorriso bonito por que quando o faço é com sinceridade, sou uma pessoa honesta.

É essa honestidade que literalmente me f..., pois não consigo não ser desse jeito. E me cobro muito por que muitas vezes quem está comigo não é assim, sei que essa é a graça do convívio com as diversas pessoas que nos cercam, mas quando me sinto desapontada por essas mesmas pessoas não consigo não sofrer. Sei que assim como eu, muitas pessoas vivem assim, adoram as diferenças, mas sofrem quando aqueles por quem temos carinho, não atende nossas expectativas.

É por mais que algumas pessoas digam que não devemos confiar, ter esperanças, ou fé nas pessoas, nós praticamos esses sentimentos, quase sempre de maneira egoísta, pois mesmo não dando mais para conviver junto, ainda assim tentamos salvar o que não tem salvamento, e as boas lembranças acabam sendo apagadas nesse caminho, restando a dor egoísta da magoa, da culpa sobre si e sobre o outro.

Algumas vezes, meu sorriso serviu para disfarçar esse egoísmo dos sentimentos, e dificilmente as pessoas que convivem comigo percebem a dor que o meu sorriso esconde. Até hoje só me lembro de um alguém me perguntar: Você tem um sorriso lindo, mas por que seu olhar não traduz a alegria que ele emite? Confesso que não soube responder na hora, mas depois de muita reflexão acho que encontrei a resposta.

Quando era adolescente me disseram uma vez que certas feridas em nossa alma nunca curam, ela se fecha por um tempo, criam uma casca, mas de tempos em tempos essa casca se rompe e a ferida volta a sangrar.
Tenho feridas na alma, muitas pessoas as tem, mas o fato é que não nos ensinam a lidar com elas, somos obrigados o tempo todo a ter compaixão da dor do outro que sempre deve ser maior que a nossa, mesmo que a nossa dor seja provocada por que alguém mexeu no nosso doce.

Caramba! São nossas dores, por que não podemos sofrê-las? Ou ainda, se todos nós temos dores secretas, por que não respeitamos a dor dos nossos companheiros de vida, ainda que seja por que mexeram na minha goiabada, por que não respeitamos nossas dores?! Por que tentamos esquecê-las, anulá-las, ou fingir que elas não estão lá, quando elas nos lembram de tempos em tempos que existem?!

Sim, necessito de um sentimento que nunca tive e que nunca vou ter, tenho consciência disso, mas não consigo simplesmente esquecer ou ignorar o quanto gostaria de tê-lo. As vezes, ouso dizer em voz alta o que é, mas quem é de direito resolver a cura dessa ferida não se importa, e mesmo estando eu consciente disso não consigo simplesmente ignorar o fato, de tempos em tempos choro e me desespero quando a ferida da alma começa a sangrar, e pergunto: quantos de nós no planeta Terra não somos assim?

É certo que nem todos sabem, ou querem admitir que possuem essas feridas, por que tem medo de revelar a si mesmo suas fraquezas. Não devemos revelar quais são essas feridas a todos, mas admito que desde que identifiquei a causa dessa dor aprendi a conviver melhor com os problemas e a própria dinâmica da vida, contudo não tenho como superá-la, não sei como fazer, mas também não posso ignorar sua existência.

Portanto, deixo um conselho para aqueles leem as bobagens que escrevo aqui: não finja que o problema não existe, por que ele vai voltar de tempos em tempos para te lembrar que ele ainda está lá. E mesmo, assim, não esqueça que alguns deles nunca terão solução, e que precisamos aprender a conviver com eles.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

  

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

São tantas coisas que nem sei por onde começar

Faz tempo que não uso essa ferramenta para falar coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar.
Bom, esses quatro elementos regem nossas vidas em ciclo orgânico de ida e retorno das coisas misteriosas que envolvem o universo. Míticos ou não, a verdade é que esses elementos, juntos, contam muitas histórias sobre os caminhos que percorremos ao longo de nossas vidas. Vidas que às vezes vivemos sem um rumo definido e deixando as coisas acontecerem, sem bem ao certo saber onde vai dar, ou que ainda traçamos cada minuto dela, e contando com os imprevistos que temos pelo caminho mantemos tudo da melhor forma pragmática possível.
Os problemas vem quando um desses dois planos de viver a vida falham, e aí não sabemos para onde seguir ou que fazer de nossas vidas. Uma das coisas que nos mantem vivos é o trabalho, que muitos de nós não acredita não ser necessário, mas ele é essencial. Por vezes, se não nos realizamos nessa área vem a frustração, a tristeza, as incertezas e as vezes até o comodismo, o medo de mudar, por temos o trabalho nesse lado pragmático da vida, o qual pensamos que ele não nos oferece prazer ou significado algum para nossas vidas.
Ledo engano nosso, como diria Marx, se exercermos uma função sem qualquer responsabilidade social, apenas fruímos uma energia boba, mas em contrapartida se essa trabalho que exercermos nos completa enquanto pessoas, então geramos energia, sim um princípio físico, onde no caso do trabalho como complemento de nossa subjetividade nos energiza, pois enquanto seres humanos temos a necessidade de produzir. E só é possível produzir através do trabalho, com isso temos a energia vital que nos mantém vivos.
É claro que diante do capitalismo selvagem ao qual estamos inseridos, nem sempre nosso trabalho é motivo da energia vital que nos matem em pé. Nessa selvageria capital o trabalho se torna mesmo é um peso, uma necessidade de sobrevivência que não trás nenhuma energia, nenhuma filosofia, nenhuma poesia as nossas vidas.
Isso me inquieta, sempre me inquietou, pois não consigo me sentir bem fruindo energias bobas, preciso produzir para me sentir viva. Mas, afinal que energia é essa que o trabalho produz? Os capitalistas dirão o que é o dinheiro, mas os poetas concordarão comigo, que essa energia, se chama vida.
Então senhoras e senhores vivamos, como se cada dia fosse uma oportunidade de produzir essa energia que nos permite sonhar e realizar, mesmo diante da fraqueza que a dureza da vida nos impõe, não desistamos, vamos continuar seguindo em frente, e olhando para trás apenas para contar as passadas que já demos até chegar a felicidade de viver, uma vez que entendo que não podemos nos separar das nossas origens.
Então, toda vez que pensar em desistir, olhe esses passos para lembrar que falta pouco, mas que é constante a necessidade de produzir energia através do trabalho.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social  

sábado, 8 de março de 2014

DATAS COMEMORATIVAS

Hoje é 08 de março, dia Internacional da Mulher, deveria ser um dia de luta tendo em vista o histórico da data. Mas, nossa sociedade cada vez mais imediatista ignora os avisos que a História deixou.

Quando as operárias da fábrica de tecidos em Nova York foram queimadas vivas em 8 de março de 1857, ninguém se lembrou da sua força, beleza e delicadeza, que os comerciais de televisão e as redes sociais tanto enfatizam nesse "Feliz dias das mulheres".

Ando sendo uma mulher subversiva, pois detesto a delicadeza e a beleza engendradas a mim, até por que a beleza a que me obrigam não corresponde a quem eu sou. Eu gosto mesmo é de política, de festa, de cultura e beijo na boca, o que os intelectuais da elite branca chamam cult para mim sempre foi o essencial. Então, deixei de ser mulher por isso?

Será que se não possuirmos essa delicadeza doméstica de limpadoras de coco de bebê, cozinheiras, e ainda moça independente que trabalha fora para responder as estatísticas das chefes de família "guerreiras" (por que esquecem de dizer nas estatísticas que a maioria dos homens abandou a responsabilidade de provedor do lar, acobertados por um cultura machista que diz que a eles são destinados apenas o gozo), deixamos de ser mulher?

Afinal na contemporaneidade o que é ser mulher?

É a mulher do "lepo, lepo" que a sociedade machista e misogena em que vivemos acha que tudo que a mulher moderna precisa é sexo? Por que se reclamamos do modo nada cavalheiresco como somos tratadas é por que somos "mal comidas"?

Ou será que ser mulher é aquela representação de novela e cinema que por mais "independente e bem sucedida" se não tem marido (ainda que gigolô) é por que fracassou?

Bom, vou continuar perguntando o que ser mulher até me responderem:
Por que as mulheres, que não tem como fazer fotoshop todos os dias antes de sair de casa, tem que passar fome para serem magras e aceitas?
Por que temos, enquanto mulheres, que passar amônia e formol no cabelo para ele ficar liso, e assim sermos consideradas bonitas?
Por que tenho que depilar as pernas, virilha e fazer sobrancelhas se esses pelos são para proteção do corpo e não fruto de má higiene?
Por que não posso ser reconhecida pelo meu diploma e mérito apenas, sem antes ter o adjetivo "ela é uma mulher inteligente"?
Por que a culpa é sempre da mulher se: ficar grávida, se for estuprada, se for traída pelo cônjuge, se os filhos não atenderem as expectativas da moral cristã, etc?

Enfim, quem ou qual instituição dessa sociedade de "loucos" se habilita em responder o que é ser mulher na contemporaneidade, se a Europa tá vivendo uma crise política que pode desenterrar a Guerra-Fria, se na Venezuela o regime chavista está caminhando para uma nova crise que pode levar-lo ao fim, se um avião caiu na ásia, se a ONU passou a defender a descriminalização das drogas, se a classe média brasileira esta revoltada com a corrupção, ao tempo que os empresários e a mídia brasileira só se ocupam da Copa? Enfim² questões?!

Fica o recado nesse 8 de Março, para que não esqueçam nunca do por que comemoramos essa data




domingo, 5 de janeiro de 2014

Individualidade coletiva? Ou coletivo individual?

Sempre me pergunto por que escrevo, o que me angustia ao ponto de ter uma necessidade incessante de colocar nas teclas do computador as dores e alegrias que carrego. Confesso que na maioria das vezes tenho quase a certeza de que não encontrarei essa resposta, mas enfim, preciso escrever, então escrevo. 
Pode ser que escrevo por conta da minha situação de sujeito individualista, que as vezes dentro da própria individualidade se preocupa com o coletivo, ou que talvez pense que "minha" coletividade seja individualista. Sei que é complexo demais, mas é isso que observo nos últimos meses, e é isso que vem me inquietando. Nunca vi uma sociedade tão individualista como a nossa, sei que estou pensando de forma generalista, mas é isso que venho sentido. Parece até que a alteridade morreu.
Tenho exemplos dessa individualidade dentro de casa, na escola que trabalho, na faculdade que estudo e até entre meus amigos. Devo admitir que a experiência individualista que mais me chocou foi a com os amigos, de uns tempos quando ligo para saber como eles estão (e ligo pouco para saber disso, por que não gosto muito desse contato virtual) percebo que eles(as) estão muito ocupados em me dizer quanto dinheiro ganham, qual o valor de seus gastos pessoais como sinônimo de status, as aquisições superfulas do dia a dia, o quanto seu emprego é mais importante que o meu, ou quanto são melhores do que eu por ter adquirido uma condição financeira para deixar o bairro periférico de onde nasceram. E que na única vez que você ligou para pedir ajuda foi de um desdem. 
Situações como conviver diariamente com aquela pessoa que não consegue desvencilhar o olhar do próprio umbigo, e que um dia você pensou que ela(e) fazia isso por que não parava para pensar no que estava dizendo/fazendo, mas que hoje você sabe que ela(e) faz por pura maldade. Crianças que cercam você por que não sabem dividir e acham que o mundo gira em torno dos seus pés, uma vez que os pais delas as deixaram acreditar que é assim mesmo, que são incapazes de pensar em outro que não seja si próprio, pois mesmo sendo crianças são más.
É, falsos moralistas que se indignaram com minha ultima frase, existem crianças que também são más. 
Ainda sobre o individualismo, tem também aquela pessoa em que você confiava que te excluiu aos poucos dos seu circulo de amizade por que você assumiu um tipo de relacionamento, que não era o que ela queria para você, e que sua felicidade passou a incomodar demais para que ela continue vivendo do seu lado. 
Em fim, poderia enumerar muitas situações em que a individualidade, as vezes disfarçada de inveja, vão aparecer, mas o que preocupa mesmo é essa nova onda das fotos self as pessoas deixam de curtir um momento a dois, a três, a quatro sei lá, que poderia ser mais interessante, para postar foto de si mesma na rede social. Eu acho que isso é loucura, mas os críticos vão chamar de onda narcisista. 
Coitado de Narciso, que em tempos de vida virtual, perde e feio para os adeptos de seu culto. Não consigo entender alguém querer viver sozinho com sua máquina fotográfica, camuflada de celular, do que ter e dar um abraço, um beijo, ou simplesmente um oi ou um sorriso. O olhar nos olhos morreu junto com a alteridade. 
Outro dia meu companheiro me acusou de ser racional demais, talvez eu seja mesmo. Penso demais antes de tomar qualquer decisão, rara são as vezes que ajo por impulso. Mas, como ele diria, tem uma explicação racional para isso, não quero magoar quem está perto de mim com uma palavra lançada sem retorno, ou com um gesto do qual possa me arrepender e não ter tempo para pedir desculpas. 
Prefiro pensar que todas as pessoas são boas, ainda que tenha a consciência de que não são, para que quando uma criança chegar a mim com um gesto nobre, pela nobreza de sua infância, eu não especule a hipocrisia dos políticos, ou minha mesmo, afirmando categoricamente que esta criança vai ser político quando crescer, talvez ela só queira ser alguém gentil.
Como não sei como finalizar esse texto, sigo o dia pensando, refletindo sobre o que fazer para continuar olhando as pessoas a minha volta nos olhos e não deixar a alteridade morrer, fazer como minha professora de etnografia disse: "estar em Roma como os romanos". 

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social