sábado, 13 de setembro de 2014

Aprendendo e Emburrecendo ao mesmo tempo.

Ontem (12/09/2014) fui acusada de achismo na minha fala. Saí do lugar reflexiva sobre tal argumentação, e hoje pela manhã tentando me reequilibrar do cotidiano difícil que tenho enfrentado, terminei de assistir um belo filme, Coco avant Chanel (Coco antes de Chanel) e percebi o quanto Gabrielle Chanel (Coco Chanel) foi uma mulher de força, dona de si, num tempo em que poucas mulheres ousariam sê-lo.

Então comecei a pensar nas amarguras, confusões e desilusões que estou enfrentando em meu inferno particular, e pensei: Preciso seguir o exemplo de Coco Chanel que decide ir a Paris em busca de fortuna. Um leigo pode pensar que ela só queria ser rica "une femme de beaucoup dargent" (uma mulher de muito dinheiro), mas não se trata disso.

A fortuna que Gabrielle Chanel necessita é a de ser o centro de sua existência, sem viver a sombra dos homens, ou de uma sociedade masculina que diz a mulher como ser, vestir, comer ou comportar-se, uma mulher que inicia suas leituras com romances chulos de banca de jornal e amadurece-as até encontrar-se com Nietzsche, une femme puissante, beaucoup puissante! (uma mulher poderosa, muito poderosa!)

É esta centralidade feminina que busco, que um dia já possuir, e por isso me sinto tão conflitante, uma vez que imagino ter perdido a força e coragem de "ir a Paris fazer fortuna".

Necessito sair dessa inercia em que me encontro, e dizer as pessoas que não faço ciência de achismo, que sou capaz de sintetizar minhas leituras, e formular teorias, conceitos e ideias inovadoras ou simplistas quando necessário, que possuo o arcabouço teórico reflexivo do qual não preciso rememorar o nome de todos os autores e autoras os quais já li para legitimar minha fala ou existência.
É a minha existência que esta em jogo, e que hoje (re)aprendi com Grabielle Chanel que não posso desistir, me entregar aquilo que essa sociedade machista e misógena vem me dizendo a dez anos, que o meu lugar é na periferia do conhecimento e da vida, desde que resolvi romper com as estruturas desse laço patriarcal que me aprisionava. Preciso me reeguer e "ir a Paris fazer fortuna".

A fortuna que sempre busquei é o lugar dos homens, do público, das esferas de poder, de ser vista e ouvida como "ser", um agente transformador dessa realidade, para que outras mulheres como eu sintam-se a vontade para romper com essas estruturas que nos recolhe e nos encerra dentro de nós mesmas nos dizendo o tempo todo que não conseguiremos "ir a Paris fazer fortuna" por que nascemos mulheres, e com medo.

Sejamos todas como Coco Chanel, e vistamos as roupas dos homens se essas forem as únicas formas de nos fazermos notar. Hoje eu posso dizer renasceu em mim a vontade de fazer fortuna, que havia morrido, quero ser como Coco Chanel mulher e livre, sobretudo livre de mim mesma.

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

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