Quero esclarecer, que não solicitei como atividade, não valia nota, e em nenhum momento a mesma fez por obrigação, é sua reflexão sobre as aulas que vinha assistindo com o tema "o papel da mulher na sociedade atual".
Não sei quando ela escreveu, só sei que confiou a mim a tarefa de lê-lo, e dar minha opinião de mestra, e só posso dizer que para uma menina nos seus 17 anos aulas com conteúdos de gênero tem ajudado na sua construção de identidade feminina, e espero com a divulgação desse texto oferecer a ela e seus colegas estimulo, para o desafio de superar o machismo que mata milhares de mulheres a cada dia no Brasil.
Segue o texto:
RASCUNHO
"Essa semana eu vi uma reportagem que me deixou endignada, uma jovem (não sei 16 anos exatamente a idade dela) foi estuprada por 33 homens ou melhor 33 monstros, vi postagens no face sobre o assunto, inclusive de amigos(as) meus (minhas),
Bom, o que penso aqui, como professora de História e Sociologia, primeiro resolvi manter o texto exatamente como aluna escreveu, uma vez que a sua escrita indica-nos seu lugar de fala, e a construção de seus saberes enquanto processo gradual e continuo, saberes que na minha concepção não podem ser ocultados e desprezados.
Não sei de quais meios de comunicação/informação ela tirou os dados estatísticos sobre a violência sexual sofrida pelas mulheres no Brasil, mas devemos salientar o quanto esses números são alarmantes, assim como, a preocupação de uma adolescente com esses dados, o que talvez possa nos revelar, um temor da mesma sofrer esse tipo de agressão. Ao tempo em que, a mesma deixa claro que a culpa do estupro não é da vítima, o que me faz lembrar da seguinte frase "de burca ou de shortinho a culpa não é da mulher", demonstrando assim o iniciar de sua formação identitária, ao mesmo tempo questionando a construção de masculinidade vigente, onde para ser homem, não precisa exacerbar seus impulsos sexuais, ela não diz o que é preciso ser ou ter para ser homem, mas ela deixa claro, que não é olhar ou pensar a mulher como objeto ou propriedade do masculino.
Fica claro também, que a mesma questiona os padrões sociais e sexuais que nos temos enquanto sociedade, os quais são construídos a partir da roupa que vestimos, pois esses papeis sociais, muitas vezes são construídos e ditados pela moda, e aí me fez pensar a quem essa moda serve? E o que faz uma adolescente ter seu direito de existir negados por conta desse aspecto da vida social?
No Brasil, em que o presidente da república vai TV reafirmar padrões sociais femininos em desconstrução no quesito naturalidade, ver uma adolescente refletir sobre o papel social da sua condição de gênero é o "tapa na cara" dessa sociedade machista que tentar fingir que as coisas continuam iguais mesmo não estando.
Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social