sábado, 23 de julho de 2011

Como é difícil tomar decisões importantes.

"Com um grande poder sempre vem uma grande responsabilidade" já dizia o tio do homem aranha, mas quando nos vemos em uma "sinuca de bico", entre a responsabilidade com o outro e a responsabilidade com nós mesmos, nossos limites, nosso discurso, pois, até que ponto minha pratica tem que condizer com meu discurso? Aprendi "que não é a consciência que define o ser, mas o ser quem define a consciência". E é nessa certeza que venho levando a vida. 

Bom, já faz um tempo que pesam sobre mim as responsabilidades da adultez, sustentar a casa e a si, não são tarefas fáceis, as vezes gostaria de ter ou levar a vida de, alguns, amigos/as mais jovens, onde seu dinheiro é apenas pra tomar aquela cervejinha e ir ao cineminha com a pessoa que "esta afim". Esperar as contas chegarem, pagar o cartão de credito, fazer as somas do quanto se deve e quanto se tem pra pagar, quando o orçamento do mês extrapola, você fica com a mão na cabeça, meu Deus o que faço agora? E no meio desse conflito você entra no primeiro emprego (ou esparro) que te oferecem, e vai trabalhar num lugar em que a gestão pensa que a profissão professor/educador é serviço voluntario. 

As dívidas aumentam, seu salário não é pago, dentro daquilo que foi estabelecido no contrato que você leu cada linha, pra saber onde estava se metendo, e as pessoas que deveriam junto com você lutar para mudar, ou melhor, ter a garantia de que seus direitos estarão sendo executados dentro do que fora estabelecido, olham pra você e proferem a famigerada frase: "Minha filha dê "Graças a Deus", é assim mesmo, já ficamos oito meses sem salário, agora tá até bom". Saio de lá me perguntado que porra Deus tem haver com isso tudo? Que raio de conformismo é esse? Mas, o pior de todos os comentários é: " Ah! Eu não tenho esse problema, meu marido me sustenta". 

Quer dizer então que a profissão professor/educador é diletantismo de dondoca que não tem o que fazer? Puta que pariu, aí me perguntam, me dizem, que eu execute projetos mirabolantes de educação, onde o único objetivo perceptível é: "Vocês fingem que aprendem, eu fingo que trabalho e assim mantemos o ciclo vicioso de culpar o/a aluno/a pelo seu fracasso, até por que "eu" professor/a já assinei o meu, quando escolhi uma profissão, por incompetência de minha parte, uma vez que não fui corajosa/o o suficiente pra me arriscar e fazer aquilo que eu deveras queria ter feito". 

Vocês podem não esta entendo, uma vez que esse texto é uma indireta/direta, a pessoas e lugares de foro intimo que por medida de segurança, a minha é claro, não dá pra ficar aqui falando de nomes, datas e lugares como a história factual me exige. Graças a Deus, dialogo com História Social e Cultural e não preciso ficar gravando ou me preocupando com esses heroísmos, uma vez que essas teorias da história se preocupam em dar voz aos marginais. 

Enfim, onde a educação desse país vai parar? Juro a vocês que não sei, eu sei onde quero parar. E sei mais do que qualquer outra pessoa, o quanto meu caminho é difícil, tendo em vista que nasci com alguns "defeitos", são eles: sou mulher, sou preta e pobre, e piorei minha situação quando me letrei, uma vez que como minha colega que se sustenta pelo marido, as mulheres que são letradas, iguais a mim, não tem essa sorte, pois os homens nos temem. Já que nossa sociedade esquizofrênica, ainda tem em mente que a mulher não nasceu para pensar e tomar decisões, isso é coisa de homem. Daí minha nobre colega dondoca, achar que a profissão professora é coisa de quem precisa ter uma ocupação pra não ser ociosa e ficar gorda quem nem uma porca em casa, enquanto o maridinho, burro de carga, trepa e gasta o dinheiro do leite dos meninos, com uma amante gostosa.

É de "pirar o cabeção". Acho que por isso, vou seguir o meu lema, ou melhor, o lema de Karl Marx, "não é consciência quem define o ser, mas, sim, o ser quem define a consciência" e retomar as rédeas da minha vida, me afirmando enquanto agente social transformador, da realidade em que estou inserida, exercendo meu direito a cidadania de maneira plena, por que, preciso, muito mas do que estar viva, me sentir VIVA.  


Simone dos Santos Borges      

terça-feira, 19 de julho de 2011

Afinal, qual é o papel do Professor/a?


Esse discurso bombou na internet um dia desses que rendeu até ibope no programa do Faustão. 
Coloquei ele na abertura desse artigo por que é necessário repensar, analisar e debater essa fala. Também coloco esta fala, de Amanda Gurgel, associada com algumas observações que faço, do meu cotidiano profissional, onde percebo que muito se cobra dessa categoria, onde seus profissionais são tidos, ou se tem, como seres perfeitos, incapazes ao erro ou ao fracasso, uma vez que a frase que mais ouço nos últimos dois meses é: "Esses meninos/as não querem nada".

Me pergunto todos os dias, por que e para que me tornei professora? Qual o meu objetivo nesta profissão? Uma vez que sempre soube que não obteria riquezas com ela. Nesse sentido, passo "a bola" na tentativa de obter uma resposta plausível, a pergunta titulo do artigo, para meu nobres colegas de profissão. 

Sei que as demandas salariais da profissão urgem ser resolvidas, é preciso pensar nos planos de carreira, que ainda não vejo saírem do papel, aliás, é preciso que alguém explique, a mim, e aos jovens professores e professoras desse país, que saem da universidade sem saber o que é isso. Que entram em um sistema já implantado, funcionando a todo vapor e que todos/as que lá estão, acha que você já sabe como funciona.

Lhe cobram preenchimento de cadernetas, aplicação de provas e testes, projetos mirabolantes e inovadores, dizem que construtivistas, mas que Vigotisky, Piaget e Walon, passam muito longe dessa construção. É com conteúdo batido, desinteressante, e na maioria das vezes descartável, para um aluno ou aluna, que vive em condições desumanas de sobrevivência, que vamos para as salas de aula.

Sou professora de história, e na maioria das vezes querem que, eu, e meus colegas, falemos dos problemas dos EUA, que lhes contemos a história da Europa, e como fomos por eles civilizados, até por que é só isso que aparece nos livros didáticos, e quando se trata de Brasil, é a história do Sul e Sudeste em supremacia esmagadora que aparece, enquanto ao Nordeste, ficam apenas alguns boxes e parágrafos, sem comentários as regiões Centro-Oeste e Norte, que não vi nada sobre eles nem na graduação.

Ah! Não posso deixar de falar sobre a lei 11.645/2008 onde a história da África e cultura afro-ameríndia, juntamente, com os demais excluídos da história da humanidade entram, ora como projeto, ora como uma disciplina específica, mas que ninguém sabe como aplicar tais conteúdos. E fica tudo no final das contas folcloresco, onde para uns esta sendo feita a inclusão, mas, sempre me pergunto, inclusão de quê?

Eis algumas falas de Amanda Gurgel, que me ocupam a mente e trazem a ela um turbilhão de pensamentos...

"Em nenhum momento, em nenhum governo a Educação foi prioridade", concordo, e atire a primeira pedra, quem acha que ela e os que assim pensam estão errados. É preciso entender esse discurso, para além da obviedade que ele trás, afinal de contas, que governo, de um país corrupto como nosso, que institucionalizou o patrimonialismo e os laços compulsórios do patriarcado colonial, como diria Raymundo Faoro, em os Donos do Poder, vai querer uma população com capacidade crítica para o exercício de sua cidadania de maneira plena, como roga os PCN's - Parâmetros Curriculares Nacional e PNE - Plano Nacional de Educação, o qual ainda tramita para aprovação no Congresso. Aliás, é bom ficar claro, que a maioria dos brasileiros e brasileiras tem a instituição publica como algo que "é de graça", e se não é "meu" posso avacalhar, então que escola publica queremos? Como diria Henri Walon "a Sociedade que se quer passa pelo projeto de Educação que se forja". 

Então, governos e governantes, encaram "a condição precária da educação como fatalidade". São um bando de coitados, meninos e meninas, descendentes de ex-escravos das senzalas dos engenhos de cana-de-açúcar e fazendas de café, desses senhores, que compõem o publico alvo das escolas mantidas pelo Estado brasileiro, onde uns acreditam que com "pão e circo" controla-se essa massa amorfa da sociedade. Incutem na cabeça da "estupida" emergente classe média brasileira que "sou eu a redentora do país", então é preciso que nós professores/as respondamos a ela: "não posso, não tenho condições". E por favor, "parem de assossiar qualidade de Educação com professor em sala de aula", por que, além das condições precárias de atuação deste profissional, que na maioria das vezes só tem uma mísera televisão, cuspe e giz, como recurso para tentar o milagre do diferencial de mudança do discurso batido e insuficiente, para atender as inquietudes de uma população que de amorfa só tem os recursos financeiros que parecem se estagnar, entra governo e saí governo, entra programa social e saí programa social, e nada saí do lugar. 

Somos nós professores e professoras conscientes, de que temos uma profissão que envolve responsabilidade social, o que muito difere de trabalho voluntario, como algumas prefeituras e coordenadores de equipes de educação entendem, que lhes pedimos: "paciência, não aguentamos mais esse discurso" "pedimos respeito" uma vez que não somos "nós... os responsáveis pelo caos".

É preciso também lembra-los/as que a falta de interesse dos nossos/as aluno/as é por que "não temos recursos" para uma aula dinâmica, interativa, construtiva, onde a sapiência seja prioridade, uma vez que, também, é necessário rever o currículo e repensar a autonomia das escolas e do fazer docente, pois, temos a consciência de que os problemas que envolvem a educação brasileira "são... questões mais complexas" e históricas que não se resolverão, infelizmente, em uma década. 

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social (em formação).
Professora de História da Rede Municipal de Candeias - BA
     

domingo, 3 de julho de 2011

A cidade me encanta, me motiva, me seduz...

Passei tanto tempo me ocupando com as coisas que eu não queria estudar, como diz uma amiga minha, que esqueci de observar aquilo que de fato me seduz. Precisei de uma graduação e meia, associada a pós-graduação, para perceber o quanto a cidade me causa esse efeito de sedução. Confesso que adoro andar de ônibus, por que, nele posso ver a cidade se revelando diante dos meus olhos, nas mais diversas dinâmicas de relações histórico-sociais. É o camelô que merca seus produtos da maneira mais irreverente, é a senhora sentada no banco da praça comendo pão e dando os farelos aos pombos, os vovôs do dominó na esquina, os moleques jogando bola, ou simplesmente falando que pegou aquela menina, a "ninha" que passa em direção a escola, trabalho ou cursinho, o vai e vem dos carros numa sintonia quase que computadorizada pela própria mecanização das ações humanas.

Você deve estar se perguntado: e dá para ver tudo isso do ônibus? Sim, e muito mais. Tenho que admitir, odeio engarrafamento e congestionamento (descobrir nas minhas aulas de direção que são coisas distintas), só hoje sei que não é por conta da sensação de perda de tempo, do estresse dos motoristas, loucos, que ficam buzinando como se a rua fosse só deles, ou daquele cheiro horroroso de combustível queimando. Odeio congestionamento por que eles impendem de ver a cidade se revelar, mostrar-se diante dos olhos da gente viva.


Conheço poucas cidades, assim como, menos ainda de suas histórias, mas adoro ficar horas olhando os prédios que nos mostram e nos escondem em suas alcovas, quando andamos despretensiosamente pelas ruas da cidade. Como moro em cidade histórica, o novo e o velho que se imísquem no vai e vem da "pós-modernidade", com as pessoas gritando, brigando, xingando, em meio a praticas religiosas que atendem a ordem de todos os credos, ou ainda que literalmente se amam nas paredes de uma arquitetura ao mesmo tempo bagunçada, colorida e harmoniosa, possível de perceber apenas da janela do ônibus, se o trânsito estiver livre, quando ele saí de um beco, entra numa avenida ou numa rua de grande movimento.
E não pensem que esse encantamento é só com as cidades grandes, metrópoles e megalópolis, pois, acho lindas as cidades do interior, quando aos finais de tarde e domingos as pessoas se reúnem em frente a praça da Igreja, por que, toda cidade pequena tem uma praça na frente da Igreja, ou vice-versa, para falar mal da vida alheia, informar sobre quem tá grávida, quem casou, quem descasou, quem fugiu com o marido/esposa de quem, enquanto a feira esta sendo montada, os produtores da região estão chegando e a cidade vai ficando naquele alvoroço, isso, sem esquecer do brega, por que tem que ter a "lamparina", lugarzinho pra o "rala cocha", pro furdunço da paquera e dos arranjos amorosos.
Isso tudo me faz perceber o quanto a cidade é viva, e ela nos diz isso o tempo todo em suas singularidades, mais ainda não aprendemos a preservar, e sobretudo entender esse patrimônio, pois, como ela é um bem público só a tratamos bem quando nos convêm. Agora sei por que quero estudar as cidades.


Simone dos Santos Borges        

sábado, 2 de julho de 2011

"Cultura Brasileira: Reconhecimento e Manifestações"

"Esse texto foi apresentado na mesa redonda intitulada acima, no colégio Apoio de Vilas do Atlântico, sob mediação da professora Mari Lima aos alunos do 2º Ano do ensino médio."


Acultura é um fenômeno que se dá através de relações histórico-sociais, que vão muito além dos laços consanguíneos e familiares. Por isso, o meio geográfico e os fatores biológicos, até podem influenciar a cultura, mas não são seus fatores determinantes, como propuseram alguns autores. A cultura é um fenômeno cerebral, uma vez que, é o sentido que a razão dá as nossas ações, que elas passam a integrar o fenômeno cultural.


Dessa maneira, por mais que a cultura seja adquirida por viés mercadológico, ela esta em constante transformação, o que estou tentando dizer, é que o sujeito/indivíduo introjeta um aspecto de determinado movimento cultural e lança para a sociedade de maneira diferente de quando adquirida, é o que Stuart Hall chama de "tradução" da cultura.


Pensar a Cultura através de um espiral circular não estático, passível de transformação, permite entender com mais facilidade que "não há possibilidade de se pensar a cultura de forma unificada num espaço territorial com a extensão do Brasil", uma vez que este território é composto por diversos sujeitos, que se autodefinem, é necessário pensar na multiplicidade de povos e representações sociais que formam e constituem o que se define como brasileiro.


Um exemplo disso, é a ideia de baianidade construída pela mídia e pela indústria cultural. Quando se pensa em Bahia, se pensa única e exclusivamente nas dinâmicas sociais que perpassam Salvador, é o axe music, o candomblé, o carnaval de trio elétrico, o azeite de dendê, a capoeira como se estes fossem elementos culturais cotidianos de todos os soteropolitanos, ou ainda do todos os baianos. Mas, se olharmos as outras dinâmicas sociais do mesmo estado com um pouco mais de cuidado, perceberemos que o que é atribuído como "ser baiano" não se aplica a essas realidades.


A história a pouco tempo passou a se ocupar das relações sociais através do viés cultural, foi somente nos finais dos século XX que os/as historiadores/as passaram a entender as dinâmicas abordadas no parágrafo anterior na tentativa de explicar, refletir e problematizar por que, neste caso específico, Bahia e Brasil possui uma cultura tão diversificada de fenômenos, por vezes no mesmo território. É necessário perceber que a ideia de cultura brasileira foi politicamente construída, nos primeiros anos de república quando se pensava em construir a nação, quando o Estado pergunta a seus intelectuais quem são os brasileiros ou ainda o que é cultura brasileira? Há uma hierarquização da mesma em relação aquilo que é erudito, pertencente a elite, e aquilo que é popular que é tido muitos vezes como ruim ou de baixa de cultura, que não serve para representar o país. Como se elite também não fosse povo!


Um país que tem enquanto matrizes étnicas elementos indígenas variados, africanos variados, europeus variados é preponderante pensar numa cultura múltipla, pois dizer que o Brasil não tem cultura é um equívoco, pra não dizer um erro grave. A compreensão dessas ideias estão presentes nos trabalhos de diversos autores, porém aqui cabe destacar: Marilena Chauí com o livro Cultura e Democracia; Stuart Hall em Identidade Cultural na pós-modernidade; Déa Fenelon em o Historiador e a Cultura Popular: história de classe ou história de do povo; Outro texto muito bom é o de Alfredo Bosi, Cultura como Tradição; Roberto Schuwarz em Nacional por Subtração; dentre vários outros que tratam da Nova História Cultural, tais como: Roger Chartier, Le Goff, Dubby, Michele Perrot, etc.


É importante colocar esses autores, para vocês, pois este é um debate que ainda não esta encerrado, sobretudo por conta da compreensão dessa ideia de cultura circular não estática de (des)hierarquização, assim como, da multiplicidade que a envolve, pois em se tratando de Brasil, é preciso pensar uma cultura plural para além do "S" no fim da palavra.


Simone dos Santos Borges