terça-feira, 19 de julho de 2011

Afinal, qual é o papel do Professor/a?


Esse discurso bombou na internet um dia desses que rendeu até ibope no programa do Faustão. 
Coloquei ele na abertura desse artigo por que é necessário repensar, analisar e debater essa fala. Também coloco esta fala, de Amanda Gurgel, associada com algumas observações que faço, do meu cotidiano profissional, onde percebo que muito se cobra dessa categoria, onde seus profissionais são tidos, ou se tem, como seres perfeitos, incapazes ao erro ou ao fracasso, uma vez que a frase que mais ouço nos últimos dois meses é: "Esses meninos/as não querem nada".

Me pergunto todos os dias, por que e para que me tornei professora? Qual o meu objetivo nesta profissão? Uma vez que sempre soube que não obteria riquezas com ela. Nesse sentido, passo "a bola" na tentativa de obter uma resposta plausível, a pergunta titulo do artigo, para meu nobres colegas de profissão. 

Sei que as demandas salariais da profissão urgem ser resolvidas, é preciso pensar nos planos de carreira, que ainda não vejo saírem do papel, aliás, é preciso que alguém explique, a mim, e aos jovens professores e professoras desse país, que saem da universidade sem saber o que é isso. Que entram em um sistema já implantado, funcionando a todo vapor e que todos/as que lá estão, acha que você já sabe como funciona.

Lhe cobram preenchimento de cadernetas, aplicação de provas e testes, projetos mirabolantes e inovadores, dizem que construtivistas, mas que Vigotisky, Piaget e Walon, passam muito longe dessa construção. É com conteúdo batido, desinteressante, e na maioria das vezes descartável, para um aluno ou aluna, que vive em condições desumanas de sobrevivência, que vamos para as salas de aula.

Sou professora de história, e na maioria das vezes querem que, eu, e meus colegas, falemos dos problemas dos EUA, que lhes contemos a história da Europa, e como fomos por eles civilizados, até por que é só isso que aparece nos livros didáticos, e quando se trata de Brasil, é a história do Sul e Sudeste em supremacia esmagadora que aparece, enquanto ao Nordeste, ficam apenas alguns boxes e parágrafos, sem comentários as regiões Centro-Oeste e Norte, que não vi nada sobre eles nem na graduação.

Ah! Não posso deixar de falar sobre a lei 11.645/2008 onde a história da África e cultura afro-ameríndia, juntamente, com os demais excluídos da história da humanidade entram, ora como projeto, ora como uma disciplina específica, mas que ninguém sabe como aplicar tais conteúdos. E fica tudo no final das contas folcloresco, onde para uns esta sendo feita a inclusão, mas, sempre me pergunto, inclusão de quê?

Eis algumas falas de Amanda Gurgel, que me ocupam a mente e trazem a ela um turbilhão de pensamentos...

"Em nenhum momento, em nenhum governo a Educação foi prioridade", concordo, e atire a primeira pedra, quem acha que ela e os que assim pensam estão errados. É preciso entender esse discurso, para além da obviedade que ele trás, afinal de contas, que governo, de um país corrupto como nosso, que institucionalizou o patrimonialismo e os laços compulsórios do patriarcado colonial, como diria Raymundo Faoro, em os Donos do Poder, vai querer uma população com capacidade crítica para o exercício de sua cidadania de maneira plena, como roga os PCN's - Parâmetros Curriculares Nacional e PNE - Plano Nacional de Educação, o qual ainda tramita para aprovação no Congresso. Aliás, é bom ficar claro, que a maioria dos brasileiros e brasileiras tem a instituição publica como algo que "é de graça", e se não é "meu" posso avacalhar, então que escola publica queremos? Como diria Henri Walon "a Sociedade que se quer passa pelo projeto de Educação que se forja". 

Então, governos e governantes, encaram "a condição precária da educação como fatalidade". São um bando de coitados, meninos e meninas, descendentes de ex-escravos das senzalas dos engenhos de cana-de-açúcar e fazendas de café, desses senhores, que compõem o publico alvo das escolas mantidas pelo Estado brasileiro, onde uns acreditam que com "pão e circo" controla-se essa massa amorfa da sociedade. Incutem na cabeça da "estupida" emergente classe média brasileira que "sou eu a redentora do país", então é preciso que nós professores/as respondamos a ela: "não posso, não tenho condições". E por favor, "parem de assossiar qualidade de Educação com professor em sala de aula", por que, além das condições precárias de atuação deste profissional, que na maioria das vezes só tem uma mísera televisão, cuspe e giz, como recurso para tentar o milagre do diferencial de mudança do discurso batido e insuficiente, para atender as inquietudes de uma população que de amorfa só tem os recursos financeiros que parecem se estagnar, entra governo e saí governo, entra programa social e saí programa social, e nada saí do lugar. 

Somos nós professores e professoras conscientes, de que temos uma profissão que envolve responsabilidade social, o que muito difere de trabalho voluntario, como algumas prefeituras e coordenadores de equipes de educação entendem, que lhes pedimos: "paciência, não aguentamos mais esse discurso" "pedimos respeito" uma vez que não somos "nós... os responsáveis pelo caos".

É preciso também lembra-los/as que a falta de interesse dos nossos/as aluno/as é por que "não temos recursos" para uma aula dinâmica, interativa, construtiva, onde a sapiência seja prioridade, uma vez que, também, é necessário rever o currículo e repensar a autonomia das escolas e do fazer docente, pois, temos a consciência de que os problemas que envolvem a educação brasileira "são... questões mais complexas" e históricas que não se resolverão, infelizmente, em uma década. 

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social (em formação).
Professora de História da Rede Municipal de Candeias - BA
     

2 comentários:

  1. Que o discurso de indignação desta professora( tb poderia se chamar guerreira) faça ecoar e sensibilizar a sociedade e nossos governantes , para que esta realidade um dia mude! Amém

    Ps.Parabéns!!!!!!! SIMONE pela iniciativa o blog está realmente muito legal,um espaço muito importante para o debate sobre questões que de sobremaneira interessam a todos.


    PATRICIA SOUZA(ESTUDANTE)
    DIREITO UCSAL E CISO /UFBA

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  2. O que precisamos agora é não deixar essa onda de indignação esfriar, precisamos (re)acender essa chama de revolver-se contra o caos constantemente, pois me preocupo com uma onda louca de "normalização" das coisas caóticas.

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