domingo, 3 de julho de 2011

A cidade me encanta, me motiva, me seduz...

Passei tanto tempo me ocupando com as coisas que eu não queria estudar, como diz uma amiga minha, que esqueci de observar aquilo que de fato me seduz. Precisei de uma graduação e meia, associada a pós-graduação, para perceber o quanto a cidade me causa esse efeito de sedução. Confesso que adoro andar de ônibus, por que, nele posso ver a cidade se revelando diante dos meus olhos, nas mais diversas dinâmicas de relações histórico-sociais. É o camelô que merca seus produtos da maneira mais irreverente, é a senhora sentada no banco da praça comendo pão e dando os farelos aos pombos, os vovôs do dominó na esquina, os moleques jogando bola, ou simplesmente falando que pegou aquela menina, a "ninha" que passa em direção a escola, trabalho ou cursinho, o vai e vem dos carros numa sintonia quase que computadorizada pela própria mecanização das ações humanas.

Você deve estar se perguntado: e dá para ver tudo isso do ônibus? Sim, e muito mais. Tenho que admitir, odeio engarrafamento e congestionamento (descobrir nas minhas aulas de direção que são coisas distintas), só hoje sei que não é por conta da sensação de perda de tempo, do estresse dos motoristas, loucos, que ficam buzinando como se a rua fosse só deles, ou daquele cheiro horroroso de combustível queimando. Odeio congestionamento por que eles impendem de ver a cidade se revelar, mostrar-se diante dos olhos da gente viva.


Conheço poucas cidades, assim como, menos ainda de suas histórias, mas adoro ficar horas olhando os prédios que nos mostram e nos escondem em suas alcovas, quando andamos despretensiosamente pelas ruas da cidade. Como moro em cidade histórica, o novo e o velho que se imísquem no vai e vem da "pós-modernidade", com as pessoas gritando, brigando, xingando, em meio a praticas religiosas que atendem a ordem de todos os credos, ou ainda que literalmente se amam nas paredes de uma arquitetura ao mesmo tempo bagunçada, colorida e harmoniosa, possível de perceber apenas da janela do ônibus, se o trânsito estiver livre, quando ele saí de um beco, entra numa avenida ou numa rua de grande movimento.
E não pensem que esse encantamento é só com as cidades grandes, metrópoles e megalópolis, pois, acho lindas as cidades do interior, quando aos finais de tarde e domingos as pessoas se reúnem em frente a praça da Igreja, por que, toda cidade pequena tem uma praça na frente da Igreja, ou vice-versa, para falar mal da vida alheia, informar sobre quem tá grávida, quem casou, quem descasou, quem fugiu com o marido/esposa de quem, enquanto a feira esta sendo montada, os produtores da região estão chegando e a cidade vai ficando naquele alvoroço, isso, sem esquecer do brega, por que tem que ter a "lamparina", lugarzinho pra o "rala cocha", pro furdunço da paquera e dos arranjos amorosos.
Isso tudo me faz perceber o quanto a cidade é viva, e ela nos diz isso o tempo todo em suas singularidades, mais ainda não aprendemos a preservar, e sobretudo entender esse patrimônio, pois, como ela é um bem público só a tratamos bem quando nos convêm. Agora sei por que quero estudar as cidades.


Simone dos Santos Borges        

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