sábado, 30 de abril de 2011

Estação Pirajá! De fato pira-se já

Ontem (29/04/2011), mas uma vez o ciclo vital da água em seu belíssimo processo de evaporação e retorno ao estado liquido em forma de chuva presenteou a bela cidade do Salvador, e como já esperado pela população, tendo em vista, toda a estrutura que a cidade tem para recepcionar os fenômenos da natureza, devido aos investimentos em políticas públicas o qual é digno de primeiro mundo, a cidade virou um caos entre alagamentos, deslizamentos de terra, congestionamentos e mais uma vez a famigerada Estação Pirajá, pirou.


Filas que ultrapassavam a ideia de quilometragem e falta de transporte para levar os trabalhadores para casa, vem se tornando uma constante nesse lugar, mas ontem foi demais, ficar 3 horas de relógio em uma fila esperando um ônibus para os bairros periféricos da cidade, tais como Sete de Abril, Nova Brasilia, Valéria e Cajazeiras enquanto de cinco em cinco minutos saiam carros com destino a Barra, é foda (peço desculpa ao leitor, pelo nível da conversa). O mais revoltante é que ao findar o quilométrico engarrafamento os ônibus com destino a localidades acima referida, começaram a se recolher para garagem, e mais espantoso ainda é que não eram nem 10 horas da noite.


Infelizmente fui testemunha ocular do ocorrido.


O fato é que,  um ano atrás, nessa mesma época de chuvas, a referida estação de ônibus ficou tão superlotada de trabalhadores que aguardaram passivos o momento de ir pra casa, depois de tão longa espera, tiveram que ir a pé. Pois tal ato de "Humanidade" com os trabalhadores da capital baiana, instaurou  a desordem generalizada, e uma onda de quebra-quebra, após um controlador de fila agredir uma transeunte da famigerada estação, levou a população a literalmente invadir e quebrar todo o posto SETPS que fica em cima da lanchonete no centro da referida. Lembro que até tiroteio e pequenos arrastões houve nesse dia. Pois é, fui testemunhar ocular do ocorrido nesse dia também.


O que me preocupa é que nada do que ocorre nesse lugar é lembrado ou divulgado pela mídia. A cada dia aquele lugar se torna a sucursal do inferno, divisão SSA/BA, há uma falta de respeito com o cidadão, que paga, se não me falha a memória o quinto transporte publico mais caro do país, e que tem o pior serviço do mesmo.


Quero crer meus/inhas amigos/as que isso é coisa da minha cabeça, mas sei que não é. Lembro-me das minhas aulas sobre o tráfico de escravos no século XVI, XVII, XVIII e XIX e as condições em que esses trabalhadores eram transportados e vejo que mudou apenas o meio de transporte e se aboliu o chicote, e mesmo assim em alguns casos, por que no Rio de Janeiro, no ano de 2010, um controlador de filas, durante uma greve dos maquinistas de trem, usou um para "domar" os trabalhadores.


Bom, voltando a tratar do dia de ontem na Estação Pirajá, por volta de umas oito horas da noite - esqueci de mencionar este fato aos leitores/as, os dois episódios ocorreram a noite - quando os moradores de Sete de Abril finalmente acreditavam que iriam para as suas casas, em meio aquele transtorno, pois o ônibus da empresa São Cristovão, que faz linha para o bairro, conseguiu chegar na estação, ao invés de encostar no ponto, tendo em vista o atraso no horário da linha, o fiscal da empresa, conversou com o motorista e o cobrador do mesmo e foram fazer um horário que sabe lá Deus quando terminaria.


A população revoltada, inclusive eu, que moro neste bairro, depois de alguns segundos, fomos fazer uns questionamentos aos fiscais da empresa e da SETPS, os mesmos fizeram o ouvido de mercado vazio, afinal, preto, pobre, favelado e sem carro é tudo burro e ignorante e animais mesmo.


Liderei, sem vergonha de admitir a abertura forçada da porta do ônibus, claro que imediatamente a força policial, que passou a fazer parte do cenário da estação desde o episódio narrado do ano de 2010, chegou com a educação de sempre, puxando as pessoas para fora do ônibus e com toda educação aos berros, na defesa do patrimônio privado e não da segurança publica, "ninguém sobe nesse ônibus".


Eu com toda minha educação política gramisciana, olhei para o peito do soldado em busca de sua identificação que estava escondida, e perguntei: "não vou subir por quê?", o policial retruca: "não é com vandalismo que se resolve as coisas", então lhe respondi novamente: "não é vandalismo, e sim reivindicação de direitos, tendo em vista a quantidade exorbitante de impostos que pago e enquanto cidadã, estava exigindo que meus direitos a cidadania de ir e vir fossem respeitados". Automaticamente o aparelho de repressão do Estado que já estava pronto a me agredir, se afastou de minha pessoa e se colocou também enquanto cidadão.


E ai como boa Historiadora e Cientista Social em formação, fiz meu discurso na defesa dos direitos do cidadão e da responsabilidade que o Estado tem de garantir meu acesso livre na cidade, desde que não vá de encontro as regras estabelecidas e acordadas na constituição.


Narro estes fatos senhores/as, por que estou literalmente farta de nunca ver as atrocidades cometidas com os trabalhadores baianos que sustentam os luxos de uma fina camada da sociedade, nunca serem divulgadas pela mídia, pois congestionamento só ocorre na região do Iguatemi, Comércio e Rotula do Abacaxi, lugares que ligam a pereferia e subúrbio ao "centro da cidade", os outros transtornos do trânsito são esquecidos.


Até quando vamos ter a reinvenção do navio negreiro? E até quando o poder público vai se manter cego, assim como, a justiça, diante do caos que se tornou a questão do transporte em Salvador? E até quando a população vai se comportar como cordeiro?


Deixo a todos que lêem as loucuras que escrevo essa reflexão de meu principal teórico: "Os burgueses podem até ser ignorantes na grande maioria: o mundo burguês vai adiante, apesar disso. Ele esta estruturado de tal modo, que basta haver uma minoria de intelectuais, de cientistas, de estudiosos, para que os seus negócios sigam em frente. A ignorância também é um privilegio da burguesia, tal como é o dolce far niente e a preguiça mental... Os burgueses também podem ser igonorantes. Os proletários, não. Para os proletários não ser ignorante, é um dever" Antonio Gramsci


Simone dos Santos Borges

Sócrates Jr.: Projeto #EuSouGay! Eu Aderi!

Sócrates Jr.: Projeto #EuSouGay! Eu Aderi!