segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

2016, esse ano foi...

Ano difícil de conceituar, intitular, nomear, e principalmente digerir, aconteceram tantas coisas, que resolvi me silenciar até agora, confesso que tinha tanta coisa para digerir, que tenho tentado fazer como as vacas, ruminado, para ver se desce, pois tenho um bolo na garganta desde o fatídico ipeachment da presidente Dilma, que nos brindou em uma nova ditadura, não militar como os que conclamaram o golpe, mas numa plutocracia.
Termo que poucos ouviram falar, mas é esse o contexto político brasileiro atual, temos um classe política de privilegiados sociais, que necessitam da manutenção de seus privilégios e, por isso, tomaram o poder de assalto. Aproveitaram-se da ignorância do povo brasileiro sobre suas leis, seu ordenamento jurídico, e principalmente de como funciona os três poderes no sistema político brasileiro.
Desconhecimento que se deve a manutenção de uma estrutura social em que educação política não faz parte dos currículos escolares e universitários, o sistema educacional brasileiro sempre foi voltado para abastecer o mercado com mão de obra qualificada tecnicamente, mas não reflexivamente. Assim, bastou que uma meia dúzia de informações manipuladas por grandes conglomerados midiáticos disseminassem  informação de que os privilegiados que agora nos "governam" estavam imbuídos da missão áurea de combater o mau nefasto da política brasileira "A CORRUPÇÃO".
De acordo com essa mídia e a nossa classe política, a corrupção, nunca foi tão perversa em nossa história, como quando sob a batuta do Partido dos Trabalhadores (PT). Não vou dizer que há inocência nas atitudes de nossa classe política, pois como diria Machiavel "a política é a arte do possível", mas sabemos, ao menos os historiadores, que a atual corrupção não é maior da história do país, talvez a mais midiatizada, tendo em vista o grande aparato tecnológico do século XXI, mas não a maior.
Já disse outras vezes que a política não é o maior dos meus interesses nas ciências sociais, mas tivemos em nossa história republicana, algumas situações que cabem analisar com cautela, como o golpe da república, por exemplo, cafeicultores escravagistas e exército estabeleceram alianças para depor o imperador após a abolição da escravatura, perderam privilégios, assim o marechal Deodoro, deu a primeira patada na economia brasileira com a política do encilhamento, quase quebrou o país, assumiu então o outro marechal,  o Floriano, que ficou conhecido como marechal de ferro, e lentamente entregou o poder aos cafeicultores paulistas e leiteiros mineiros que manobraram como puderam o sistema político brasileiro para se garantir como classe dominante, aí os demais ricos do país descontentes deram um golpe emergindo a figura de Vargas, o qual foi e ainda é "o pai dos pobres e a mãe dos ricos", findo seu governo, eis que ressurgi a democracia no país, hoje me pergunto se ela algum dia realmente existiu, pois neste momento esse conceito se amplia.
São as lutas por direitos civis, por acesso cidadania para além do voto, pelo direito de participar dos jogos e tomadas de decisões que vai chegar as classes populares que agora tem voz e começam a participar efetivamente da política. Assustada, nossa classe dirigente que nunca viu e ouviu o povo, cunhou na história, vista de cima é claro, que esse anseio popular era coisa de comunista e subversivo, por isso, era preciso combater. Eis, então uma nova ofensiva militar e por 21 anos vivemos uma nova ditadura.
A verdade é que os brasileiros nunca conheceram efetivamente o que é uma experiência democrática, as classes populares estão sendo continuamente afastadas desse jogo, todas as vezes em nossa história que ela fez barulho para ser vista e ouvida, elas foram tachadas negativamente. Comunistas, messiânicos, cangaceiros, vândalos são algumas dessas alcunhas, que em se tratando da história escrita pelos privilegiados tem essa conotação negativa a qual me refiro.
Nesse fim de 2016, assistir a franquia Star Wars, e muito pensei no que houve em meu país, sobretudo na frase da princesa Leia, em Star Wars Episódio III  - e assim cai a nossa liberdade, sob muitos aplausos - automaticamente associei a ascensão do Lord Sidious a Michel Temer, pois foi, sob o mesmo pretexto que a maioria dos brasileiros entregou a minha liberdade, os meus direitos de trabalhadora, mulher, negra, periférica, marginal, sob muitos aplausos, me resta compor a resistência e aguardar o despertar da Força.
E é assim que termino este ano, que parece não ter fim, desesperançada, desacreditada das instituições democráticas, e pedindo a Deus, que apareça logo esse Jedi e destrua os nossos Lord Veider (congresso e senando) e o Imperador (presidente).

No mais, Fora Temer e,
FELIZ ANO NOVO

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social    



quinta-feira, 12 de maio de 2016

Hoje meu texto é sem titulo, por que não sei que nome dá ao retrocesso cognitivo da política brasileira. Ao levantar para ir ao meu trabalho (que não sei quanto tempo vai durar), mandei uma mensagem aos amigos nas redes sociais, a qual compartilho com os loucos e loucas que tem coragem de ler as coisas que escrevo.

"oficialmente somos um ditadura disfarçada de democracia"

Sinto-me consternada com tudo que acontece, mas quero ser solidária a presidente que elegi, por que sim votei nela nas eleições de 2010 (por acreditar que já era o momento dessa nação ter na liderança um mulher, uma forma de levante da autoestima de todas) e em 2014 novamente, por que já vislumbrava um golpe em curso. 

Do ponto de vista simbólico, rememoro Bourdieu e ao conceito de violência simbólica, por que o que nós mulheres politizadas e empoderadas desse discurso sofremos com o impeachemant de Dilma nesse momento é isso. Não foi só a democracia quem perdeu, as lutas de combate a violência contra a mulher perderam muito mais, perdemos voz, representatividade, identidade. 

Os discursos da câmara dos deputados em 17/04/2016 legitimavam a violência e usurpação do nosso corpo pelos homens velhos e brancos, até agora sinto repulsa ao lembrar do discurso de Bolsanaro (graças a Deus não sei como se escreve o nome dele), ao elogiar um estuprador e torturador de mulheres. Além da usurpação do corpo feminino, naqueles discursos estava o nosso silenciamento forçado. A nossa expulsão dos locais de tomadas de decisão, do local que nos torna cidadã de fato e de direito.

Dilma Rousseff foi colocada para fora da presidência, dentre um dos muitos motivos, por causa do conservadorismo misogeno da casa legislativa brasileira, pelo erro de ter nascido mulher e distante do padrão de feminilidade posto por essa sociedade patriarcal na qual nos estamos inseridas. 

Quem de nós mulheres nunca teve uma fala deslegitimada sobre o conhecimento em política? A famigerada frase "mulher não entende de política" ou "política não é coisa para mulher". Ah! Tem aquela maldita citação bíblica de que "o homem é quem dever ser cabeça da casa". E nos mulheres devemos ficar só vendo a história por que ela deve ser feita por homens. 

Pois, venho te agradecer Dilma Rousseff pelos 6 anos de representatividade, em muitas coisas discordei do seu partido, e ainda discordo, depois que assumiram a presidência da república. Mas, como mulher você hoje empoderou muitas a seguir em frente de cabeça erguida, sem o mi mi mi da fragilidade que nos foi enfiado goela abaixo desde quando nascemos. Como mulher nos ensinou a ser fortes destemidas "impávidas, colossais", e como diz no hino do estado da Bahia a ter a certeza de que "nunca mais, nunca mais o despotismo, regerá nossas nações, com tiranos não combinam, brasileiros corações". 

A senhora entrou no Palácio do Planalto pela porta da frente, enquanto muitos acostumados a desistir frente ao menor problema por diversas vezes a incentivaram a desistir pelo caminho da renuncia, permaneceu firme e forte nos seu posto onde legitimamente fora colocada, e que em seu último ato não teve medo em denunciar as injustiças que sofre, como nos mulheres sofremos todos os dias, pelo fato de termos rompido com os laços do patriarcado. 

Hoje, se estivesse próxima a senhora aí em Brasília te daria um abraço e flores. E empunharia os punhos fechados ao ar, como os panteras negras faziam, pois empoderastes muitas mulheres com sua dignidade e força política na história do Brasil, sem um minuto sequer abandonar sua trajetória política de luta pela democracia neste país. 

Muito obrigada, em nome de todas nós mulheres empoderadas, ou que ainda não sabem que são vitimadas pelo machismo do patriarcado presente nas leis consuetudinárias brasileiras. 

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social


domingo, 17 de abril de 2016

A liberdade que tiram de mim

Estou escrevendo por que talvez seja última vez que tenha meu direito de expressar minha opinião garantido. Estou vendo a elite branca, heterossexual, de um evangelismo jihadista tomando o poder no país, reivindicando para si e sua família um direito que os meus antepassados precisou conquistar pendurado em pelourinho, sou tataraneta de um mulher escravizada, que minha bisavó só não chegou a república escrava por conta da lei do ventre livre, e vejo essa corja, sim essa corja, reivindicar para si o direito de escravizar-nos novamente.

O golpe esta instaurando nos aviltam a escravidão novamente, se não de grilhões, de cerceamento de direitos e equidade social, o governo da Dilma Rousseff está sendo retirado dela pelos acertos e ajustes sociais, que foram feitos nos últimos treze anos. Pelo amor de Deus, sim também chamarei por Deus, observem os discursos dos que dizem defender nossos direitos, eles defendem as famílias deles, o seu agronegócio e sua fé deturpada de uma leitura intencionalizada de um cristianismo inquisidor, que quer destruir a todos nós, inclusive os cristãos que não concordam com esse cristianismo jihadista.

Choro compulsivamente desde as 16 horas da tarde deste domingo 17\04\2016. Por que eu nasci numa ditadura civil e militar, que hoje bate a nossa porta, e que temo ter que morrer nela, para que minha família e a suas famílias gozem de um direito que vão tirar de nós. Que já estão tirando de nós nesse exato momento em que a DEMOCRACIA ESTA MORRENDO.

Se não fossem as cotas, não teria acessado a universidade, não teria saído da classe E e entrado na C, por conta das políticas sociais implantadas desde 2002, quando Lula se tornou presidente, fui aluna de escola pública e como eu muitos dos meus companheiros foram e são beneficiados por políticas de bem-estar social, que esses escravagistas querem restituir em nosso país.

Hoje disse ao meu companheiro, estamos sim numa luta de classe, veja quem segue para manifestação a favor do impeachament e veja que segue para a passeata contra. De um lado rangers, renegade, hally davisons, e pessoas brancas do outro MST, Trabalhadores seguindo de ônibus, e pessoas negras, bom, se isso não é luta de classes eu não sei o que é. Ao mesmo tempo numa rede social um amigo chama atenção ISSO É UMA PLUTOCRACIA, e sim concordo com ele, igual a que Weber denuncia em ciência e política duas vocações, quando da unificação alemã.

É uma pena, ou melhor tudo isso que estou vendo me causa um temor pelo futuro que não sei, ou melhor, que não tenho como descrever. Como historiadora e cientista social tenho real noção do que pode acontecer quando os nossos jihadistas locais assumirem o poder de fato, vem aí tempos de arrocho econômico, os quais, pobres como eu e meus amigos e familiares corremos o risco de voltar a passar fome, tempos de perseguições políticas, perseguições religiosas, de gênero e para mim a pior de todas a de raça.

Durante anos os movimentos negros veem denunciando as mortes, o genocídio, da nossa juventude negra, advinha de quem vão ser os corpos estendidos no chão indiscriminada a partir de agora. Afinal em tempos de Estado de recessão tudo será em nome da segurança nacional, e os nossos jovens negros são sim, uma ameaça a nossa "DEMOCRACIA CRISTÃ JIHADISTA HETEROSSEXUAL E BRANCA".

QUE DEUS TENHA PIEDADE DE NÓS!!!!
Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

   

sexta-feira, 1 de abril de 2016

"CARTOMANTE"

Em tempos, no qual a ditadura civil vislumbra nossa porta comecei a refletir ouvindo Elis Regina, nessa fabulosa canção de Ivan Lins chamada CARTOMANTE e ele diz: 
"cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai não fica nada, cai o rei". 
É preciso ouvir para refletir que: se a democracia cair em nosso país não ficará nada pelo qual valha a pena lutar e viver, nasci numa sobre o julgo de uma ditadura civil e militar, janeiro de 84.
Em 1984, o país saiu as ruas em favor da Emenda Dante de Oliveira - DIRETAS JÁ - conclamava o povo. 
A liberdade e os direitos individuais marcam o ano que eu nasci, a possibilidade de uma ditadura me apavora, penso que se os "reis" caírem, vou fugir, vou embora para o Uruguai, mas ao mesmo tempo rompe em mim uma necessidade violenta de dizer ACORDEM BRASILEIROS!
Retornar ao modelo de sociedade barroca, colonial, escravagista não é o ideal, não aguentaremos desistir das conquistas sociais dos últimos 20 anos que nos levaram à universidade, nos tiraram da miséria extrema, que nos possibilitou ter uma voz barulhenta e implicável diante dos crimes de racismo, violência contra as mulheres, homofobias e intolerâncias religiosas. 
Que sim aumentou a nossa renda, para que pessoas que nasceram e cresceram na periferia pudessem ver que é possível andar de avião, ter um metrô em Salvador que encurta a distância entre periferia e 'centro', e acabar com o ultimo laço da escravidão que era trabalho da empregada doméstica aviltada por patrões que lhes negavam direitos de trabalhadora.
Por favor, não desistamos da DEMOCRACIA, não deixemos o "rei de espadas ou ouro cair" por que cerceia a cadeira do "rei" um grupo que que voltar a nos escravizar "num esforço napoleônico de recolonizar o Haiti no século XIX". 
Sejamos uma sociedade que de fato revindica o progresso, a cidadania plena, abandonemos as pequenas corrupções que legitimam as do congresso, abandonemos "o jeitinho" e cumpram-se as normas legais e sociais que possibilitam a harmonia social, não precisamos ter as mesmas ideias ou concordar com o mesmo modelo politico, mas tenhamos ética, por que enquanto não tivermos isso continuaremos com medo. E penso que enquanto não aprendermos a ser éticos jamais saberemos viver em DEMOCRACIA. 
E assim os que nasceram numa ditadura, morrerão nela e os que nasceram gozando de liberdade legalizada nunca saberá de fato o que é isso, por que quando começar a experimentar a legalidade sempre dará lugar ao autoritarismo. Portanto, "pensem nos seus filhos".  

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social