domingo, 17 de abril de 2016

A liberdade que tiram de mim

Estou escrevendo por que talvez seja última vez que tenha meu direito de expressar minha opinião garantido. Estou vendo a elite branca, heterossexual, de um evangelismo jihadista tomando o poder no país, reivindicando para si e sua família um direito que os meus antepassados precisou conquistar pendurado em pelourinho, sou tataraneta de um mulher escravizada, que minha bisavó só não chegou a república escrava por conta da lei do ventre livre, e vejo essa corja, sim essa corja, reivindicar para si o direito de escravizar-nos novamente.

O golpe esta instaurando nos aviltam a escravidão novamente, se não de grilhões, de cerceamento de direitos e equidade social, o governo da Dilma Rousseff está sendo retirado dela pelos acertos e ajustes sociais, que foram feitos nos últimos treze anos. Pelo amor de Deus, sim também chamarei por Deus, observem os discursos dos que dizem defender nossos direitos, eles defendem as famílias deles, o seu agronegócio e sua fé deturpada de uma leitura intencionalizada de um cristianismo inquisidor, que quer destruir a todos nós, inclusive os cristãos que não concordam com esse cristianismo jihadista.

Choro compulsivamente desde as 16 horas da tarde deste domingo 17\04\2016. Por que eu nasci numa ditadura civil e militar, que hoje bate a nossa porta, e que temo ter que morrer nela, para que minha família e a suas famílias gozem de um direito que vão tirar de nós. Que já estão tirando de nós nesse exato momento em que a DEMOCRACIA ESTA MORRENDO.

Se não fossem as cotas, não teria acessado a universidade, não teria saído da classe E e entrado na C, por conta das políticas sociais implantadas desde 2002, quando Lula se tornou presidente, fui aluna de escola pública e como eu muitos dos meus companheiros foram e são beneficiados por políticas de bem-estar social, que esses escravagistas querem restituir em nosso país.

Hoje disse ao meu companheiro, estamos sim numa luta de classe, veja quem segue para manifestação a favor do impeachament e veja que segue para a passeata contra. De um lado rangers, renegade, hally davisons, e pessoas brancas do outro MST, Trabalhadores seguindo de ônibus, e pessoas negras, bom, se isso não é luta de classes eu não sei o que é. Ao mesmo tempo numa rede social um amigo chama atenção ISSO É UMA PLUTOCRACIA, e sim concordo com ele, igual a que Weber denuncia em ciência e política duas vocações, quando da unificação alemã.

É uma pena, ou melhor tudo isso que estou vendo me causa um temor pelo futuro que não sei, ou melhor, que não tenho como descrever. Como historiadora e cientista social tenho real noção do que pode acontecer quando os nossos jihadistas locais assumirem o poder de fato, vem aí tempos de arrocho econômico, os quais, pobres como eu e meus amigos e familiares corremos o risco de voltar a passar fome, tempos de perseguições políticas, perseguições religiosas, de gênero e para mim a pior de todas a de raça.

Durante anos os movimentos negros veem denunciando as mortes, o genocídio, da nossa juventude negra, advinha de quem vão ser os corpos estendidos no chão indiscriminada a partir de agora. Afinal em tempos de Estado de recessão tudo será em nome da segurança nacional, e os nossos jovens negros são sim, uma ameaça a nossa "DEMOCRACIA CRISTÃ JIHADISTA HETEROSSEXUAL E BRANCA".

QUE DEUS TENHA PIEDADE DE NÓS!!!!
Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social

   

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