terça-feira, 9 de outubro de 2018

Quebrando um pouco do silêncio.



Faz mais de um ano que arranhei letras nessas páginas virtuais, que por muito, e muito tempo, serviram para que eu expurgasse um pouco das angustias como mulher e ser político no mundo que atuo.
Hoje, resolvi quebrar este silêncio, que tem haver com as duas últimas postagens que fiz, precisei passar por um período de introspecção da escrita para amadurecer a leitura, fiz um curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social que muito aprendi sobre mim, atriz política social, que se vê hoje como defensora dos direitos humanos e da cidadania possíveis apenas nos regimes democráticos. Ao mesmo tempo que me entreguei as doçuras do amor em sua plenitude.
Mas, diferente da citação de Alexandra Kollontai no texto que abre este blog em 2010, não falarei da minha existência ou das delicias do amor, peço sua licença para a partir daqui falar de política, e mudar inclusive o título deste texto.

Agradeço!!


MANIFESTO CONTRA OS FASCISTAS E NEONAZISTAS DOS TRÓPICOS

Com tudo devo dizer, escrevo estas linhas com o coração de muitas lutas pela defesa e garantia das liberdades individuais, ao mesmo tempo que aplico um pouco da fúria daqueles que dominam as letras, e que fazem dela seu instrumento de trabalho e lugar no mundo.
Quando adolescente aprendi que a caneta é a mais poderosa de todas as armas, para os que dominam a arte de sintetizar em linhas os desejos, os amores, as paixões, as liberdades, e, até mesmo o ódio.
A fúria na escrita que agora desenho vem do combate a esse ódio, um ódio que o poeta assim escreveu:



Então, antes que venham me levar por que não me importei com os outros, resolvi tomar partido, resolvi me importar com os negros (sejam homens ou mulheres), com operários, com os miseráveis, com os LGBTS e com todos aqueles que no século XXI receberam a alcunha de MINORIAS.
É preciso dizer que na etmologia da palavra democracia, onde essas minorias passaram a existir, a mesma significa: Demos (povo) e Kratia (governo), e se na Grécia Antiga onde a mesma surgiu, o cidadão que participava deste governo era apenas homem, maior de 21 anos e habitante da pólis (cidade), nos auspícios do século XVIII e da filosofia iluminista essa tal democracia ganhou outros contornos, que principiaram Igualdade, Liberdade e Fraternidade, e Rousseau imortalizou o conceito de democracia da seguinte forma: "todo poder emana do povo", o tempo passa e com o fim da IIª Guerra Mundial e o horror provocado pela EXTREMA DIREITA NAZIFASCISTA ampliou ainda mais o conceito de democracia e a quem ela pertence, atribuindo-se a ela o ideal de cidadania a todos sem distinção de classe, raça ou gênero.
Na medida em que escrevo o parágrafo anterior parece então que essa tal democracia que hoje nos transforma a todos em cidadãos foi linear e progressiva, mas não foi, ela é fruto de várias e incontáveis lutas dessas minorias para se fazer ver e ouvir por esses outros que sempre tentaram apagá-las da história, é fruto das manifestações da contracultura em 1968, dos movimentos pelos direitos civis, nos Estados Unidos, durante toda a década de 60 do século XX.
No caso do Brasil do combate intelectual, e por vezes, armados para o fim da ditadura civil e militar, é o anseio das "diretas já", da classe trabalhadora que se apinhava em greves, dos mortos na guerrilha do Araguaia, do movimento dos sem teto e dos sem terra já no final do anos 80, e do movimento negro, e de tantos outros que vem em nossa história recente denunciando a injustiça social.
Mas, o que é então esse nazi-fascismo que o temor a ele fez ampliar o conceito de democracia? Trago as características deste regime presentes em qualquer livro didático de História:


- Nacionalismo: valorização exacerbada da cultura, símbolos (bandeiras, hinos, heróis nacionais) e valores da nação.
- Totalitarismo: concentração de poderes nas mãos do líder da nação. Falta total de democracia e liberdade. No sistema totalitário as pessoas devem seguir tudo que é determinado pelo governo. Os opositores são presos e, em muito casos, executados.
- Militarismo: investimentos pesados no desenvolvimento e produção de armas. Além de proteção, os nazifascistas defendiam o uso deste poderio militar para fins de expansão territorial.
- Anticomunismo: os comunistas foram culpados pelos nazifascistas como sendo os grandes responsáveis pelos problemas sociais e econômicos existentes. Muitos comunistas foram perseguidos, presos e executados pelos nazifascistas da Alemanha e Itália.
- Antiliberalismo: ao invés da liberdade econômica, defendiam o controle econômico por parte do governo. O governo deveria controlar a economia, visando o desenvolvimento da nação.
- Romantismo: para os nazifascistas a razão não seria capaz de gerar o desenvolvimento de uma nação, mas sim o auto-sacrifício, as atitudes heróicas, o amor a pátria e a fé e dedicação incondicional ao líder político.
- Antissemitismo: atitudes de preconceito e violência contra judeus. De acordo com os seguidores do nazifascismo, os judeus eram, junto com os comunistas, os grandes responsáveis pelos problemas econômicos do mundo. Dentro deste pensamento, Hitler tentou eliminar os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, matando-os em campos de concentração. Este evento ficou conhecido como Holocausto.
- Idealismo: transformação das coisas baseada nos anseios e instintos.
- Expansionismo: busca de expansão territorial através de invasões, ocupação e domínios de territórios de outros países. Para isso era necessário investir no setor bélico e promover guerras. Baseado neste ideal, a Alemanha Nazista invadiu a Polônia em 1939, dando início a Segunda Guerra Mundial.
- Superioridade racial: linha de pensamento que defende a ideia de que algumas raças são mais desenvolvidas do que outras. Os nazistas, por exemplo, defendiam que os arianos (no caso homens brancos alemães) eram superiores às outras raças e, portanto, deveriam exercer a supremacia mundial.

fonte: https://www.suapesquisa.com/historia/nazi-fascismo.htm


Diante do que está exposto, sei que alguns vão perceber semelhanças com o momento político atual no mundo e no Brasil. Mas, os fascistas tupiniquins a quem direciono essas linhas vão redirecionar ao PT, dirão frases que foi ele quem acabou com o Brasil e que o líder deles quer recuperar o país, acusarão estas características de socialistas ou comunistas, mesmo sem saberem o que são esses últimos.
E, pior estão prontos a compor a Gestapo, a SS, os camisas negras (forças militares de controle e repressão nesses regimes) para levar a mim, e aos meu pares aos campos de concentração e paredões de fuzilamento.
O que os nazistas e fascistas tupiniquins não sabem é que eles, também, são alvo do seu líder e mesmo conduzindo os contrários ficarão sob a mira do mesmo fúzil, pois, não integram características da "raça superior". Você juventude iludida com fascismo sentado a minha frente, hoje conclama vitória, mas amanhã estará como na última frase do poema de Brecht: como não se importou com ninguém, ninguém se importará com você. 
E, diferente de mim e dos meus pares acostumados a existir e resistir as rupturas políticas democráticas que enfrentamos ao longo da nossa geração, para os que apoiam a conjuntura fascista que se avoluma com a força de um rolo compressor e que já tem deixado vítimas do seu levante, faço minha as palavras de Hannah Arendt, sobre o julgamento de um dos mais altos líderes do regime fascista em Israel, ""Como pode acontecer um coisa dessas"? e "Por que aconteceu"? [...] "Até que ponto vai a responsabilidade dos Aliados"? "Como puderam os judeus, por meio de seus lideres, colaborar com sua própria destruição"? "E por que marcharam para a morte como carneiros para o matadouro"?" 

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social