sábado, 27 de outubro de 2012

Por que escrevo 2

É preciso declarar o horror pelas coisas insanas que povoam meu viver. Não consigo entender a sociedade em que vivo, entendo sua complexidade, sua loucura, seu estresse, seu individualismo homogêneo que espetaculariza a cultura alheia, que pretere um filho e despreza outro, que ama e desama, que deixa de dizer: é crime, é errado, é mal, é feio tudo em nome do politicamente correto. 

Je déteste beaucoup au politiquement corect!! 

Digo isso, com a propriedade de alguém que se um dia perder a capacidade de indignar-se é por que morreu. Como estou muito viva, escrevo. Afinal, necessito estravar e a escrita é meu padre Mary. 

Bom, do que vou escrever hoje: Maturidade. Todos se perguntam o que é isso? Quando começa? Ou ainda de onde ela vem? Mas a verdade é que esta não começa, e nem vem do lugar oculto da natureza divina. É uma conquista do humano. É com perseverança e principalmente com as "porradas" que a vida nos dá que amadurecemos. Nos tornamos uma boa fruta de consumo aceitável por todos. 

Porém nossa sociedade ocidentalizada entende esse processo, ambíguo, complexo, dual, dialógico, surreal, real, objetivo e subjetivo como sendo fruto da aquisição de riquezas. O indivíduo maduro para o capitalismo é aquele que estabelece um padrão de vida ao modelo burguês e civilizado a la ocidentalização greco-romana-USA. É preciso ostentar restaurantes caros, carros caros, uma peça de roupa que daria para duas cestas-básicas para famílias que vivem com menos de um dólar/dia.

Mas, será que maturidade é isso? Realização Material? Penso que não. Então reivindico minha herança iluminista do "duvidar é preciso". Duvido que a riqueza material torne uma pessoa "madura", analisemos alguns casos. Lindsay Loham, ganhou seu primeiro milhão antes dos vinte anos, e perdeu a cabeça, afundou-se em drogas e escândalos que a levaram a prisão diversas vezes. Thor Batista, que atropelou e matou um pai de família enquanto brincava com seu carro novo. Ricos e "bem sucedidos"? Ou crianças sem limites. 

Pois é desse jeito que a maturidade chega. São limites, primeiro impostos pelos pais, depois pela escola, pela sociedade, e no âmbito filosófico, a vida. Roberto Carlos escreveu e cantou a maturidade de um jeito que acredito ninguém mais o fez. Ele diz que: 


Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou viver na solidão
É preciso ter cuidado
Prá mais tarde não sofrer
É preciso saber viver...

Toda pedra no caminho
Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mau existem
Você pode escolher
É preciso saber viver...

O que me leva a entender que essa tal maturidade é uma questão de escolhas. Aliás, todas as grandes histórias não são mais do que escolhas. Escolhas que mudaram sociedades inteiras, trouxeram liberdade e prisão, mal e bem, maniqueísmo que remonta a história humana desde a antiguidade. Somos humanos, portanto duais, e o que nos fará sentir-se maduros, se escolhermos caminhos que acalmem os anseios do coração. Não devemos maltrata-lo guardando aquilo que não nos deixa crescer como indivíduos. 

Se você tem grana pra ir ao melhor restaurante, comprar o melhor carro, vestir a roupa mais cara, lembre-se que você necessita do subjetivo chamado afeto, o qual nenhuma dessas coisas pode te dar, esse afeto é fruto de uma relação de duas pessoas, pois só entre pessoas pode se alcançar a maturidade. Então amadureça é seja a melhor e mais saborosa de todas as mangas, ou frutas que mais gostar. 

Simone dos Santos Borges
Historiadora, Educadora e Cientista Social em formação.