domingo, 1 de novembro de 2015

Uma sociedade de ignorantes

Todas as vezes que entro em uma sala de aula, me pergunto, o que leva os jovens a um comportamento repulsivo e odioso de desobediência das normas e regras sociais, estabelecidas desde que a sociedade tornou-se civilização, e que ao longo dos anos a reinventa diante das novas demandas de construção dos laços sociais de coesão, este último como diria Durkheim.

Não quero x alunx inerte, ou cataclizado, paralisado diante das informações que o levam a aprender, afinal compreendo que a sociedade atual é dinâmica e que o ato de aprender e ensinar deve acompanhar as novidades do saber tecnologizado da fração dos segundo, portanto o ato de ensinar deve ser rápido e não estanque, não adianta mais regurgitar o conhecimento acadêmico nas jovens cabecinhas cybertrônicas, antenadas a velocidade do gigabyte.

Mas, a perpetuação de algumas práticas sociais, as quais concebo em transição, como o machismo, sobretudo nx adolescente é um dos enfrentamentos que não gostaria mais de ter em sala de aula, afinal, o que há com elxs diante da autoridade feminina, uma vez que são jovens que nasceram sobre a égide das conquistas femininas dos últimos cinquenta anos, muitos delxs reforçam um machismo assustador dentro das salas de aula e boa parte do desacato que sofro como professora, vem dessa relação, onde elxs como futuros pretensos homens ou mulheres não concebem as hierarquias sociais elevadas, sobretudo na esfera do conhecimento, a partir da representação do feminino.

Diante da dimensão raça/classe/gênero como professora, já precisei enfrentar agressões verbais de ameaças de estupro, no sentido punitivo, o aluno queria me colocar no "meu lugar de mulher", já precisei respirar fundo ao, ouvir de "uma garoto", que professores homens são diferentes merecem, mais respeitos, e a última e não menos aviltante, vamos ouvir o professor "fulano", pois ele é homem e esta falando.

E ainda as pessoas se perguntam se é mesmo necessário estudar gênero nas escolas, um dia desses não aguentei e larguei para o guri, seu problema comigo é uma questão de gênero, e disse a ele que mesmo não concordando com o que ia dizer, que ele guardasse o machismo dele para dentro do espaço doméstico, mas ele disse que isso para ele não quer dizer nada, que ele não obedece a mãe dele mesmo. Então me deu a chave para dizer, "você só faz confirmar o que digo", seu problema é uma questão de gênero, e é claro fiz todo um discurso feminista na sala, da qual ele saiu bem calado.

Nas minhas reflexões me pergunto, até quando a sociedade brasileira, vai permanecer fomentando preconceitos sociais dessa natureza? Ora a profissão professora de educação básica é hegemonicamente feminina desde o início da república, e ainda as professoras desse nível de ensino, vivem na marginalidade profissional, baixos salários, desprestígio social, violência, e para mim a pior de todas a descredibilidade do saber cientifico, uma vez que muitas de nós somos pesquisadoras, estamos no espaço acadêmico produzido e fomentando conhecimento, momento em que até nossos colegas "homens" chegam a nós na sala dos professores "eu vim corrigir você", ou ainda "eu uso essa estratégia e você deve fazer o mesmo".

Tô cansada disso e só me resta dizer a esse machismo tosco, que nem mais fundamentado no cientificismo é, somente no senso comum, de uma sociedade hipócrita, que deixa de evoluir por que o "jeitinho" é melhor que refletir e promover mudanças sociais efetivas é maior que tudo, VÁ TOMAR NO CÚ.  

Simone dos Santos Borges
Historiadora e Cientista Social