sexta-feira, 11 de março de 2011

Ave! Como sofro.

Chegou a hora de escrever dinovo. Vamos lá a mais um momento cotidiano e discussão de gênero.
Bom, 8 de março como todos vocês já sabem é o dia Internacional da Mulher, pra variar recebi aquela enormidade de poesias, textos, slides e outras coisinhas me desejando felicitações, me dizendo o quanto as mulheres são fortes para vencer os mais variados obstáculos, e que a vida é assim mesmo, mulher nasceu para sofrer e superar, mostrar sua força e valor.
Cabe-nos duas perguntas: o que é essa força ou de onde ela emana? E qual é o valor das mulheres?
Acredito que, se ser forte é passar o tempo todo apanhando, no sentido abstrato, e as vezes até físico da palavra, puta que pariu, ser mulher então é sinônimo de saco de pancada. Se mostrar o valor, é ser a esposa dedicada de cama, mesa, fogão e mãe, ser mulher se reduz apenas ao ato da obediência bíblica do "crescei e multiplicai-vos" e esquecei-vos de pensar.
De todas as celebrações e homenagens às mulheres a que mais gostei e chamou atenção foi a entrevista feita pela apresentadora Ana Maria Braga a, nossa grande militante do combate a violência contra a mulher, Srª Maria da Penha.
A qual vale apena conhecer sua trajetória, ex-esposa de um agressor de mulheres que se tornou paraplégica ao levar um tiro do seu ex-companheiro, se é que assim podemos chama-lo, esta que bateu em varias portas em busca de ajuda para denunciar seu agressor, mas que não a obteve, tendo em vista que até o ano de 1996 o Brasil tinha em sua Constituição a vergonhosa Lei do Crime de Honra, em que os maridos "ofendidos" podiam assassinar suas esposas e sair ilesos de tal ato. Ela sempre lutou para combater e coibir as agressões as ditas senhoras do sexo "frágil".
Na entrevista apresentadora e entrevistada discorriam sobre os avanços da Lei 11.340/2006 a qual recebe o nome desta senhora, devo confessar que até escrever esse artigo e assistir essa entrevista não sabia bem do que a mesma tratava, agora sei que a mesma prevê a prisão dos maridos, companheiros, irmãos, pais ou qualquer ente familiar que venha agredir mulheres, além de garantir proteção e manutenção ao direito da vida.


"Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências"(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm)




São considerados pelo Estado brasileiro como violência contra mulher: as agressões físicas, psicológicas, sexuais e morais. Esta previsto nesta lei desde as políticas publicas de combate a violência contra a mulher até os modos de atendimento das autoridades policiais, assim como as ações emergênciais àquelas que se encontram com seu direito a vida ameaçado. 
No papel um grande avanço, na pratica um enorme atraso, pois a demora nos julgamentos, a falta de divulgação de como funciona esta lei e a quem ela atende, o machismo ainda arraigado a nossa sociedade, e a impunidade aos agressores de mulheres, fazem com que depois de quase cinco anos, tenhamos o quadro de estatísticas de violência contra as mulheres tão alto.
Durante a entrevista a Maria da Penha falava na demora em prender os agressores, no descumprimento do flagrante, tendo em vista que para ser autuado o agressor precisa ser pego em flagrante, na demora em certos juízes e juízas em determinar o veredito prisional o que ainda leva muitas mulheres a morte e na  necessidade que temos, enquanto cidadãos, de denunciar os agressores. 
Vale retomarmos as duas perguntas iniciais, o que é a força e o valor feminino? Ao tentar me responder essa pergunta lembro-me de Simone de Beauvoir quando li "A Mulher Independente", a autora diz que as mulheres só serão realmente livres quando emanciparem o corpo, ou seja, que é necessário as mulheres tratarem o sexo da mesma forma que os homens. Ainda somos violentadas pelo fato de que possuímos um valor feminino ou de feminilidade que não foi por nós elaborado, a distinção mulher pra casar e mulher pra trepar e apanhar é muito cruel. 
Os padrões de essência feminina que beiram a futilidade também são de uma crudelidade imensuravel, então vamos parar de fingir e dizer-nos uma as outras que somos fortes por que superamos nosso sofrimento, as opressões do cotidiano e libertemos nosso corpo, para que não venha outrem e dele queira se tornar dono. 
Digamos em conjunto: meu útero é meu não pertence ao Estado ou Igrejas para que essas instituições decidam o que deve ou não dele nascer, minha vagina é minha para fazer o que dela eu bem entender, assim como meu coração é meu para dá-lo e amar a quem eu quiser. Concordo com minha chara em muitos aspectos e a libertação e propriedade do individuo sobre o corpo, assim como o sentimento de pertença, são os primeiros passos, na minha opinião para se acabar com a violência contra as mulheres.              

Escrito por: BORGES, S. S. 
  

10 comentários:

  1. Adorei o texto!!! Sensível e agressivo na medida certa! Parabéns!
    E vamos à luta!!!!

    Bjos

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  2. adorei seu posicionamento e concordo plenamente!!!!
    Nao acredito em liberdade pela metade ou so na teoria!!!!

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  3. Assim vocês colocam meu ego nas alturas. rsrsrsr
    Obrigada

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  4. E AE MONE COMO TÁ?
    EXCELENTE TEXTO E RESOLVI TER A “OZADIA” DE COMENTAR.
    RSRSRSRS

    Perfeita a sua leitura acerca da lei Maria da penha e sobre a pseudo-construção de ideais que venham levantar a auto estima da mulher. Mas o como levantar esta auto estima?? Apenas com a fachada da criação de uma lei, para ser aplicada em um estado de direito que leva em consideração “o tal dos costumes”?
    Para que no decorrer do processo o agressor invoque o código penal, que prevê o tal crime de ofensa a honra, transferindo a culpabilidade do agressor? Ou talvez por julgamentos feitos por um corpo de juizes totalmente defasados e obsoletos, que julgam levando em consideração todo o pensamento provinciano (isso mesmo, provinciano) de uma sociedade hipócrita e conservadora?

    Não é muito plausível termos uma lei como a Maria da Penha, criada para proteger as mulheres de verdadeiros “vilões da essência feminina”, uma essência nada frágil e delicada como por séculos nos convencionamos a acreditar. Sem ao menos observar a lei anterior que pode defender o agressor e que tem como principal aliada, uma das doutrinas do Direito que diz que a lei só retroage para beneficiar o réu. Ou o descumprimento da segunda parte da lei, a parte que prevê os meios necessários para a viabilização e principalmente conscientização das mulheres do objeto e objetivo da lei: COIBIR E PUNIR OS AGRESSORES.

    Mas, vivenciando a práxis cotidiana de agente público, fiscalizador da lei, sou forçado a me inclinar sobres os problemas relatados como: descumprimento do flagrante, demora dos juizes, testemunhas.
    Como cobrar a aplicabilidade da lei se em muitos casos as próprias agredidas vão retirar as queixas prestadas, em muitas vezes manifestam o desejo que não responsabilizar criminalmente os seus agressores, livrando-os dos rigores previstos em lei. Tudo isso por estar presa ao já citado pensamento provinciano, hipócrita e conservador de uma sociedade que vê a mulher como incapaz de se manter, de gerir uma casa, de administrar, de julgar, de dirigir, de trabalhar para adquirir a independência financeira, e de um sem número de simples e/ou complexas tarefas, que possam tornar a mulher INDEPENDENTE, tudo isso escondido atrás da máscara da “fragilidade feminina” e da fortaleza masculina, onde ao homem cabe ser superior a mulher. Um pensamento que aliado a vontade faz o homem agredir, ofender e persuadir psicologicamente apenas para mostrar a mulher quem manda, pois mulher INDEPENDENTE é vista com maus olhos, e em muitas vezes criticada de forma dura e cruel.

    Iremos concordar que o judiciário brasileiro anda a passos de tartaruga (não querendo ofender as tartarugas), mas esse estado caótico é graças a sublime e plena desorganização judiciária. Falta pessoal nos cartórios, falta oficiais de justiça e em muitas comarcas falta até papel, caneta e carimbo. Funcionários sem competência necessária para ocupar certos cargos e tantas outras irregularidades, que se formos desdobrar entraremos num poço sem fim de tais.

    E por fim, concluo que a lei Maria da Penha se não aplicada a sua segunda parte, por assim dizer, irá soar como uma fachada criada para dar uma psedo-resposta a tão nefasta e hipócrita sociedade. O foco para a total excelência da lei deveria ser mudado, ao invés de lembrarmos da força e solidez da mulher apenas no simbolismo do 8 de Março, devemos mudar a estrutura ideológica da sociedade, romper os grilhões que ainda nos amarram ao século passado, ao provincianismo que citamos no início deste comentário. Talvez a lei Maria da Penha seja o primeiro passo para vislumbrarmos o desprendimento do pensamento porco e nefasto da sociedade brasileira.

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  5. É NEGA...
    VOLTEI COM FORÇA TOTAL...
    PELO MENOS A PÓS ESTÁ ME FAZENDO PENSAR UM BOCADINHO SÓ... RSRSRSRSRSR

    QUE DIA VAMOS TOMAR ESSA CERVEJA GELADA, MISTURAR AS TINTAS E LEMBRAR AS RISADAS "SABADESCAS" VESPERTINAS NO OMOLÚ???? RSRSRSRSRSR

    BJÃO BRANCA/PRETA...
    GOSTEI DO EXCELENTE TEXTO.

    UÉLBER SANTOS

    P.S: PRECISO TOMAR UMA TO FICANDO LOUCO!!!!!
    RSRSRSRSRS

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  6. Olá Simone!

    Seu texto é excelente. E isso aí! Temos que lutar pela libertação do nosso corpo e da nossa mente o tempo todo.

    Valeu pela reflexão.

    Uma abraço.

    Ps: Tô curiosa, qual será o próximo?

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  7. É Welber, as questões são mas profundas do que imaginamos, estava lendo Emilia Viotte esses dias e parei para refletir em cima do nome do livro "Da senzala a colônia", esse ranço patrimonial e patriarcal que nos cerca vem de muito longe.

    Sobre as mulheres que retiram as queixas de seus agressores, faço uma analogia ao racismo, foram mais de 300 anos de escravidão, foram mais de 300 anos os negros/as desse "Novo Mundo" ouvindo que para "civilizar-se" era necessário embranquecer, empoderar-se da negritude é algo que vem sendo construído de maneira paulatina, mas eficaz. Enquanto que empoderar-se da feminilidade é algo que tentamos (digo enquanto mulher) construir, mas ao contrario da escravidão à brasileira, as mulheres vem sendo relegadas a segundo plano desde a Grécia Antiga, onde as mesmas nem eram cidadãs, com isso, não quero dizer que as mesmas são coitadinhas, mas é que como bem sabemos mudar as idéias (superestrutura) é muito mas difícil do que a estrutura.

    Só nos lembramos dessas lutas no 8 de março, como bem lembrado por você, e é preciso muito mais do que para buscar a tão sonhada emancipação.

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  8. Ah! As tintas agente mistura quando você quiser, rsrsrsr.
    E a cerveja é só marcar. Parabéns pela pós, estou seguindo seus passos, mas não discuto gênero na minha pesquisa.
    Beijão.

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  9. eu quis dizer mudanças drásticas em todas as estruturas, (seja ela super, infra, mega rsrsrs)
    na verdade até as proprias feministas (digo as parlamentares) só invocam essa luta no 8 de março!!!

    eu tbm não discuto genero na minha pesquisa...
    estou fazendo pos graduação em literatura brasileira e relações raciais...
    infelizmente ainda não terminei o curso de história...
    está apertado pra mim.
    mas com certeza vou fazer um esforcinho para terminar

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