sexta-feira, 20 de março de 2020

O que tem levado o Brasil a uma situação de calimidade?!

Em tempos de Covid-19, tenho pensado muito nessas questões: afinal o que tem levado o Brasil a situação de empobrecimento generalizado e risco de dizimar boa parte de sua população? Será que o povo brasileiro esta realmente retrocedendo?  Há realmente uma onda de "imbecialização" em curso? Por que no resultado das últimas eleições presidenciais, foi eleito um ser, que agora sem partido, mesmo antes não tinha projeto para a nação?

Certo dia minha sogra, após uma fala minha sobre o covid-19, me perguntou o que uma doença tem haver com política? A inocência por trás da questão não é presente somente nela, tenho visto muita gente perguntar sobre isso, o que faremos dentro de casa, se não sairmos para trabalhar, como vamos sobreviver? 

A resposta do governo brasileiro foi na contramão de outros líderes mundiais, de acordo o que tem dito alguns meios de comunicação, os políticos brasileiros disseram, "olha para não ser demitido, você vai para casa e eu corto seu salário pela metade, se você é autônomo te pago uma bolsa de 200 reais, ou na máximo R$300,00 e tudo resolvido, socorreremos o empregador, das multinacionais e conglomerados, ele precisa mais do que você, pois ele tem que manter seu emprego (dentro de relações precárias)". 

Tem uma música de Gonzaguinha "comportamento geral" que é muito significativa para pensar a questão junto com outras variáveis. Primeiro me pus a pensar o que é calamidade, recorri ao dicionário, que me apresentou dois conceitos: 
  1. 1. grande perda, dano, desgraça, destruição, esp. a que atinge uma vasta área ou grande número de pessoas; catástrofe.
  2. 2.
    FIGURADO (SENTIDO)FIGURADAMENTE
    grande infortúnio ou infelicidade pessoal.

Acredito que ambas explicam o Brasil dos últimos 4 anos, tendo em vista que penso ter começado essa calamidade em 2016 e o alinhamento político econômico com esquemas ultraliberais que foram surgindo no mercado financeiro internacional antes disso. Ao mesmo tempo na relação material da cultura que sempre esteve presente em nossa elite política e econômica que Jessé Souza chamou de "a elite do atraso". 

E então como a música, as questões e as ideias que venho apresentando se articulam, na minha leitura de mundo é simples, perversidade, numa leitura mais atenta de Gilberto Freyre, é assim que ele vai descrever culturalmente e psicologicamente o povo brasileiro em "casa grande e senzala", não vou debater aqui os pormenores da teoria dele, mas penso em algo que muito discuti numa das primeiras disciplinas do mestrado que fiz "cultura e sociedade brasileira". 

Foram tantos anos de normalização de uma ordem social estamentária e escravagista que os brasileiros, ricos e pobres, livres e escravos se acostumou com a perversidade do regime, e quando as bases republicanas foram instaladas pensou-se a cidadania de alguns e a exclusão de outros sujeitos, analises como essa é impossível deixar de fora para pensar o Brasil, seja de ontem ou de hoje. 

E quando Gonzaguinha analisa em sua canção "comportamento geral" vejo muito das teorias de formação da sociedade brasileira presentes. E, a aceitação calada da população que depende do salário mínimo para sobreviver se torna justificável. Dizem muitos por aí, até eu de vez em quando, é a ignorância, o povo brasileiro é um povo ignorante. Mas penso, será que é mesmo? Ou é um povo que se acostumou com as migalhas, para um dia deixar o estamento do oprimido e assumir o estamento do opressor, tendo em vista que somos assim educados a mais de 500 anos?

Parece que os questionamentos para pensar o Brasil nunca se encerram, estou aqui nessa escrita livre-reflexiva e pensando, será que a estratégia do governo brasileiro em cortar os salários dos mais pobres para pagar a conta do ricos, classe social em que o surto pandêmico começou aqui, é a estratégia pensada pelo mesmo para manter os estamentos como deseja a nossa "elite do atraso" de acordo Jessé Souza, é estrategia política para não cair diante dos "panelaços" como caiu a antecessora?

Afinal o que deseja a classe média brasileira, é ser um país progressista ou conservador? Isso tá começando a confundir minha cabeça e as leituras que tenho feito, por que quando penso que a raiz do humanismo e do humanitário é presente nos debates atuais, sobretudo após Covid-19, vejo a impressa e os interesses políticos do capital privado chamar os recursos públicos de contenção da doença de "gastos" e a vida humana se reduz ao preço do dólar e a especulação das bolsas de valores. 

Sim, acredito na força política do amor e da fraternidade entre os povos, mas em se tratando de Brasil, ainda não consigo ver a humanidade ser escolhida em detrimento de interesses comerciais e daquela perversidade naturalizada e enraizada na cultura material que faz os "cidadões" (errado assim mesmo) comprar três carrinhos de supermercados de álcool em gel, enquanto moradores em situação de rua e favelados não tem nem saneamento básico essencial. 

É burrice da classe média brasileira que se pensa elite e não se assume classe trabalhadora? Ou fruto da estupidez humana bastante ensinada para consolidar os capitalismo ultraliberal das últimas décadas?

Parece que saio desse texto com mais questões do que entrei nele, segue a música de Gonzaguinha. 

https://www.youtube.com/watch?v=Cokqqpb8fCE 

Simone dos Santos Borges 
Historiadora e Cientista Social 

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