terça-feira, 15 de novembro de 2011

Será que minha crise tem haver com a crise mundial?

Preciso responder essa pergunta com um sim. Não sei se explicaria direito, mas se eu tentasse entender as relações humanas enquanto um organismo vivo, doente, então, sim, minha crise tem haver com a crise global política, social e econômica que o mundo atravessa.

Uma vez em uma das muitas palestras que assisti, ouvi um professor dizer: "eu só percebi que o mundo, o meu mundo pessoal e particular caiu, quando as torres gêmeas o World Trade Center foram atingidas pelo Talibã", dizia ele, foi quando ele de fato percebeu o fim da Guerra-Fria, o fim do sonho socialista, a vitória tosca do capitalismo, e também, quando ele se perguntou o que é a individualidade, a liberdade?

Até parecia um discurso iluminista. Bom, não sou tão velha assim, talvez sensível demais, mas ainda sou dos poucos que nasceram sob o regime militar no Brasil, sob o signo dos movimentos sociais dos finais dos anos 80, da vitória burguesa nos anos 90 do seculo XX. Ou seja, estou dizendo que nasci numa época de transições, rupturas nos discursos e movimentos politico-sociais, de crises econômicas do tipo rápidas.

Na minha primeira infância se falava em subdesenvolvimento e desenvolvimento, na fase final dela isso mudou passamos a dizer: em desenvolvimento, emergente e desenvolvido. Os países deixaram de ter aquela conotação "senso comum" de território e cada vez mais a ideia de bloco econômico, social e político se tornaram uma realidade. Um homogêneo que cada vez mais fica heterogêneo, individual, particular, ou devo dizer, singular. O nacional, passou a ser multinacional, pluricultural e diverso. Complexo, dificílimo de entender, quanto mais escrever.

Em 1994, eu tinha 10 anos. Porra! Vi o Brasil ser Tetra Campeão do Mundo no futebol, até hoje sinto vontade de chorar quando vejo as cenas, confesso que não sei explicar o por que dessa emoção, nunca entendi, só sei que sinto, resolvi não questionar mais. Foi nesse ano que, também, aconteceu o Plano Real, plano econômico que salvaria o Brasil da crise em que estava afundado, nessa época eu não sabia o que era inflação, só sentia o peso dela, quando queria uma sandália da Barbie, mas o máximo que dava era havaianas de, pasmem, 0,50 centavos, isso no tempo que a elite não valoriza o produto nacional, hoje vai ver o preço de uma havaianas, faz tempo que não compro uma original, só as imitações.

Moeda forte, economia forte, era a mania dos "tomagushi", mini-games, poco-ball, das propagandas e brinquedos mirabolantes da "Estrela", e junto com a novidade tecnológica da internet, surgia FMI, MERCOSUL, ALCA, junto com outras coisas que, também, não entendia, AIDS, Camisinha, sexo, anticoncepcional, ouvia tudo isso, mas não sabia direito o que era por que meus pais tentavam esconder, me levavam pra Igreja, mas esta não conseguiu vencer o "power" televisivo, que conseguiu fazer mais barulho na minha cabeça que a doutrina cristã protestante. Eh! Meus esqueceram de desligar a televisão. Isso me faz pensar na geração atual, o que os pais de hoje fazem para manter longe dos: dedos, olhos e ouvidos a INTERNET território livre de fronteiras? Pois é meu povo, ela superou a TV.

No meu caso a Igreja não venceu, a força da televisão e o barulho que ela fazia era maior, daí para chegar aos livros e (ao demônio) Karl Marx foi um tapa, a dialética, a História Cultural, o hibridismo, as relações liquidas de Bauman. Freud, Lacan, pior do que tudo isso, foi Simone de Beauvouir me mandando emancipar o corpo, aí vieram teorias queer, estudos culturais, marginalidade, e a desgraça a quatro. Enfim, meus pais não foram derrotados de tudo, pois segui um ordenamento bíblico: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", foi isso, meu cérebro ferveu, e, ainda ferve, de ideias. Por isso que escrevo esse blog.

Por um tempo essa ideia de libertação me supriu as necessidades, quando descobrir que não existe verdade e sim verdades, comecei a ter crises identitárias, só percebi ser mulher aos 20 anos, antes dessas leituras a única diferença, pra mim, entre homens e mulheres era: meninas tem vagina, meninos tem pênis. Foi nos portões, porões e salas da academia que me fiz "ser", dotada de existência, deixei e vegetar. Mudei muito quanto individuo no mundo. Isso se chama Alteridade.

Quando olho para trás e vejo quem era, percebo que adentrei a um mundo burguês, capitalista, que até hoje não sei direito do que se trata, vejo aí um monte de gente escrever sobre ele, dizem que ele é ruim, de fato na maior parte das vezes ele é perverso. Nesse caminho de mudanças entendi o que é ser heterossexual e homossexual , ai rompi com mais um pré-conceito, mas, admito tudo muda muito rápido, ainda não sei o que será do século XXI e confesso que não consigo acompanhar o raciocínio dos especialistas que especulam sobre o que será deste século. Ele já chegou pra gente com uma guerra no Oriente Médio, uma crise econômica no setor imobiliário norte americano que desgraça ainda mais quem é pobre aqui no Brasil, um vírus novo, H1N1, e as pessoas começam a reivindicar direitos meios estranhos, como a marcha da maconha no Brasil, será que os especialistas sacaram essa no século passado?

Com tudo estou em uma nova crise, por que com a emancipação feminina esqueceram de me avisar que ser mulher periférica não me dá condições reais de pensar a sociedade que vivo, não tenho competência para isso de acordo com os padrões heteronormativos ainda vigentes no seculo XXI, tento todos os dias numa luta, que já não sei mais contra o que é, me afirmar como mulher e me manter competitiva nesse mercado capitalista que todo mundo estudo, fala, escreve, vive, sente... Que parece estar fora, mas que no organismo vivo destas relações, minha crise acaba, também, sendo a crise "identitária da globalização" no mundo. Não sou apenas eu, pobre mortal que ninguém conhece em crise, acho que tudo esta em crise.

E no bojo de tudo isso se meu pensamento estiver errado, fica ao menos o consolo de saber que alguém pode discordar de mim, de "saber que nada sei", que preciso "duvidar para conhecer", ou ao menos que ainda posso pensar com uma certa liberdade, visto que podem me tirar isso também.

Simone dos Santos Borges
Escrito em 03/11/2011 durante a aula de Política II  do curso de Ciências Sociais da UFBA.

 

3 comentários:

  1. Bom, que vc prestou atenção na aula eu duvido, mas que rendeu um ótimo pensamento... Com certeza!
    Ah! sua primeira foto ta perfeita para o post!

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  2. O pior é que eu prestava atenção, o professor falava e eu refletindo, e escrevendo, quando vi já tinha sido o texto. Acho que vou escrever um livro de crônicas, antes de um livro cientifico (rsrsrsr).

    As fotos são para mostrar a dicotomia entre quando estou bem e quando não estou.

    beijos.

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  3. Estou impressionado. Será que nossa crise tem haver com estarmos envelhecendo? (Rsss) Porque vou te dizer viu, nasci em 82 e acompanhei meio mundo de coisas que você citou. Tô acabado!(Rsss)
    Mas é o seguinte Si, não pense que é papo de religios0, a verdade é que este mundo está indo de mal a pior. Tá descendo uma ladeira que não tem mais tamanho.
    Sobre a questão da religião de uma forma mais popular, não me considero "religioso", tenho um relacionamento com Deus de forma pessoal e por isso posso dizer que tenho uma posição totalmente equilibrada quanto a isto. Examino sobre tudo que me é apresentado, questiono e por fim concordo ou discordo.
    Apenas quero lhe dizer sem alienação ou fanatismo, que Deus compreende você em tudo e o que ele mais quer é o seu bem, nunca esqueça isto.
    Aquele abraço garota.

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